Passava alguns minutos das doze horas da sexta-feira, 25 de janeiro de 2019, quando a barragem da Mina Córrego do Feijão rompeu e provocou uma avalanche de lama ao despejar 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A barragem localizava-se próxima a Brumadinho, 57 quilômetros de Belo Horizonte. Como em Mariana, em 2015, um mar de lama cobriu a área administrativa da Vale, o povoado, estradas e o rio mais próximo.
O desastre humano foi maior por conta do horário do rompimento da barragem, próximo ao meio-dia, portanto, hora de almoço. Muitos funcionários estavam no restaurante que foi a primeira estrutura ocupada a ser atingida pelos rejeitos. Não, por acaso, infelizmente, foi lá que ocorreu a maior concentração de mortos. A tragédia completa hoje, 25, dois anos. O fato levantou a discussão sobre a segurança de barragens no Brasil. Brumadinho foi o segundo rompimento em Minas Gerais em pouco mais de três anos (intervalo entre a tragédia de Mariana, em 2015, e o citado). No Brasil, há cerca de mil barragens.
A dimensão dessa tragédia anunciada, resultado de um modelo de mineração predatório adotado pela Vale, é também ambiental. Não há mais possibilidade de vida no rio Paraopeba ou até mesmo em suas margens, apesar de diversas ações reparatórias que foram anunciadas. Suas águas claras, após o crime da Vale, se tornaram um mar de lama, e mesmo dois anos após o ocorrido, o rio continua impróprio para qualquer atividade. O rio Doce, mesmo após quatro anos, ainda é poluído e improprio para uso. Assim como Brumadinho, a tragédia ocorrida em Mariana, ninguém foi responsabilizado. Os impactos sociais e ambientais não foram contornados.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), são mais de 700 barragens consideradas de “alto risco” no Brasil e outras 45 estão com as estruturas comprometidas. Quantas tragédias como a de Brumadinho e Mariana poderiam ser evitadas? Até quando tantas pessoas ainda serão vítimas desse modelo de mineração que privilegia o lucro em detrimento de todas as formas de vida?
Pouco tempo após a tragédia, através de investigações, descobriu-se que a Vale foi alertada sobre falhas nos procedimentos de controle e manutenção da barragem que se rompeu em Brumadinho, mas omitiu as informações para a população. Em seu Relatório de Impacto Ambiental, apresentado em 2017, a empresa cortou uma tabela importante que alertava para os riscos, produzida para um relatório de 2015. O documento de 2015 é o mesmo que serviu de base para a versão mais recente, de 2017, apresentado sem as informações sobre os riscos da barragem.
Os problemas na barragem foram identificados por uma consultoria contratada pela mineradora, a empresa Nicho Engenheiros Consultores Ltda, uma firma de Belo Horizonte com atuação nesse mercado desde 1990. O site Intercept à época conversou com o dono da Nicho, o engenheiro Sérgio Augusto da Silva Roman, que assinou o estudo de impacto de Brumadinho como responsável técnico. A Vale precisava dos laudos para expandir a mineração em Brumadinho.
A grande imprensa já deixou o caso de lado. Outras pautas assumem a dianteira. Brumadinho torna-se rapidamente passado, com cada vez menos cobertura jornalística. É exatamente Mariana sendo atualizada da pior forma possível com o ocorrido em Brumadinho. E assim como na primeira tragédia, em 2015, a que completa hoje (25) dois anos, novamente voltará a cair no esquecimento, sem que os responsáveis sejam punidos. Melhor para a Vale. Vida que segue para a segunda maior mineradora do mundo.