Ciro precisa “envelhecer”

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O ato de envelhecer fisiologicamente é algo inerente ao controle humano. Todos passam por isso. Todavia, precisamos envelhecer também mentalmente, para que esse processo natural nos traga experiência, nos proporcione sabedoria. Ciro Gomes tem um dos currículos mais invejáveis dentro da esfera pública brasileira. Foi prefeito, deputado estadual, federal, governador e ministro de Estado. Poucos tiveram a trajetória do cearense, que nasceu no interior de São Paulo. Ainda falta a Gomes ser Senador e presidente da República, cargo que almeja desde 2002.

No início deste milênio, se tinha certeza de que Ciro seria, inevitavelmente, o mandatário nacional, após a Era Lula. O petista poderia escolher o seu substituto entre seus auxiliares, como o fez. Ciro foi ministro no governo petista. Todavia, Luiz Inácio escolheu a então ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que nunca havia disputado uma eleição, para a sua sucessão.

Mesmo preterido, Ciro continuou a apoiar o governo. Esteve ao lado dos que defenderam Dilma contra o processo de impeachment. Sempre fez referência a ex-presidente como uma pessoa honrada, e que o processo de afastamento que sofreu era um golpe institucional.

O ex-governador cearense cansou. Sua ruptura com o petismo se deu no processo de escolha de quem seria o substituto de Lula, quando o petista estava impossibilitado de concorrer a eleição de 2018, por ter sido condenado em segunda instância. A escolha do ex-presidente foi por Fernando Haddad, seu ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo. Os bastidores contam que Ciro foi convidado para ser vice na chapa, o que não aceitou logo de cara. No segundo turno daquela eleição, ele viajou a Paris e não participou do processo eleitoral.

Em mais uma tentativa em ser presidente da República, Ciro se lança agora pela quarta vez, se colocando como representante do que se chama hoje de “terceira via”, uma alternativa frente a polarização entre Bolsonaro e Lula. Entre os possíveis candidatos deste campo ao centro, o ex-governador cearense lidera nas pesquisas.

Sempre votei em Gomes. Tenho em minha estante de livros, duas obras do citado. Inegavelmente, o ex-governador cearense é um dos mais bem preparados políticos do país. Trata diversos temas de forma profunda, em especial os da seara econômica. Por outro lado, – e como é sabido de outras épocas – Ciro se auto sabota. Em diversas oportunidades, foi infeliz em inúmeros comentários. Tem uma característica que recentemente ficou evidente: é misógino.

Na semana passada, mesmo após ter proposto um acordo de paz com Lula, o ex-governador voltou a atacar o PT. Voltou a sua artilharia contra a ex-presidente Dilma Rousseff, que não se calou e ambos protagonizaram um triste processo dialético nas redes sociais. Ciro conseguiu com a sua atitude perder apoiadores e ser taxado como machista, uma referência que já lhe é feita há tempos.

Gomes precisa envelhecer. Precisa deixar de ser revanchista, como um adolescente contrariado. Seu erro maior foi ter colocado na cabeça que seria a todo modo, de qualquer forma, presidente do Brasil. Política é circunstância. As escolhas de Ciro, assim como suas atitudes, o tiraram do Palácio do Planalto. Precisa aceitar que, talvez, não realize o seu sonho de menino. Sua competência não pode ser sabotada por instintos sem controle, que promovem, por exemplo, acusações sem o mínimo de fundamento.

Votei em Ciro Gomes em 2018. Na verdade, toda vez que concorreu à Presidência da República, teve o meu voto. Hoje desistir de apoiá-lo. Não irei mais depositar o meu apoio eleitoral em alguém que só envelheceu na idade, mas mantém posturas reprováveis. O ex-ministro é, ao meu ver, um dos maiores desperdícios da política brasileira. Quem perde com a sua pequenez política é o Brasil. Ciro Gomes precisa envelhecer, talvez, já seja tarde e isso tenha lhe custado seu sonho.

A estratégia do marqueteiro João Santana – um dos profissionais mais competentes da área no Brasil – de tornar Ciro Gomes um político mais ligado aos jovens, mais descolado, tenha tornado o ex-governador mais rebelde do que era de costume. A ver. Desistir de Ciro Gomes.

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