Copom deve manter Selic em 10,5%, apontam especialistas

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciará, nesta quarta-feira (31), sua decisão sobre a taxa de juros. Para entender a expectativa do mercado diante do atual cenário econômico, a CNN ouviu especialistas do setor financeiro que, em maioria, apontaram para a manutenção da taxa Selic.

Para o economista-chefe da XP, Caio Megale, o Copom deve manter, por unanimidade, a taxa em 10,5%.

“É um nível em que a taxa de juros já está acima da neutra, então já está contracionista. Está segurando a economia e trazendo a inflação para baixo. E isso é importante, porque como a inflação está acima da meta, a política monetária precisa ser ainda contracionista. Por isso que não tem mais espaço, pelo menos no curto prazo, para cortes”, analisa Megale.

O economista-chefe da XP aponta ainda que o Copom deve ser mais duro na comunicação ao apontar manter o juros parado, tendo em vista que, desde a última reunião, a taxa de câmbio voltou a se depreciar e as projeções de inflação continuaram desviando da meta. Neste sentido, a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, também espera que a taxa seja mantida em decisão unânime.

“Acreditamos que as inflações do modelo do Bacen apresentaram alta significativa em relação à decisão de junho, principalmente devido à depreciação cambial recente. Esta alta das projeções no cenário de referência e alternativo deve manter a preocupação do mercado com a inflação e, consequentemente, a precificação de alta de juros à frente”, analisa Pinheiro.

Ela aponta que o Conselho deve ressaltar a melhora na margem do cenário externo, ainda que mantendo as incertezas domésticas sobre os impactos do mercado de trabalho apertado, da atividade econômica mais aquecida sobre a inflação e o reequilíbrio das contas públicas. Na mesma linha, Sergio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, também espera pela manutenção da meta Selic em 10,5% sob decisão unânime.

Goldenstein analisa que a decisão seguiria a sinalização anterior de que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não só o processo de desinflação como a reancoragem das expectativas.

“Ao mesmo tempo, não vemos espaço para uma eventual indicação de elevação dos juros, pois o Comitê não deve se guiar por flutuações de curto prazo da taxa de câmbio”, completa.

A taxa de câmbio utilizada no cenário de referência do último Copom era de R$ 5,30 e, agora, segundo o economista da Warren, deve ficar na casa de R$ 5,55, afetando as projeções de inflação. Sobre o recente movimento de desvalorização cambial, ele aponta ainda que difere do observado na reunião de junho.

“Enquanto antes um dos principais fatores foi o aumento do prêmio de risco por conta do agravamento dos temores com relação ao quadro fiscal, a depreciação adicional desde então pode ser atribuída mais a fatores conjunturais e não deve ser vista como permanente”, avalia Goldenstein.

À CNN, a diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI), Vilma da Conceição Pinto, também previu que o Copom irá manter os juros nesta reunião.

“Mas acho que a sinalização para as próximas será muito importante. Um ponto de atenção é a piora na expectativa de inflação para este ano e o próximo”, pondera a diretora do IFI.

Projeções de pesquisas

A BTG Pactual realizou uma pesquisa pré-Copom com 92 participantes do mercado financeiro. Deste total de entrevistados, 84% julgam que o comitê manterá a Selic em 10,5% ao ano. Enquanto isso, 10% esperam manutenção com dissenso. Sobre a abordagem do próximo Copom, cerca de 51% dos pesquisados afirmaram crer que a comunicação virá sem orientação futura, mas com assimetria do balanço de riscos de pelo menos parte do Comitê.

Enquanto isso, a Equus Capital, com o Índice Equus de Precificação da Selic (IEPS), que usa Inteligência Artificial para coletar e analisar dados, também estimou a probabilidade indicada pelo mercado de alteração na próxima reunião do Copom. Atualmente, o IEPS indica uma probabilidade de manutenção de 99,6%.

Sobre o resultado, o head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital, Felipe Uchida, aponta que “o impasse sobre a desoneração da folha salarial de empresas e municípios ameaça o objetivo do governo de alcançar déficit primário zero este ano”.

Nesse cenário, essas incertezas diminuem a probabilidade de um corte de juros nesta semana”, finaliza Uchida.

Com informações de Carol Raciunas – em colaboração com a CNN Brasil

Imagem: Reuters

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