A relação exterior é uma das áreas mais importantes para um país. Em um mundo globalizado, de economias interligadas, as ações de ordem diplomática são de suma importância, algo estratégico. Ernesto de Araújo assumiu o Ministério das Relações Exteriores sob olhares atentos, justamente por ter histórico e perfil de extrema-direita, ou seja, mudaria consideravelmente os rumos do Itamaraty. Chegou ao posto máximo da diplomacia brasileira muito mais por questões ideológicas do que profissionais. Seu currículo consta assessor, secretário e subchefe de gabinete. Nunca foi, por exemplo, embaixador.
Inegavelmente, o Itamaraty tornou-se desde a chegada de Araújo, um reduto ideológico, este alimentado pelas ideias de Olavo de Carvalho. Muitos dizem e que foi tratado por este Blog que, Araújo, na verdade, não manda no ministério que chefia. Quem da a ultima palavra por lá é deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.
O alto teor ideológico presente na citada pasta, vem causando diversos problemas à diplomacia brasileira. A começar pela relação direta com outros países. As nações que não estejam alinhadas com o que pensa e prega o bolsonarismo, o governo tende a criticar e cortar relações, mesmo que isso, logo à frente produza um retrocesso econômico-comercial, ou até mesmo a revisão de narrativas, como no caso da China. Bolsonaro se elegeu criticando os chineses durante a sua campanha, acusando os orientais de querer “comprar” o Brasil. Já na condição de chefe da nação, voltou a criticar a China. Teve que voltar atrás e pedir desculpas ao país. Percebeu algo lógico: no atual estágio da globalização, a economia brasileira “quebra” sem relação comercial com o mercado chinês, o nosso maior parceiro comercial.
Em relação aos países da América do Sul, a diplomacia brasileira vive momento difícil, de muitos atritos. Alguns desses vindo do próprio presidente. Foi assim ao emitir críticas a Nicolas Maduro, e apoiando o então “autoproclamado” presidente Juan Guaidó. Apoiou a queda de Evo Morales, na Bolívia. Deixou claro o apoio a Macre, mesmo com este à época com clara evidência de derrota na eleição presidencial. Não visitará e nem receberá o presidente eleito na Argentina, Alberto Fernandez. Bolsonaro criou crises com China e Argentina, respectivamente, o primeiro e terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Uma tragédia diplomática sem precedentes. O presidente brasileiro trata a relação do Brasil com outros países restritamente por sua ótica pessoal e não colocando os interesses do país à frente.
O caso mais emblemático e até vexatório foi a indicação pessoal o mandatário nacional do próprio filho ao cargo de embaixador em Washington, a representação diplomática mais importante do Brasil fora de seu território. Claramente, Eduardo não tinha as prerrogativas mínimas ao cargo, mas seria alçado por conta da relação dos Bolsonaro com os Trump, e porque o deputado federal do PSL já havia fritado hambúrguer em solo americano. Ele não tem, por exemplo, formação em Relações Internacionais, economia, geopolítica, e muito menos cursou o Instituto Rio Branco, que forma diplomatas e embaixadores, em uma seleção disputadíssima e super rigorosa. Foi percebido pelo clã Bolsonaro que Eduardo não teria votos suficientes no Senado Federal, portanto a “aventura” familiar foi abortada, pelo bem do Brasil. Sobre o tema, há dois artigos escritos neste Blog. Clique nos títulos para acessa-los: “E aí, Senado?” e “O ’03’ em Washington”
Recentemente por conta das críticas que o governo recebeu de diversos países europeus no caso do aumento substancial do desmatamento e queimadas na Amazônia, Bolsonaro entrou em atrito direto com Emmanuel Macron, presidente da França e, em seguida, com Ângela Merkel, a chanceler alemã. Outro ponto interessante a ser analisado sobre o tema diz respeito às aproximações da diplomacia brasileira, esta guiada, nestes casos, diretamente pelos interesses do mandatário da nação. A questão está relacionada diretamente aos Estados Unidos e Israel. O presidente brasileiro se coloca como “irmão” de Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Ambos em situação política desconfortável.
No caso americano, a nossa diplomacia só teve revés. Foi assim como a indicação que não se concretizou, mas que havia a promessa americana de apoiar a entrada de nosso país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma das plataformas de atuação de Araújo a frente do Itamaraty. Perdemos a indicação e vimos a Argentina ingressar no referido grupo. Flexibilizamos o acesso americano ao nosso território e ganhamos o quê? Acabamos de ter o nosso aço sobretaxado pelos Estados Unidos, o que causará (por mais que o presidente brasileiro amenize tal decisão) grande impacto a economia brasileira. Portanto, como se sabe, os americanos são os mais
Já Israel, país que o presidente brasileiro deposita muitos esforços, é só, segundo dados do Ministério da Economia, o citado país é apenas o nosso 56º parceiro comercial em volume de exportação, representando apenas 0,17% no volume total de nossas exportações. A relação entre os dois países é atualmente vantajoso aos israelenses, gerando, portanto, deficit comercial ao Brasil. Portanto, Jair Bolsonaro deposita tamanha importância ao Estado judeu por outros motivos, menos o comercial.
Como pode-se ver, no governo Bolsonaro, a política externa é um fiasco. Os mais experientes da área e até os diplomatas mais renomados do Itamaraty estão perplexos com os rumos de nossa diplomacia, considerada por alguns como amadora. A imagem do Brasil no exterior é a pior possível, fruto de decisões e narrativas desastrosas. E pior que estamos tratando de uma área em que o Brasil sempre teve destaque pela formação de seus representantes. A competência do Instituto Rio Branco é reconhecida mundialmente. Toda essa formação técnica está sendo jogada no lixo por uma diplomacia amadora.