Diversos veículos de comunicação nos últimos dias apontaram que o alto comando militar, composto pelos comandantes das Três Forças (Aeronáutica, Exército e Marinha) já não estão tão alinhados como antes com o presidente Jair Bolsonaro (PL). De concreto está a postura do general Paulo Sérgio de Oliveira, Comandante do Exército, que na semana passada divulgou as diretrizes para o combate à Covid-19. Entre as orientações que os militares devem seguir, estão a vacinação para quem retornar ao trabalho presencial, o distanciamento, o uso de máscaras e a proibição de espalhar fake news sobre a pandemia.
Tais recomendações vão de encontro ao que o mandatário nacional defende. Claramente, a decisão de Oliveira, muito acertada e coerente, criou insatisfação em Bolsonaro. Não se pode esquecer que o presidente é um militar, e sempre deixou claro a sua proximidade e controle sobre as Forças Armadas, que aliás, nunca se fizeram tão presentes em um governo desde o fim da ditadura militar. Esperava-se, portanto, um enfrentamento de Bolsonaro, desautorizando tais medidas, o que não aconteceu. Essa atitude precisa ser melhor compreendida? Por que o presidente não fez valer suas convicções contra um auxiliar? Por que não exigiu que fosse descumpridas tais medidas? Em último caso, por que não exonerou Paulo Sérgio do comando do Exército? É de se estranhar, haja vista, que Bolsonaro é fomentador de crises e conflitos.
Segundo matéria do site DCM, a cúpula das Forças Armadas detonou os ataques do presidente contra o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres. O almirante, em nota de tom fortíssimo, reagiu às insinuações de Bolsonaro contra a agência dizendo que o presidente, se sabe de algo, deve falar claramente o que tem contra ele e à Anvisa porque, do contrário, estará prevaricando.
Como é sabido, as Forças Armadas sempre foram vistas como sendo um grande alicerce do governo Bolsonaro. Ficou-se à espreita se um golpe militar poderia ocorrer – tamanho era o apoio ao governo – em especial no último dia 07 de setembro de 2021. Se esse distanciamento entre os militares e o Palácio do Planalto for verdade (o que pode no caso das diretrizes do Comando do Exército ser um fato isolado) será uma grande baixa política ao presidente Jair Bolsonaro, que já não vem, segundo diversas pesquisas, apresentando boa avaliação.
Ou será que, finalmente, as Forças Armadas perceberam o desgaste de continuar a servir a um governo, deixando de ser instituições de Estado, que tem como objetivo principal garantir a democracia? Cabe, portanto, acompanhar com atenção os desdobramentos que envolvem essa relação para se saber se é um estresse isolado ou, de fato, há o encaminhamento desse distanciamento. A ver.