Deslizes narrativos II

Em maio de 2022, quando ainda não se tinha a certeza oficial que o então ex-presidente Lula (PT) iria concorrer mais uma vez à Presidência da República, o petista vivia, naquele momento, o que chamei à época de deslizes narrativos, pelo excesso de erros dialéticos que o citado vinha cometendo de forma sucessiva, com um detalhe preocupante: a poucos meses do processo eleitoral.

O ex-presidente vinha pisando em “casca de banana” ao tratar de alguns temas. Segurança pública, aborto, liberdade, estavam na lista das “escorregadas” lulista. Claramente, a situação foi provocada por adversários e por grandes setores da mídia, que, convenhamos, nunca morreram de amor por Lula. De forma reservada, aliados do então pré-candidato petista, avaliavam que as declarações foram fruto de excesso de confiança, com a possibilidade de vitória em primeiro turno, o que – como se sabe – só ocorreu no segundo turno.

Desde quando venceu pela terceira vez a eleição, Lula vem em confronto aberto com o mercado financeiro, acusando as grandes corporações econômicas de só pensarem no lucro e nada fazerem pelo social. O que, digamos, é a mais pura verdade. O centro do debate era o “teto de gastos”, que impõe ao governo limite de gastos, em especial em saúde e educação. Digamos que esse ponto não é novidade na relação de Lula com o sistema econômico vigente.

Mais recentemente, o mandatário nacional andou afirmando que o caso que envolve a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) tinha um plano de sequestrar e até matar importantes personalidades dos campos policial e político, que incluiria o senador Sérgio Moro (UB). Apesar da Polícia Federal confirmar tal pretensão, com diversos nomes, a grande mídia focou no nome do ex-juiz de Curitiba, que aproveitou e “surfou” politicamente na situação. Por outro lado, o governo se apressou logo para dizer que tudo não passava de uma armação e que Moro estaria arquitetando isso.

Para quem acompanhou a Operação Lava Jato e depois a “Vaza Jato” (vazamento de conversas realizadas através do aplicativo Telegram entre o então juiz Sérgio Moro, o então promotor Deltan Dallagnol e outros integrantes da Operação Lava Jato) divulgada em 2019, sabe que ex-magistrado não tem moral para questionar nada no que diz respeito à integridade moral e jurídica de alguém.

Todavia, mesmo que Moro tenha, por exemplo, arquitetado essa questão que o envolve junto ao PCC, e a ligação deste ao Partido dos Trabalhadores (PT), algo que não há nenhuma ligação comprovada, não caberia a Lula “comprar essa briga” e criar narrativas públicas em ataques direto ao seu desafeto, o senador do União Brasil. A postura de ataque e de questionamento de Lula é válida, mas deveria ter sido feito de forma reservada, em conversas com os seus auxiliares mais diretos, e não levá-lo à mídia, que teria postura esperada: a de dar visibilidade ao ex-juiz, como assim o fez.

Luiz Inácio se sobrepôs a Lula 

Por outro lado, há de se considerar que, Luiz Inácio e não tanto Lula, ainda nutri muito rancor pelo hoje senador Sérgio Moro. Foi ele, na condição de juiz de primeiro grau, que condenou sem provas o agora presidente, e o fez ficar 583 dias preso em uma cela especial na sede da Polícia Federal do Paraná. Luiz Inácio sempre se colocou na condição de inocente. Todos os seus processos que estavam sob a órbita de Moro, foram anulados. Mas enquanto esteve preso, Luiz Inácio não pode se despedir de Dona Marise, sua ex-mulher; de seu irmão e de seu neto, que morreram enquanto ele estava no cárcere.

De todo modo, Lula deveria evitar falar de forma desnecessária, mesmo que ele seja humano e que esteja claro que o seu adversário está se aproveitando politicamente do fato, mas o presidente não deveria dar “palco” a Sérgio Moro. Neste momento, sem Jair Bolsonaro, tudo que Sérgio Moro quer é holofotes. Algo que Lula lhe deu de forma gratuita.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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