Enquanto o PSDB agoniza em praça pública, à beira da extinção após anos de desgaste e perda de relevância, é impossível para qualquer paraense atento à política local não recordar o período em que o partido exercia seu domínio sobre o Estado.
Durante duas décadas de governos tucanos – intercaladas por quatro anos de uma gestão fragilizada da petista Ana Júlia —, o Pará foi tratado como uma espécie de colônia interna: um território vasto e abundante em riquezas naturais, mas relegado à condição de periferia política do Brasil. Era o tempo em que o Estado aparecia nas manchetes pelas tragédias sociais, pelos conflitos no campo, pelo colapso urbano na Amazônia. Visto de fora como exótico, útil para exploração, mas irrelevante para as decisões centrais do país. Um Pará silenciado, que produzia muito, mas decidia pouco.
Nesse período, uma das maiores feridas abertas contra os interesses do Pará foi a aprovação da Lei Kandir, em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Com apoio de bancadas tucanas e sob o silêncio cúmplice das lideranças estaduais, a norma isentou de ICMS as exportações de produtos primários e semielaborados – exatamente os que compõem a espinha dorsal da economia paraense. O resultado foi um rombo bilionário nas receitas do Estado, que passou décadas exportando riquezas e importando pobreza, sem a devida compensação da União.
A política paraense, à época, foi incapaz de reagir. Faltava projeto, ambição e, sobretudo, articulação nacional. O Pará era um estado isolado, que não conseguia influenciar nem os rumos da Região Norte, quanto mais os destinos do Brasil. Com Ana Júlia, rompeu-se momentaneamente o ciclo, mas faltou capacidade de execução e governabilidade. O sonho do protagonismo ruiu diante de um governo marcado por crises administrativas e dificuldades de diálogo com outras esferas de poder.
Esse cenário começou a mudar com Helder Barbalho e o MDB. Com uma liderança firmada na interlocução, na estabilidade administrativa e na habilidade política, o atual governador reconectou o Pará ao centro do debate nacional. Sob sua gestão, o Estado passou a ser ouvido – e respeitado. A escolha de Belém como sede da COP30 é o símbolo mais eloquente dessa virada histórica. Pela primeira vez, a Amazônia urbana será palco de um evento global de relevância sem precedentes, e o Pará será vitrine de soluções e não apenas de problemas.
Helder quebrou o ciclo da irrelevância política. Hoje, o Estado comanda pautas estruturantes como a transição energética, a reforma tributária verde e a valorização da bioeconomia. O Pará voltou a exigir compensações justas pelas perdas da Lei Kandir, ocupou espaços no Congresso, na Esplanada dos Ministérios e em organismos nacionais, e se tornou ator estratégico na nova configuração geopolítica do Brasil.
Mais do que isso: a presença e a firmeza da liderança estadual contribuíram diretamente para amenizar o sentimento separatista que crescia em regiões historicamente negligenciadas, como o oeste e o sul do Pará. Ao interiorizar investimentos, descentralizar serviços e reconhecer a pluralidade do território paraense, o atual governo devolveu a muitos paraenses um senso de pertencimento que parecia perdido. Em vez de dividir, passou a integrar – não pela força do discurso, mas pelo compromisso com resultados concretos.
Essa projeção política elevou também o papel do Pará como liderança da Amazônia Legal. Hoje, o Estado é referência na articulação de políticas integradas entre os entes amazônicos, assumindo a linha de frente na defesa de recursos para a região, na mediação de interesses internacionais e na construção de uma agenda comum para o desenvolvimento sustentável. A Amazônia, tantas vezes tratada como um vazio institucional, encontrou no Pará um centro de gravidade política e administrativa.
Do abandono à ascensão, o Pará finalmente descobriu sua voz. E, mais do que isso, aprendeu a usá-la.
Por Heber Gueiros – Comunicador por vocação, bancário por profissão, analista político por paixão e pesquisador da história amazônica.



