09Em um intervalo de cinco anos, duas pontes do Complexo Rodoviário Alça Viária (que possui um total de quatro) foram parcialmente derrubadas por acidentes provocados por balsas. A primeira foi atingida em março de 2014, ponte que fica ao lado do perímetro urbano do município de Moju. O segundo sinistro, ocorrido na madrugada do último sábado (06), foi em outro ponto, no município vizinho do Acará. Além da diferença espacial, há diferença gerencial, administrativa, pois cada sinistro ocorreu em um governo diferente.
Geograficamente há diferenças. O primeiro acidente, em 2014, ocorreu em menor proporção (estrutura afetada) do que o mais recente; outro ponto diz respeito ao entorno: o sinistro de cinco anos atrás ocorreu ao lado (em outra margem) de área urbana; o de 2019, em meio a floresta, sem ocupação humana próxima, o que dificulta ainda mais ações por parte do governo para amenizar o problema, haja vista que toda a infraestrutura tem que ser montada para, por exemplo, restabelecer minimamente o fluxo no local.
O Caso de 2014
A ponte sob o rio Moju, que margeia o município de mesmo nome, teve parte de sua estrutura derrubada após a colisão com uma balsa. Um vão se abriu e duas partes da estrutura de concreto e ferro ficaram suspensas e os blocos de concreto dos pilares afundaram. Após a notícia do fato e as providências que foram tomadas para identificar os responsáveis, vieram os laudos técnicos que indicavam os caminhos a serem feitos e decisões a serem tomadas por parte dos técnicos do governo e de outras instituições. Havia a possibilidade de implodir toda a estrutura ou recuperar o setor afetado. O governador Simão Jatene orientado optou pela segunda possibilidade.
Esperava-se que, ao terminar os laudos técnicos, fossem tomadas as providências da reconstrução, em etapas, até a conclusão, meses depois. A questão que nada foi feito. A providencia efetiva por parte do governo estadual foi reconstituir o fluxo de veículos, reativando portos antigos que ficavam ao lado da ponte e o aluguel de balsas para fazerem a travessia. Medida emergencial que tinha caráter temporário, passou a ser operação cotidiana, enquanto ao lado, a ponte estava parada, sem nenhum tipo de intervenção.
Meses se passaram e nada mudou. O ano de 2014 se encerrou e a ponte continuava interditada, sem obras visíveis ou projetos aprovados em fase de implantação. À época a morosidade do governo incomodava. Um ano depois do acidente que o Palácio dos Despachos anunciou ações efetivas para reconstrução do colosso de concreto sob as águas do rio Moju. A comunicação do governo informou que o prazo de liberação e entrega da ponte seria de 10 meses. A pergunta que se fazia era: Por que só agora, um ano depois? O que ocasionou tamanha demora?
Depois de um ano e nove meses do acidente, o governo Simão Jatene entregou no dia 19 de dezembro de 2015, a “nova” ponte sob o rio Moju. A entrega foi um grande espetáculo, bem aos moldes tucanos de pirotecnia. Parecia que uma nova ponte havia sido feita e não apenas um pequeno trecho de 70 metros, área atingida pelo impacto da balsa. Além do pilar afetado ter sido refeito e recolocado os vãos que foram retirados, por medida de segurança, depois de quase duas décadas de atraso, todos os outros pilares foram protegidos com barreiras de concreto. Medida simples e que poderia ter evitado todo esse transtorno. A proteção ficou restrita apenas a ponte que foi atingida; as outras continuaram sem proteção.
O Caso de 2019
Infelizmente, após cinco anos, outro acidente destruiu parte da estrutura de mais uma ponte que integra o Complexo Alça Viária.A estrutura caiu depois de uma balsa colidir com o oitavo dos 19 pilares de sustentação da ponte. Dois veículos que passavam pelo local teriam caído no rio. O segundo sinistro foi de maior proporção e consequentemente complexidade. Não só pela área derrubada pelo impacto, e sim pela localização do acidente, afastado de área urbana, o que demandará ações mais complexas de retomada da trafegabilidade no trecho.
A diferença entre entre os sinistros está nos governos e na gestão da crises geradas pelos desabamentos. No caso do governo Helder Barbalho, a ação foi imediata, e vieram do próprio governador, que pessoalmente esteve no local nos primeiros raios de sol, além de se fazer presente em todas as reuniões sobre o acidente, inclusive indo de rabeta exatamente no local, ficando a poucos metros dos escombros.
Helder Barbalho decretou estado de emergência e já solicitou ajuda do Governo Federal, se utilizando do seu ótimo trânsito na Esplanada dos Ministérios. As medidas vindas do governo estadual foram instantâneas. Segundo informações sintetizadas pela Agência Pará de Notícias, as definições foram:
Obras nos portos – Os serviços de melhoria nos pátios das empresas Bannach (ainda sem funcionar) e Henvil (24h) serão iniciados na segunda-feira (8). Os portos em questão ficam no bairro do Guamá, na capital, e serão responsáveis pelo escoamento dos veículos e cargas por meio das balsas de operação do Arapari, assim como o Porto da Celte (24h). Também estão sendo verificadas alternativas para desafogar esses portos e já foi aumentado o número de balsas no Porto Arapari, que dispunha de três embarcações e agora dispõe de oito.
Construção de rampas – A gestão estadual fará a construção de rampas nos dois lados da Alça Viária onde ficava a ponte, para ser implantado o serviço de balsa, que contará com uma estrada paralela. O objetivo final é reativar o fluxo da rodovia. De acordo com o governador, as áreas necessitam de desmatamento e abertura de áreas virgens, por isso, é uma medida a ser tomada de forma cautelosa. As empresas contratadas deram o prazo de três meses para a conclusão destes serviços.
Estrada Quilombola e PA-252 – Uma as alternativas de escoamento do tráfego é a Estrada Quilombola. Para a circulação dos motoristas ocorrer em segurança, foi iniciada a confecção de uma ponte de madeira, junto à prefeitura de Moju. A previsão é que a estrutura, considerada a melhor opção para que a via fique trafegável, fique pronta no máximo em uma semana. A partir de segunda-feira, a estrada passará por manutenção e constante conservação, assim como a PA-252.
Os exemplos acima são só para citar o que está sendo feito poucas horas após o acidente. Inegavelmente, há uma diferença de postura, ação (ou reação), interesses por parte do mandatário estadual em comparação ao seu antecessor. Helder imprime um ritmo à sua gestão que impressiona. Ele pessoalmente lidera todos os encontros, ações e organização; controla tudo. Quem o conhece sabe que esse é o seu jeito de fazer política. Por isso, no início do ano escrevi: ” Estava faltando testosterona ao governo do Pará?” (Leia aqui)
Dois acidentes, duas tragédias, dois governos, duas posturas diferentes…