Eleições 2022: debate virou um deserto de propostas

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Para quem foi dormir lá pelo meio da madrugada por conta de debate presidencial, a frustração é evidente. As horas de sono perdidas para assistir a um debate, o último deste primeiro turno, com poucas propostas debatidas. Poucos projetos foram apresentados. Os graves problemas brasileiros ficaram em segundo plano. O que se viu foi uma tática de guerrilha, arquitetada inicialmente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com auxílio direto do candidato Padre Kelmon, do PTB, que nem sacerdote é, que serviu de auxiliar (a velha estratégia de servir de escada) para o atual mandatário nacional.

Como esperado, Lula, do PT, foi o alvo preferencial. Algo natural de quem lidera as pesquisas e com chances de vencer no primeiro turno, segundo as pesquisas. O petista passou mais da metade do seu tempo se defendendo das acusações de corrupção em seus governos.

O debate iniciou quente. Um rodízio de pedidos de direito de resposta entre Lula e Bolsonaro, que consumiu quase todo o primeiro bloco. Todavia, ambos não se enfrentaram diretamente. Na verdade, o atual presidente não quis o confronto, talvez, por orientação de seus assessores.

Desempenho dos candidatos:

Por ofício, assistir ao debate. Depois de cobrir tantos e pelas características do momento, não poderia se esperar um debate, realmente, de ideias. Mas vamos ao desempenho dos presentes.

Felipe Dávila (Novo):
Fez o que se esperava, tendo como base a sua plataforma de campanha: promoveu a narrativa do estado mínimo e defendeu privatizações. Se colocou com um candidato ficha-limpa. Tinha um alvo claro: ex-presidente Lula. De resto, tabelou com os outros candidatos. Passou despercebido. Sua candidatura presidencial tem como objetivo promover o seu partido.

Ciro Gomes (PDT):

De semblante abatido, com o ar de derrota, o ex-governador cearense teve uma atuação discreta. Pouco acionado por seus adversários, Ciro teve pouca exposição. Apresentou uma postura amena, sem rompantes como ocorrido em outros encontros. Deu a entender que, enfim, aceitou a derrota. Seu objetivo agora é, pelo menos, terminar em terceiro lugar na eleição, mesmo assim, muito menor politicamente do que em outras disputas presidenciais.

Simone Tebet (MDB):

Mais uma vez a senadora emedebista teve uma participação elogiável. Serena, objetiva em suas perguntas e colocações. Enérgica quando provocada. Em alguns momentos fez duras críticas ao presidente Bolsonaro, especialmente, quando se sentiu instrumentalizada por este a atacar Lula. Simone sairá muito maior desta campanha. Se coloca como uma liderança nacional, que pode ser um grande nome para 2026.

Soraya Thronicke (União Brasil):

A senadora roubou a cena mais uma vez como já havia feito nos dois outros debates anteriores. Perguntas provocativas, com respostas cheias de frases de efeito e termos “lacradores”, fez com que, por exemplo, Soraya pudesse gerar grande repercussão na internet. Não tinha um alvo preferencial. Em seu radar estavam, de partida, Lula e Bolsonaro. Todavia, o candidato Padre Kelmon entrou em sua mira, em que os dois, em alguns momentos, travaram embates duros. A candidata fez as redes sociais explodirem quando utilizou termos como “padre de festa junina”, “você não tem medo de ir para o inferno”. Porém, nem tudo são flores. A candidata sul-mato-grossense tomou um boa investida do presidente Bolsonaro, quando este tratou de pedidos de cargos da senadora. Nessa hora, Soraya se perdeu. Sentiu o golpe.

Padre Kelmon (PTB):

Claramente a sua candidatura foi posta – após o impedimento de Roberto Jeferson – para ser, sem constrangimentos, uma linha auxiliar de Bolsonaro (PL), servindo de escada para o presidente. Ficou evidente isso, e não só no debate de ontem, como também em outros encontros. Não têm propostas. Não sabe discorrer sobre nenhum assunto. Só fazia perguntas através de um roteiro. De fato, Kelmon, nem padre é. Se autointitula como tal. Seu objetivo foi atacar o ex-presidente Lula e “levantar a bola” para Bolsonaro. De quebra, só fez tumultuar o debate.

Jair Bolsonaro (PL):

O presidente que está em segundo lugar na ampla maioria das pesquisas, sabia que teria a oportunidade de falar a milhões, para evitar, em tese, o que os levantamentos estão apontando, a possibilidade de vitória de Lula já no primeiro turno. Por isso, a sua postura agressiva no início do debate. De partida, atacou Lula e trouxe à tona o caso Celso Daniel, algo que já nem se fala. Tal postura agressiva ocasionou uma sequência de pedidos de resposta entre Lula e Bolsonaro, inviabilizando a dinâmica do debate. Talvez, por conta de orientações e medições de internet, o presidente teve postura mais leve nos blocos seguintes. Quando teve a oportunidade de duelar diretamente com Lula – e não através de terceiros como vinha fazendo – Bolsonaro não fez. Quando lhe foi dada a oportunidade de chamar qualquer adversário e tratar de qualquer tema, preferiu “trocar figurinha” com o candidato do Novo.

Lula (PT):

O candidato petista sabia que seria o alvo preferencial no debate. Muito criticado por ter tido uma postura leve ao ser atacado, o que poderia reforçar junto ao telespectador a sua culpabilidade sobre as acusações que lhe eram feitas, Lula resolveu “partir para cima”. Enfrentou de frente Bolsonaro, Ciro, Dávila e Kelmon. Sempre com respostas firmes, o ex-presidente não baixou guarda.

Ao fim, o último grande encontro entre os presidenciáveis aconteceu. Agora é esperar os resultados das urnas.

Imagem: Portal G1. 

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