Assistir atentamente toda a entrevista que Simão Jatene (ainda filiado ao PSDB) concedeu à jornalista Mary Tupiassu do site Belém Trânsito. Visivelmente impaciente e incomodado na entrevista, o ex-governador tratou de diversos assuntos. Como esperado, de partida, mirou a atual gestão estadual e na questão da comunicação no Pará que, segundo ele, tornou-se subserviente ao governo.
Jatene tratou de sua infância, vidas acadêmica e musical, além de sua entrada na política. A entrevista, portanto, seguiu conforme manda os mandamentos jornalísticos. O ponto em que o processo dialético tomou forma e fez jus ao nome do quadro, foi quando a entrevistadora perguntou ao político sobre as suas atuais decisões e posturas no que diz respeito às alianças que vem costurando, a começar pelo ex-candidato à Prefeitura de Belém, Everaldo Eguchi (PL). O ex-governador deixou claro que, até o momento, não definiu candidatura e nem apoios, mas que conversa com diversos grupos. O objetivo é montar uma ampla frente para enfrentar o governador Helder Barbalho (MDB), conforme o Blog do Branco adiantou no artigo: “Coalizão contra Helder”.
Ainda foi tratado dois pontos políticos que são muitos sensíveis ao ex-governador e que o impedem legalmente, até o momento, de concorrer nas próximas eleições, que são: a condenação pelo uso abuso dos recursos do Programa Cheque Moradia, na campanha de 2014 e a reprovação das contas de 2018 de seu governo pelos deputados estaduais, que inclui quatro parlamentares do PSDB que votaram a favor da reprovação.
Simão deixou claro que não acredita que o Bolsonarismo possa provocar riscos à democracia. Classificou qualquer apontamento neste sentido como “fantasioso”. Esse foi o “corte” da entrevista. Tal afirmação teria método? Foi falada de forma solta como um posicionamento pessoal ou seria uma estratégia do ex-governador?
Jatene ainda não se desfiliou oficialmente do PSDB, apenas anunciou a sua saída do partido. Imagina-se que não irá continuar no ninho tucano depois do seu texto de despedida. Todavia, analisa para qual legenda deverá ir. Há várias possibilidades. O PSD seria o destino mais natural. Ainda há o Podemos, União Brasil e o PL. O afago ao Bolsonarismo seria uma sinalização de que o ainda tucano se coloca como um candidato ao governo com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo com a definição da escolha do senador Zequinha Marinho (PL) como o designado do Palácio do Planalto ao Governo do Pará? Sobre o assunto (Leia Aqui).
Em outra ponta, Jatene se mostrou um árduo defensor da operação Lava jato, em especial ao trabalho do ex-juiz Sérgio Moro, hoje candidato pelo Podemos à Presidência da República. Outra sinalização?
A entrevista em si foi marcada por diversas incoerências do entrevistado. Como por exemplo: “Espero que depois de mim, não tenha nenhum político em minha família”. Quando esteve governador, Jatene nomeou a filha como secretária de Estado com claro objetivo de elegê-la deputada ou o seu genro na esteira da esposa.
Por sua experiência política, Simão não teria se colocado contra as críticas ao presidente e defendido o ex-magistrado sem razão. Há método em tal posicionamento. O ex-governador quer abrigo político-eleitoral em algum projeto nacional. Resta saber se vale a pena a qualquer custo manchar a sua biografia, se aliando a defensores de atitudes e narrativas que hoje a ampla parcela da população brasileira abomina.
Simão Jatene poderá encerrar a sua vida pública igual ao também ex-governador e seu padrinho político Almir Gabriel. A ver.
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