Ensaios Bolsonaristas

Há exatos um ano, neste mesmo período de carnaval, o presidente Jair Bolsonaro tornava público vídeo sobre uma prática sexual conhecida como “Golden Shower” (ou chuva dourada, em português), que configura-se no ato de sentir prazer ao urinar no parceiro ou receber dele jatos de urina durante o ato sexual ou num contexto sexual. O presidente em sua postagem indagou o que seria tal prática. A postagem rodou o mundo e criou à época, enormes constrangimentos, pois abriu-se naquele momento, questionamentos sobre o decoro do presidencial.

Em maio do ano passado, novamente, outro vídeo polêmico foi divulgado. Nele, Bolsonaro é representado por um leão ferido, de avançada idade, cercado de hienas, neste caso, cada uma representava um “inimigo” do presidente. Ali apareceram citações em relação ao Congresso Nacional, ao STF, a Globo, etc. Novamente o fato foi relativizado. Para muitos (inclusive enquadrados como importantes formadores de opinião), o vídeo não representava perigo a democracia, o que, de fato, era verdade, mas dava sinais da “liberdade” presidencial, e não só uma publicação infeliz endossada pelo presidente, novamente, deixando o decoro de lado.

Sucessivamente outras polêmicas foram criadas, cristalizadas quase que, diariamente, em narrativas polêmicas, sobre os mais diversos assuntos. Mas em comum estava o ataque à imprensa e à institucionalidade, esse o mais grave de todos. O desprezo que Bolsonaro ostenta em relação ao parlamento (no qual fez parte por 28 anos) é notório. Uma confirmação prática desta constatação é a ausência (induzida) de articulação política, como no caso da reforma da Previdência. Para o presidente, não faz sentido ter relação institucional com o Legislativo, este Poder, portanto, hoje é dispensável.

Depois de tantas quebras de decoro, todas relativizadas pela maioria, ontem, 25, o presidente Jair Bolsonaro passou dos limites, e esticou um pouco mais a corda. Divulgou através de sua conta pessoal de Whatsapp, dois vídeos que atacam os Poderes Legislativo e Judiciário, e convocam a população a sair às ruas no próximo dia 15, para pedir o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Além, é claro, de ambos serem altamente personalistas, enaltecendo a figura de Jair Bolsonaro. A divulgação feita pelo mandatário da nação, foi interna, entre os apoiadores mais próximos, mas logo foi vazada e divulgada nacionalmente.

Mais uma vez, desta vez mais grave, Jair Bolsonaro infringiu a Constituição Federal em seu artigo 85, cometendo, portanto, crime de responsabilidade, o que, em tese, poderá desencadear pedido de seu afastamento do cargo. O presidente justificou a divulgação, como sendo de “cunho íntimo”, ou seja, segundo ele (e na visão dele) não tinha intenção de atacar as instituições citadas nos vídeos que divulgou.

O caso é mais um ensaio do modus operandi do Bolsonarismo; algo que o Blog vem tratando insistentemente. O caso aqui tratado não se trata de um acontecimento isolado. Sua produção segue uma lógica, e tem método de ação. A principio serve para aferir a temperatura e a repercussão, analisar a sua ressonância. Assim, dependendo do desenrolar, se recua, simplesmente. Mas após o caso (independente do recuo e de ter desculpado), claramente “se avança mais uma casa”.

O Bolsonarismo não cabe dentro do quadrante democrático-republicano. Não há como funcionar tendo como modelo a Praça dos Três Poderes. Só existe um poder. Por isso, o enfraquecimento sistemático das instituições e de seus operadores. E isso inclui até a relação federativa com os estados, vide o caso dos impostos sobre os combustíveis, que gera ainda atritos com os governadores, além dos acontecimentos sobre a segurança pública no Ceará. Mais um ensaio foi posto, e assim como os outros, haverá recuo. Porém, mais um passo foi dado. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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