ENTREVISTA: Professor e ex-vereador Euzébio Rodrigues

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O entrevistado da vez é um cidadão que já deixou registrado a sua passagem na história de Parauapebas. Ele atende pelo nome de Eusébio Rodrigues, um baiano que chegou à capital do minério no final da década de 90 como professor, tornou-se vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ficando no parlamento municipal por três mandatos, chegando a presidir a Casa de Leis. Atualmente, coordena o projeto que o carro-chefe do governo Helder Barbalho (MDB) na cidade: Usina da Paz. 

Vamos à entrevista:

1) Blog do Branco: primeiramente, queria lhe agradecer por ter aceitado essa entrevista e ter nos recebido em seu recinto de trabalho. Eusébio, conte ao leitor do Blog, como um baiano, do interior da Bahia, chegou aqui?

R: Eu que te agradeço, um bom dia e agradeço pela oportunidade de está conversando com você. Branco, eu nasci numa cidade chamada Uauá, na Bahia, cidade do sertão baiano, conhecida como a cidade do bode, também da produção de frutas nativas. E lá têm hoje fábricas que produzem geleia, cachaça e Umbu uma fruta nativa que só tem na região nordeste mesmo, principalmente no sertão da Bahia, Pernambuco e um pouco no Piauí. Uma fruta muito gostosa que tem característica cítrica. Mas é nativa. Então, resumidamente falando, eu com os meus dezesseis anos saí da casa do meu pai para trabalhar eu fui para uma cidade chamada distrito de Pilar que é conhecido como Acari que é uma mineração de cobre, que desde os anos 1940 está em atividade na Bahia. Inclusive meu pai trabalhou nela, e de lá eu fui fazendo o ensino médio, terminei, fiz vestibular, passei, e fui fazer faculdade na UFFPP, que hoje é UPE (Universidade de Pernambuco), na cidade Petrolina. Então todos os dias eu fazia esse trajeto.

Blog do Branco: fronteira com Juazeiro… (Bahia)

R: É, fronteira com Juazeiro, São Francisco. E na faculdade o curso que eu escolhi foi a Biologia, Ciências Naturais com Habilitação em Biologia, e lá eu fiz muitos amigos, eu tinha um amigo, inclusive, que era piauiense, que fazia o curso de Letras e quando ele terminou, ele disse: “no dia que eu terminar o curso eu vou embora para o Pará”. E não deu outra, ele terminou o curso, se formou no final da tarde, no outro dia de manhã ele pegou o ônibus e disse, eu vou embora para o Pará. E eu continuei fazendo o curso, porque ele entrou primeiro na universidade, e quando eu sempre falava: “olha, quando eu terminar meu curso eu vou para a Amazônia, eu vou para a Amazônia!!! Eu sou biólogo, tenho que ir para a Amazônia”. Mas eu falava aleatoriamente, brincando.

Um certo dia ele me liga, ele morando em Parauapebas, olha, aqui está precisando de biólogo, e eu já estava trabalhando na mineração Caraíba, que é a empresa hoje que tem a detenção da lavra de cobre lá na região, distrito de Pilar, que é a Caraíba Metais. Eu já estava trabalhando nessa empresa, eu pedi conta, peguei o ônibus da Caraíba até aqui, isso em 1997, eu me formei no dia 02 de junho de 1996, no dia 8 de março de 1997, e eu estava aqui em Parauapebas, ou seja, eu vou fazer 26 anos agora no dia 08 desse mês, no Dia Internacional da Mulher. E eu peguei um ônibus da Caraíba até Petrolina, de Petrolina peguei um outro para Teresina, de Teresina peguei outro para Marabá, e quando cheguei em Marabá peguei outro ônibus para Parauapebas.

Quando eu cheguei aqui, então, eu ingressei direto na escola pública, no caso do Estado, na escola Eduardo Angelim, que era a escola Sede na época. Eu não tive contrato, então eu fiquei do mês de março até novembro sem contrato, trabalhando de forma voluntária esperando o contrato sair. Nesse meio tempo eu entrei no Fênix, na antiga escola Fênix, no mês de julho eu entrei no Fênix, e foi quem me deu um suporte para ficar. Era uma escola grande, era particular, a concorrência era o Fênix, o antigo Método, e a escola Janela para o Mundo, que era da Geneci e do Clorisvan, que era particular. E eu, então, em novembro, saiu meu contrato do Estado, e eu continuei dando aula, e ali fiz amizades, uma das primeiras amizades foi o Raimundo Neto (ex-secretário de Educação), a Livramento, e o Neto, então, com a amizade que eu tive na escola, ele me levou para se filiar ao Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores em Educação Pública no Pará (SINTEPP), na condição de professor, e logo depois ele me filiou ao Partido dos Trabalhadores, isso em 1999.

Tramitamos uma longa caminhada junto com esse grupo, e em 2003, nós começamos a articular a possibilidade de candidatura. Em 2004, fomos para dentro do partido para disputar uma vaga para a eleição, porque as vagas dentro do partido são discutidas internamente, e esse grupo me apoiou para vereador, e eu fui eleito pela primeira vez em 2004, com um mandato inicial de 2005. À época, eram dez vereadores na antiga Câmara, que funciona hoje ali na Praça de Eventos, e eu, então, pela primeira vez, ingressei na política com mandato, isso sete anos depois de estar em Parauapebas, e me tornei vereador com apoio de professores e de um grupo dentro do PT.

Blog do Branco: Nesse período, então, só para a gente fazer uma ordem cronológica, nesse período vocês conquistaram uma boa presença política, inclusive a Prefeitura de Parauapebas

R: Exatamente. Primeiro mandato do Darci [Darci Lermen, atualmente em seu quarto mandato de prefeito], eu cheguei na época de apoiá-lo para deputado estadual, depois para prefeito, que ele perdeu, e logo depois ele ganha para prefeito na sucessão da Bel Mesquita [ex-deputada federal e prefeita de Parauapebas por dois mandatos], que então ele ganha para prefeito. E dali, então, eu fui para Câmara, e nós éramos apenas quatro vereadores da situação e seis da oposição, que no caso da situação foi eu, o João do Feijão, o Wanterlor e o Adelson [os três ex-vereadores]
E os demais vereadores, que era a Franci [Francisângela Vicente Ferreira Resende], o Ávila [Agnaldo Ávila de Brito, presidiu o parlamento municipal], o Massud [Antônio Massud de Sales Pereira], o Juca [Ademir Paulo Dan], e a Creuza Vicente, eles eram todos da oposição. Então eram seis contra quatro. Então passamos o primeiro mandato.

Blog do Branco: e a governabilidade?

R: A governabilidade era o seguinte, o Darci definiu o Wanterlor, que era o mais experiente no grupo, politicamente falando, que seria escolhido para ser líder do governo. Mas aí depois acabaram me colocando como líder do governo, com toda a inexperiência que eu tive. Mas assim, eu assumi a responsabilidade e fui estudar. Eu tinha que aprender, né? E a governabilidade se deu. Os quatro anos eram quatro vereadores da situação e seis da oposição.
Mas nós criamos uma relação de governabilidade onde todos os projetos que chegavam eram discutidos entre nós e logicamente que o Darci, também inexperiente dentro da gestão e também como prefeito, criamos um grupo muito bom, tinha um grupo muito bom de governo. O Darci adotou um sistema na época que era o G-8, que toda segunda-feira nós reunimos para fazer discussão do que estava acontecendo na Câmara e no governo. E com isso nós garantimos a governabilidade nos quatro anos do Darci.

Blog do Branco: ou seja, na prática, mesmo quem fosse da oposição, mas se um determinado projeto fosse em prol da sociedade, votavam a favor…

R: No segundo mandato de 2008, o Darci já cria uma situação diferente. Ele já traz um grupo maior de vereadores, aqueles, inclusive, que eram oposição, no caso do Massud, já se tornou situação, e já foi melhorando o relacionamento aumentando a governabilidade. Eu fiquei os quatro primeiros anos na condição de líder do governo, os quatro anos inteiros, de ponta a ponta. No segundo ano eu já entro, em 2009 como presidente. Naquela época, era um ano só a Presidência, então eu fui presidente em 2009 e a liderança então vai para o Zé Alves [José Alves de Lima], que se elege pela primeira vez. Aí o Zé Alves fica dois anos e depois passa também para o Odilon [Odilon Rocha de Sanção]. E para garantir a governabilidade no segundo mandato, o Odilon se torna líder do governo e o Zé Alves recua à liderança; em 2012, o Zé Alves torna-se presidente da Câmara. Porque lá era um ano a presidência, eu fiquei em 2009; 2010 o Adelson; 2011 eu volto para a presidência; em 2012 o Zé Alves assume a Presidência da Câmara.
Então, a minha trajetória foi de 2005 até 2016 vereador da cidade, logo depois eu encerro, não me reelegendo, mas tendo a vitória para vereador em 2017 e 2018, eu volto para a Câmara, mas agora assessorando o vereador Elias [Elias da Ferreira, mais conhecido como Elias da Construforte] e agora, nesse último mandato, o Miquinha [Israel Pereira Barros] me chama também para fazer um trabalho junto com ele, e depois eu recebi um convite para assumir aqui a Usina [Usina da Paz].
Então, nesse período que eu estava vereador, eu também estava professor, eu conseguia conciliar as duas funções, sendo que 2010 a 2012 eu tive que paralisar as minhas funções de professor, pedir um afastamento, porque eu viajava, ia para Brasília, ia para Belém fazer todo esse trâmite de levar informação, buscar informação, trazer recursos para o município e eu estava perdendo aula, então eu fiquei dois anos fora da sala de aula.

2) Blog do Branco: Eusébio, é muito interessante, antes que a gente pule para uma outra pauta, que aí já vai ser um pouco mais específico, eu acho interessante porque nessa sua trajetória no legislativo eu ouço muito falar uma coisa que eu concordo e propago que existe uma diferença. Não é tão difícil você ser um vereador, mas é muito mais difícil ser um vereador e legislador. E ser legislador é uma referência que fazem a você com muita frequência. Inclusive, lembro que o senhor foi o cara que no início de uma legislatura, não estou lembrando se foi a passada, foi convidado para palestrar aos seus antigos colegas, alguns de parlamento, alguns novatos, sobre regimento interno, etc… Esse acúmulo de conhecimento sobre leis e fazer o mais difícil que é legislar, o senhor acha que isso, de certa forma, não foi tão reconhecido pela sociedade?

R: É, assim, a sociedade, Branco, às vezes ela quer ver um legislador ali, às vezes é na tribuna fazendo, vamos dizer assim… Proselitismo, ou até mesmo, às vezes aquele grupo de pessoas que chegam ali na câmara, eles querem ouvir coisas e às vezes o vereador que usa a tribuna aproveita aquele momento para falar o que eles querem ouvir. Eu era muito técnico, sim, eu, inclusive, aproveitei muito os meus dois últimos mandatos para fazer cursos. Eu fiz muito curso em Brasília, eu fiz curso na Bahia, eu procurava fazer curso nos locais onde não tinha praia, principalmente, onde não tivesse praia, para não conotar que eu estava indo à praia. Eu aproveitei principalmente Brasília, eu aproveitava muito Brasília porque tem muitos cursos bons e eu fiz alguns cursos voltados para a gestão pública lá e voltados para a área de vereança. Eu gostava muito de fazer esses cursos porque me traziam conhecimento. E na Câmara eu tive que aprender o regimento interno, eu tive que aprender a lei orgânica, fazer a leitura do que é inciso, do que é parágrafo, do que é a linha. Então, parágrafo primeiro, parágrafo segundo, a linha, e você tem o regimento interno, você tem a constituição municipal, você tem o código de ética também, que já está instituído. Eu tinha que aprender, até porque quando você está ali, pela ordem, presidente, mas tem uma disciplina para pedir a ordem, como é? Baseado em que você está pedindo a ordem? Tem todo um protocolo. Então, eu aproveitei bastante e realmente eu fui convidado por alguns vereadores até para fazer uma orientação de como funciona. E eu acho na Câmara, todos os vereadores que chegam, tem que ter, pelo menos, uma semana para fazer toda uma explicação de como funciona, como é que é essa questão de ordem… Eu, por exemplo, quando eu chegava na Câmara, que no momento estava tocando o hino, o protocolo diz que você tem que parar, escutar o hino em posição de respeito, depois que termina você se dirige ao seu… Hoje não, o trâmite, o pessoal está cantando o hino, o pessoal está transitando, está conversando, o outro está lá circulando, mas é uma questão de respeito, um dos símbolos nacionais, o hino nacional, o hino da bandeira, o hino da independência, o hino do município, o hino do Estado, são símbolos que nós temos que tem que ser respeitados. Então, eu fui muito nesse ponto.
Então, a sociedade, muitas vezes eu subia na tribuna, numa manifestação e eu falava e costumava dizer também no meu gabinete, olha, vocês vão sair daqui com raiva de mim, mas não vão sair desinformados, vocês vão sair com a informação correta e às vezes a sociedade não está preparada. Então, como eu perdi algum tempo estudando e atendendo as pessoas no gabinete, porque eu fazia questão de atender no gabinete de manhã e de tarde, eu fui muito mais dentro do gabinete, porque eu gostava de ouvir, mas eu ia nos bairros, até para eu fazer uma indicação, um requerimento, eu tinha que ir. Mas eu fui, então, eu acho que dentro da sua pergunta, isso me fez também, fez com que muitas pessoas não entendessem o meu papel de legislador, que era legislar dentro de um contexto técnico, sabendo fazer o seu trabalho, conhecendo a lei, porque eu fiquei em todas as comissões de finanças, eu tramitei em duas comissões, quando eu era de finanças o outro era de CCJ, de Justiça e Redação, aí no outro eu voltava, por quê? Eu pegava todos os projetos, eu lia, fazia um resumo e eu discutia todos. Eu já cheguei a ficar na sessão, quando eu olhei para a mesa diretora, nem o presidente estava lá, ninguém, eu sozinho falando, eu estou falando porque você não discursa para quem está ali atrás, você discursa para a mesa diretora, independente de qual que é, no momento que você discursa para o povo é na hora que você está na tribuna, porque aí você vira para o povo e vai fazer um discurso para ele e para a mesa diretora.
E eu discutindo o projeto, quando eu olhei para um lado só estava eu em alguns momentos, lógico, não em todos, mas aí eu gostava de discutir, inclusive muitas pessoas diziam: “Eusébio, eu sinto falta da tua presença, porque você discutia projeto, você falava, você explicava porque é que aquele projeto estava na Câmara”. E eu gostava de fazer isso, eu fazia um resumão, eu era da comissão, então eu explicava o parecer favorável, ou o contrário, ou de arquivamento, porque quando é arquivamento não vai nem para o Plenário. Então, eu acho que isso deve ter sim, Branco, me atrapalhado na condução em 2018.

Blog do Branco: É como se o senhor pudesse tipificar, em parte, que a sua não reeleição, talvez, tenha sido falta de uma presença mais externa, um excesso de presença interna, fez com que ficasse longe do eleitorado…

R: Porque hoje as pessoas estão mais acostumadas a ver o político, muitas vezes, na tribuna ou indo na casa dela falando de assuntos que, talvez, interesse a ela. Eu era muito coletivo, eu tinha muita dificuldade em resolver problemas individuais, mas o coletivo me atraía. Só que esse coletivo era dentro, era interno, eu estava ali nas comissões discutindo e às vezes as pessoas estavam, por exemplo, em um local público, digamos, numa roda de amigos, tomando em um bar, em uma roda de amigos, em um restaurante, reuniões de bairros; e eu ali estudando, aprendendo para fazer a coisa correta, fazer um projeto chegar à sociedade. Porque você imagina, de todas as leis que o governo manda, qual é a mais importante? É justamente a Lei Orçamentária Anual (LOA), porque ela vai garantir a Seguridade Social. Ali está garantido todos os direitos do cidadão. E eu estava discutindo aquela lei internamente, estudando. Aí o vereador faz a emenda, você tem que ver se estava correto, porque você tem que olhar o PPA (Plano Plurianual), você tem que olhar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). E eu estava ali discutindo. Quando vem a eleição, que eu vou para a rua, aí as pessoas, logicamente que já tinha outras candidaturas para fazer campanha, mas não é o ponto central da minha não reeleição. É um dos pontos que as pessoas me perguntam, mas eu vejo assim, que eu me preparei para continuar, mas a sociedade não entendeu e não me conduziu, porque lógico, a gente não pode dizer que isso é o ponto central de uma não reeleição. Têm vários outros fatores que envolvem para uma não reeleição. Mas assim, eu me preparei para continuar, mas aí a sociedade que tem o poder na mão de dizer eu quero ou eu não quero, e ela disse eu não quero. E eu aceitei.

3) Blog do Branco: Eusébio, o que podemos esperar do seu futuro? O que o senhor almeja para 2024? O que o senhor está pretendendo em termos eleitorais? Pode se dar como encerrada a sua carreira política?

R: Vou lhe responder de uma forma bem simples, política é um grande tabuleiro e dentro desse tabuleiro as pedras se movem constantemente. Eu sou uma pedra desse tabuleiro e já fiz vários movimentos. Eu disputei cinco eleições, das cinco, três eu fui vitorioso nas urnas para legislar. Não me considero derrotado, considero que a sociedade entendeu que, naquele momento, não deveria me conduzir, aqueles eleitores fiéis que eu tinha foram para outros, vamos dizer assim, para outra bandeira, para outras pessoas que já estavam com outros pensamentos, não com a experiência que eu tinha, mas eram as pessoas que eles resolveram confiar, porque tem eleitor que diz também: “eu não voto no mesmo candidato duas vezes, eu voto em um e vou escolhendo o outro”. Está errado? Não, está correto. Mas dentro desse tabuleiro eu não considero a minha vida ainda apagada, esquecida para uma disputa.
O que está acontecendo? Eu sou filiado a um partido há 24 anos, dentro do partido eu tenho uma vida efetiva, orgânica, eu sou orgânico mesmo, porque eu participo de todas as reuniões, eu participo de todas as reuniões, eu sou inclusive membro da executiva do partido municipal, porque todos os cargos do partido tem que disputar em uma eleição. Você tem que passar do PED [Processo de Eleições Direta] Eu participei, ocupo uma instância lá dentro do partido, onde eu tenho uma chave, lá dentro. Qual é a chave? É de dar, fazer formação política, é de poder liberar também as filiações, essa chave é minha. Então, para quem quer essa chave, vai ter que ser membro do partido e também disputar as eleições internas do PT. Então, lá dentro nós estamos discutindo.
Agora, a minha última eleição, as pessoas falavam: “o Eusébio teve 165 votos, ele está morto politicamente”. Eu não digo morto, eu tive 165 pessoas que acreditaram, e a eleição passada já foi diferente da anterior, eu tive 600 e poucos votos. Agora, numa hipótese do tabuleiro e eu ser uma peça, pode ser que eu tenha menos, pode ser que eu tenha muito mais, aí vai ver a conjuntura.
O próprio PT tem a responsabilidade de criar essa conjuntura internamente e ver quem são as pessoas que têm condições, não é de eleição direta, mas de estar proporcionando e captando votos para que um ou dois companheiros possam estar ocupando a vaga, porque nós PTistas, fazemos isso. Eu não sei, eu tinha consciência de que eu não ganharia essa eleição, mas eu tinha consciência de que os meus votos ajudaria a Sueli [Sueli Guilherme, atualmente secretária-adjunta na Secretaria Municipal de Produção Rural], que estava muito bem nas pesquisas, a ocupar um cargo na Câmara, que é o que aconteceu. O Miquinha se elegeu, com os meus 165 votos, o ajudaram a ocupar esse cargo. Então, na próxima eleição, eu não me descarto, não estou descartando a ideia de estar dentro do tabuleiro, sim como candidato, ou ajudando, vamos dizer assim, dentro dessa estrutura, um companheiro a chegar lá, ou como candidato ou como articulador político. Eu estou dentro do partido e estou dentro das possibilidades de estar fazendo política constantemente.

4) Blog do Branco: Como é que está hoje a questão da sua estruturação, como foi a construção da sua chegada à Usina da Paz de Parauapebas, que é, logicamente, um cargo de alta relevância do ponto de vista político, porque está dentro de uma estrutura do Estado, uma estrutura nova, grande, uma vitrine do governo atual. Então, como foi essa chegada, a indicação e como está sendo o seu dia a dia aqui?

R: Branco, eu estava fazendo um trabalho para o vereador Miquinha, ajudando no mandato dele, como eu te falei, depois que eu deixei de ser vereador, eu fiz alguns trabalhos, principalmente para o vereador Elias [Elias Ferreira, do PSB], eu fiquei quatro anos com o vereador Elias, ajudando na presidência dele. Aí, agora, o Miquinha ganha as eleições, aí eu entro também ajudando o seu mandato com a formatação de requerimentos, projetos de leis, indicações, fazendo as reuniões na questão da orientação política, e de repente surgiu a Usina da Paz. Logicamente que tinha outros nomes para a possibilidade de assumir a coordenação. E, no final, vamos dizer assim, numa escala, o meu nome apareceu lá, porque houveram uns convites, mas devido aos compromissos assumidos por essas pessoas, resolveram não aceitar. Então alguém me liga, que no caso é o vereador Miquinha, que tinha conversado com o Keniston [Keniston Braga, atualmente deputado federal pelo MDB], que tinha conversado com o governador. No processo eleitoral o governador diz assim: “Olha, a Usina da Paz está aqui, nós precisamos nomear um coordenador, e Keniston você é o nosso nome aqui”. Aí o Keniston chega para o Miquinha e diz: “vamos fortalecer o partido aqui, vamos fortalecer as nossas alianças? Indica uma pessoa lá”. Aí o Miquinha, então, me convida, pergunta se eu topo assumir uma responsabilidade desse tamanho. O prefeito me chama então e diz: “Eusébio, é uma estrutura grande, eu sei que você dá conta, mas é um desafio, você topa ver lá e assumir essa responsabilidade?”. Ai eu disse: “Bom, vou lá conhecer a Usina, eu topo, dependendo das condições de lá”. Me convidaram, cheguei aqui, conheci a estrutura, aí eu disse, vamos enfrentar, o município precisa dessa estrutura, então vou lá. Eu assumi aqui no dia, no mês 07 de 2022, aí então fui me interagir com as atividades e percebi a grandiosidade que é esse projeto. É um projeto que combina com o Ter Paz, que é um programa voltado para estudos, voltado para violência. A própria localização deste ambiente, ela tem essa interligação com a necessidade local.

Blog do Branco: Nós estamos aqui no bairro Tropical, que é extremamente populoso e com muitas demandas sociais…

Exatamente, aí o Ter Paz, ele faz assim todo o mapeamento de áreas de vulnerabilidade social, de violência, e o Estado então, através do Helder Barbalho, que é uma mente de um jovem, né, eu digo jovem porque eu acredito que até, eu nem sei quantos anos ele tem, mas eu acredito que até seja mais velho do que ele. Eu tenho 55, então eu posso dizer que a mente dele é jovem, a minha é jovem, mas a dele mais jovem ainda, mas convenhamos, inteligente e desde pequeno numa família, numa trajetória política dentro do Estado do Pará, e ele traz então uma materialização de uma estrutura onde possa estar uma área de violência, mas também de vulnerabilidade social, mas para que essas pessoas não se desloquem para o centro. E dizer assim, o Estado está presente nesse local, nessa cidade. Então a Usina da Paz, esse modelo aqui, ela só existe no Pará. Em termos de estrutura e de quantidade de serviços, não existe em lugar nenhum do Brasil. Existem estruturas menores, com alguns programas semelhantes, mas de pequeno porte. Nessa grandiosidade que é a nossa aqui, só existe, inclusive está servindo de modelo para outros Estados, é o caso do Piauí que já assumiu a responsabilidade. As usinas não são mais programas de governo.
Elas passaram desde o ano passado a ser políticas públicas de Estado. Então é uma estrutura que tende a se expandir pelo Estado do Pará e para o país. Então o Helder, dentro da cabeça dele de gestor, nova, pensante, de uma pessoa experiente, ele coloca uma estrutura onde ele concentra esporte, cultura, lazer, segurança, educação e inclusão social.
Nós temos PCD, nós temos o TEC, o transtorno do aspecto autismo, um programa voltado só para ele, nós temos bocha paraolímpica para pessoas com deficiência e pessoas com problemas de degeneração, doenças que vão degenerando a musculatura, que vai tendo dificuldade de mobilidade. Eu tenho um vôlei sentado, eu tenho um basquete para cadeirante, eu tenho um futebol para cego. Isso é inclusão. Eu tenho dois institutos do Rio de Janeiro aqui dentro.
O Instituto Incluir, que trabalha só com PCD, e o Instituto Luta pela Paz, que trabalha com programas voltados para a área de esporte e também de palestra voltado para minimizar a violência, não só contra a criança e o adolescente, mas também contra a mulher e contra, logicamente, o homem também. É violência como um todo. Esses dois institutos do Rio de Janeiro estão aqui dentro, fazendo um trabalho de excelência. Eu tenho culinária, eu tenho música, eu tenho balé, eu tenho corte e costura, eu tenho robótica, eu tenho impressora 3D para robótica, eu tenho computação, eu tenho informática, eu tenho na área de saúde, eu tenho odontologia, psicologia, assistência social, eu tenho a regulação do município aqui dentro, que é da prefeitura, e tenho também a clínica geral, emissão de documentos, que a pessoa tira CPF, segunda via do título de eleitor; fazemos currículo para a comunidade, fazemos teste vocacional para a juventude; o IFPA (Instituto Federal do Pará) está aqui dentro; o Sophie Link (escola de ensino técnico) está aqui dentro, administrando o curso de mecânica de automóveis; tenho uma parceria com a Fundação Vale; com os voluntários que estão ministrando cursos de graça de inglês, mecânica industrial, Scania, que é para conduzir, como conduzir, com simulador; todas as universidades particulares, estão usando a Usina estágios de seus alunos nos cursos de Direito, Enfermagem, Nutrição e Educação Física. Eles estão usando os nossos espaços para fazer um atendimento para a comunidade e usando essas horas como estágio: a Polícia Militar treina aqui dentro, o Tático usa a nossa piscina, o Corpo de Bombeiros treina na nossa piscina.

Olha, eu te digo uma coisa, que fique bem claro, não é só para o bairro Tropical, é para Parauapebas, porque eu tenho clientes aqui, quando eu falo clientes, são as pessoas que usam, vem, por exemplo, da Nova Carajás para fazer curso aqui, vem gente da VS-10. Branco, de tudo isso que eu estou te falando, a rotatividade é muito grande dos cursos, porque as salas são pequenas, justamente porque a usina, se você olhar do projeto arquitetônico, ela é uma engrenagem. Porque é movimento, ela tem que dar essa impressão, elas são todas padronizadas. Porém, as de Belém são duas vezes maiores do que a nossa, em termos de estrutura. A nossa é o mesmo padrão de Canaã dos Carajás, a diferença é que a de lá tem campo de futebol, a nossa já tem quadra esportiva. Mas assim, a quantidade de cursos que nós estamos oferecendo aqui, de oportunidade para o jovem, para o adolescente, para o PCD, para as pessoas que têm transtorno do aspecto autismo, as pessoas que têm outras síndromes que nós vamos acolhendo e colocando dentro dos nossos programas, estamos criando uma grande possibilidade aqui de renda. Hoje, o comércio em torno da Usina já existe, em supermercado, xérox [fotocópia], foto, cantinas, refeição, a medida que as pessoas vêm vender. Então, a usina, ela está movimentando…
Os terrenos em torno da Usina, que custavam 9, 10 mil, agora passaram a valer 30 mil, no mínimo, tem até de 100 mil. Muitas ruas foram asfaltadas. Aqui eu tenho parcerias com diversas secretarias municipais, com o Senai, Senac aqui dentro, eu tenho uma parceria com o IFPA; a UFRA é voluntário aqui; a UFPA administra cursos de 20, 30 horas aqui dentro também, são cursos que vêm de Belém, os seus estudantes vêm de Belém.
Eu gosto de dizer que o Helder é um jovem empreendedor no conhecimento de gestão pública, porque no dia que ele assumiu, lá no primeiro mandato dele de governador, que disseram assim, o Helder foi para Inglaterra, aí o pessoal começaram a falar, e aí depois ele está lá, foi para fazer um curso. Eu achei fantástico, porque o cara diz assim, eu tenho que buscar conhecimento, onde tem conhecimento. Eu no Brasil procuraria a Fundação Getúlio Vargas, que tem conhecimento, notoriedade em vários assuntos. Eu traria esses especialistas para treinar o meu pessoal, para mostrar para ele como eles devem fazer um modelo de gestão pública. Se eu vou procurar alguém que entende de escrever, de fazer uma boa matéria, eu vou procurar o Branco, porque ele já escreve, faz uma matéria.
Se eu tenho alguém que sabe fazer um planejamento do Plano Diretor da cidade, eu vou procurar os melhores.
Então, eu sou muito, vamos dizer assim, empolgado, eu fico muito empolgado quando eu falo da Usina da Paz.
Então, toda essa trajetória me conduz em si, me credenciou a estar aqui, fazendo uma coordenação com pouco mais de 130 pessoas em várias áreas, com vários segmentos que eu tenho que dar conta.
Então, aqui é uma área hoje segura, porque o crime que muita gente imaginava no Tropical, a própria Polícia Militar, ela registra a queda de ocorrências nesse bairro, porque o Tático está vindo direto por aqui, e a Polícia Militar faz ronda de manhã e isso cria na sociedade segurança, onde as pessoas dizem, olha, aqui, por enquanto, não está tendo assalto, por enquanto, não está tendo homicídio, aquela questão da venda de drogas, não existe nesse perímetro aqui, ninguém aqui esperando para ser aliciado, para vender, porque a presença do Estado está aqui, e a função da Usina, quando o Helder diz, eu quero a usina em áreas vermelhas, acontece o crime, porque nós não estamos presentes, mas hoje nós estamos presentes, aí a Polícia diz, e os índices de violência diminuíram, então a Usina tem essa função.
E eu quero enfatizar aqui, Branco, que o governo do Estado fez uma peregrinação no Brasil todo, São Paulo, Rio de Janeiro, onde tinha estudos voltados para diminuir a violência, o governo, inclusive, foi a Medellín [segunda maior cidade da Colômbia]. Quero registrar, também, que eu tenho parceria também com a Câmara Municipal de Parauapebas, antes através da gestão do então vereador Ivanaldo Braz (PDT), hoje deputado estadual, continua de forma bem efetiva com o vereador Rafael Ribeiro (MDB), atual presidente da Câmara.
Aqui, a cada pessoa que eu tiro da rua para praticar esporte, é uma possibilidade a menos para o mundo do crime, do aliciamento para o mundo do crime.

5) Como está estruturada a questão da educação dentro da Usina?

R: Aqui tem aula de reforço de Ensino Fundamental, do Ensino Médio, EJA e temos também ainda reforço no ENEM, Então, a SEDUC tem essa responsabilidade. O aluno de manhã está na escola, a tarde ele está na Usina. Se ele estuda tarde, de manhã ele está na Usina. Eu tenho duas bibliotecas e tem horas que estão cheias de crianças lendo. A criança não gosta de ler, a criança não lê porque não dá um livro. Elas vêm aqui e vão. As crianças às vezes querem usar o computador que eu libero para fazer pesquisa. Usam para jogos lúdicos, jogos interativos. Nada de arma, nada de apologia ao crime, nada. A minha obrigação aqui é de fazer um gerenciamento de uma instituição do Estado dentro do município. Eu estou buscando ainda, Branco, parceria dentro do terceiro setor dessas grandes empresas que prestam serviços para a Vale para me ajudarem aqui, principalmente na aquisição de contêineres.
Eu tenho um espaço que eu não posso construir, mas eu posso botar contêineres porque eu estou perdendo o cursos do IFPA. Eu preciso que essas empresas venham para conhecer a usina para de repente, dentro daquele contexto de, oh, eu vou ajudar e vai diminuir lá no imposto de renda, porque ela abate no imposto de renda e poder proporcionar mais custos para dentro da Usina para essa sociedade tão carente.

Blog do Branco: chega o momento que o espaço físico não comporta as iniciativas do projeto…

R: Exato. Hoje, por exemplo, se me cederem quatro contêineres para a sala de aula para colocar 15 alunos em cada um, eu tenho o IFPA pronto para vir aqui para administrar cursos profissionalizantes para essa juventude ou para a pessoa que está no mercado de trabalho apenas trabalhando sem uma função de conhecimento, no caso, um curso técnico. Estou precisando dessas parcerias, estou buscando essas parcerias e enfatizando também, para dar veracidade ao nosso trabalho, eu não administro um real dentro dessa usina. Eu não administro recursos.
Tudo aqui é pago por Belém, os funcionários são contratados por Belém, não contratam ninguém aqui, todo o sistema aqui também é seletivo e no caso da Fábrica é direto, mas é tudo por Belém. Por exemplo, eu não aceito doação em dinheiro, a usina não permite isso, o projeto não permite, mas nós aceitamos que a pessoa possa doar a cesta básica para as pessoas que estão passando fome, se a pessoa quiser doar um tempo dela para ministrar um curso para a sociedade, nós liberamos o espaço.
Nós não administramos recursos, nós administramos serviços e pessoas, sendo que toda a administração é do DAF [Diretoria Administrativa Financeira, estrutura vinculada à Casa Civil do Governo do Estado].

6) Blog do Branco: As Usinas são geridas pela nova organização institucional do segundo mandato do Helder, a Secretaria de Cidadania, comandada pelo deputado estadual licenciado Igor Normando (Podemos)…

R: A equipe dele me ligou, a adjunta já confirmou que até o final do mês estará aqui. E tem programação também já, provavelmente, a vice-governadora [Hana Ghassan]  estará visitando todas as Usinas, e o próprio secretário tem a programação de estar visita esses espaços. Então, tem problema, é uma instituição nova, mas tem, sim, problemas estrutural, tem problemas que precisa ser resolvido, porque existe o uso e no uso ela desgasta, né? Então, no desgaste nós temos que rever. Mas são coisas pequenas que a Secretaria resolve, mas a nova gestão está programando que até o final do mês estará aqui.

7) Blog do Branco: o senhor tocou um ponto sobre a questão da violência e apologia que se fez nos últimos anos a isso. Então, é muito interessante você desconstruir esse imaginário que a sociedade, ou grande parte dela, criou nos últimos anos. A gente vive num país extremamente dividido hoje, polarizado, e as ações do governo caem muito nisso, né?

R: Como você falou, eu não disponibilizo nem nada que fomente um jogo ou uma ação de nível violento, alguma coisa assim. Tudo no âmbito lúdico, para a criançada, a gente construir essa violência no entorno que a gente tem, né? É engraçado porque dizem que Parauapebas não precisaria da Usina, né? Porque é uma cidade rica, uma cidade que tem um orçamento bilionário e que deveria se construir uma Usina num local em que, de fato, haja necessidade.
Que é um falso engano, porque a gente sabe que existe muita pobreza, infelizmente, em nossas cidades, existe uma concentração de riqueza e a Usina tem um trabalho muito grande.

8) O Blog do Branco agradece por essa entrevista e lhe deixo à vontade para deixar uma mensagem aos leitores

R: Eu que agradeço, Branco, porque você tem uma função dentro da sociedade que muitas vezes a própria sociedade não entende, assim como não entende da questão de Parauapebas ser uma cidade rica e não ter uma Usina, de achar que é o município que tem que construir. Voltando aqui para o último, eu estou dizendo que eu que te agradeço pelo carinho, porque é o seguinte, é como eu te falei, a tua responsabilidade é de prestar serviço através de informação.
E a informação, Branco, ela tem que ser transparente, clara, isenta de interesse, porque a partir do momento que você faz isso, você informa a sociedade de uma forma correta e a sociedade precisa hoje, com o advento da informática, do computador na sua mão, que é o celular, existem muitas pessoas maldosas fazendo maldade, com fake News, estão destruindo famílias, tem pessoas depressivas e levando a suicídio em função de uma informação que a pessoa coloca lá.
E você no âmbito político, social, cultural, que você abrange todas essas áreas, eu que agradeço por você estar me entrevistando e tornando muitos assuntos aqui públicos, porque muitas vezes, às vezes, nem conhece. A Usina está à disposição da sociedade de Parauapebas. É o governador Helder Barbalho dizendo que políticas públicas do governo dele estão dentro de Parauapebas.

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