Escrever sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), ou melhor, sobre as decisões do mandatário nacional nunca foi fácil, justamente pelo alto nível de imprevisibilidade do mesmo em relação aos mais variados assuntos. Na última sexta-feira, 24, escrevi aqui sobre a escolha de quem poderia ser o vice na chapa de Bolsonaro. O presidente tinha preferência pelo seu ex-ministro da Defesa, o general Braga Netto, mas a questão ainda não havia sido fechada, justamente, pela possibilidade – a depender do cenário político-eleitoral – da escolha ser por um outro nome, justamente um que agregasse mais apoio, ampliando adesão em setores em que Bolsonaro precisa avançar, como, por exemplo, o eleitorado feminino.
O nome mais ventilado era da ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina (PP-MS) que teria como objetivo fechar o apoio em massa do agronegócio e aproximar o presidente do eleitorado feminino. A deputada federal estava almejando disputar o Senado Federal, mas não deixaria de aceitar o convite de Bolsonaro, caso ele ocorresse. Mas ele não veio e nem virá. Em entrevista a um programa no Youtube, Bolsonaro tornou público a sua escolha. Braga Netto será o seu vice. A decisão será oficializada nos próximos dias, mas segundo o presidente já está “batido o martelo”.
Portanto, a exemplo de 2018, Bolsonaro mantém em sua chapa um militar, outro general. Todavia, diferente de 2018, essa decisão cria certa apreensão no atual contexto. Tal escolha teria como objetivo manter a postura de enfrentamento perante outros poderes? Seria um claro sinal de apoio das Forças Armadas ao presidente? Uma possibilidade de ruptura institucional? Manter o ataque ao Tribunal Superior Eleitoral?
Sob o ponto de vista político, o que o Centrão achou da escolha? Foi consultado já que esperava que o vice fosse da classe política e não militar? Ou fez pouco caso, haja vista, que no atual contexto de supremacia do Congresso Nacional em relação ao governo, o vice tornou-se menos relevante do que era?
Sob o ponto de vista eleitoral, a escolha por um militar limita a possibilidade de expansão do eleitorado de Bolsonaro; por outro lado, fideliza os mais radicais que o seguem. A questão é: sem expandir sua base eleitoral, o presidente conseguirá chegar ao segundo turno? Se chegar conseguirá se reeleger? A ver.
Imagem: Rede Brasil.