Floresta Amazônica pode ter ultrapassado ponto de não retorno

A floresta amazônica, considerada um dos principais reguladores climáticos do planeta, pode ter ultrapassado o chamado ponto de não retorno. O conceito foi formulado pelos cientistas Thomas Lovejoy e Carlos Nobre em 2018, ao alertarem que, caso o desmatamento atingisse entre 20% e 25% da área total, a Amazônia perderia a capacidade de se autorregenerar, caminhando para um processo de savanização. Nesse processo, a floresta seria substituída por uma flora mista entre serrado e savana africana, com grande impacto na circulação de umidade na América do Sul.

Estudos recentes indicam que esse cenário não é mais uma projeção distante. Pesquisas mostram que o desmatamento acumulado em algumas áreas já chega a valores próximos de 25%. Mais grave ainda, o chamado “arco do desmatamento” — uma extensa faixa que cruza a floresta em seus limites a leste e sul — funciona como uma barreira que impede a reposição da umidade atmosférica. Esse bloqueio compromete a recirculação das chuvas, essencial para a manutenção do bioma e para a irrigação de outras regiões do Brasil e países vizinhos.

O funcionamento do ciclo amazônico é conhecido: a umidade do Atlântico precipita na floresta, infiltra-se no subsolo e retorna à atmosfera pela evapotranspiração proporcionada pelas grandes árvores. Os ventos carregam essa umidade para o oeste e, ao encontrar os Andes, parte dela se espalha em direção ao Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além de atingir Paraguai, Uruguai e Argentina. Esse processo, conhecido como “rios voadores”, é vital para o equilíbrio hídrico do continente.

Quando a cobertura de árvores é suprimida, a floresta perde a capacidade de reciclar a água. O resultado é a redução no volume de chuvas, com reflexos diretos já perceptíveis. Pesquisa realizada na Universidade do Porto, em parceria com a USP, mostra que 11 hidrelétricas no centro do Brasil tiveram queda significativa na vazão afluente, ou seja, na quantidade de água recebida naturalmente pelos reservatórios. Exemplos de usinas como Emborcação, Furnas e Itumbiara revelam reduções médias preocupantes desde a segunda década dos anos 2000.

O problema também se manifesta no abastecimento urbano. O Sistema Alto Tietê, responsável por parte da água que atende a Região Metropolitana de São Paulo, registra volumes de chuva abaixo da média histórica, em grande parte pela diminuição da umidade transportada da Amazônia.

Embora a taxa de desmatamento tenha oscilado nos últimos anos, o fato é que nunca houve desmatamento zero. O processo se acumula desde a década de 1970 e já produz efeitos sobre clima, agricultura, geração elétrica e abastecimento de água.

A noção de ponto de não retorno foi essencial para mobilizar a opinião pública e pressionar governos. Mas as evidências atuais sugerem que essa barreira já foi cruzada no arco do desmatamento, transformando a região em uma trincheira contra a recirculação de umidade.

Uma taxa “menor” de desmatamento acumulado em todo o bioma pode dar a falsa impressão de que ainda temos algum tempo para reverter a situação, mas basta que uma extensa região – como o arco do desmatamento – seja suficientemente afetada para reduzir a circulação de umidade em grande parte da floresta.

As consequências vão além da Amazônia: comprometem a segurança hídrica e energética do Brasil e de países vizinhos. A inação, alertam os pesquisadores, pode agravar ainda mais um processo de ruptura ambiental de grandes proporções.

Por Pedro Côrtes (CNN Brasil)

Imagem: reprodução 

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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