Fora do ninho tucano

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Ainda mais cedo, João Dória, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, anunciou a sua saída do PSDB, partido em que esteve filiado por 22 anos. Era, sem dúvida, algo esperado. Não havia mais clima entre o citado e a legenda. Ao fim, ocorreu uma total incompatibilidade entre as partes, como um casamento que não deu certo.

Poucos sabem que Dória passou todo esse tempo filiado ao ninho tucano. Muitos só associam o início de sua trajetória política ao ano de 2016, quando foi lançado pelo então governador Geraldo Alckmin, à época no PSDB, como candidato a prefeito de São Paulo. Venceu em primeiro turno. Dois anos depois, começou o processo de deterioração da relação com a legenda, quando se lançou à revelia de Alckmin – que queria o seu vice, Márcio França (PSB) – ao governo de São Paulo, em 2018. O então prefeito paulistano venceu no segundo turno – com claro e necessário alinhamento com o Bolsonarismo.

Se elegeu ao lado de Jair Bolsonaro (então no PSL) e mais à frente rompeu com o presidente. Tornou-se alvo de bolsonaristas e petistas, cenário que fez subir muito o seu índice de rejeição. Por dois anos, Dória tentou emplacar seu nome nacionalmente, visando à eleição presidencial deste ano. Se colocou como sendo uma “terceira via” aos “extremos” que ele citava como algo muito ruim ao país. Ganhou a disputa interna do partido contra Eduardo Leite, então governador gaúcho, se lançando como pré-candidato ao Palácio do Planalto. O PSDB nunca o quis como o candidato presidencial do partido. Dória deixou o Palácio dos Bandeirantes e logo em seguida desistiu da disputa nacional. Se isolou e voltou à iniciativa privada.

Sua desfiliação do PSDB era uma decisão esperada. O partido perdeu após 28 anos, a joia da coroa: governo de São Paulo. Poderá perder ainda a gestão gaúcha. No ninho tucano, o último que sair que apague a luz.

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA

“Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa e menos desigual.

A omissão, a letargia e o imobilismo jamais fizeram parte da minha vida. Não cruzei os braços ao encarar problemas que afligem São Paulo e o Brasil. A exemplo de minha conduta como empresário, preferi encarar os desafios da vida pública com determinação, foco e resiliência.

Enquanto alguns atores da política se omitiam durante a mais grave pandemia dos últimos cem anos, lutei desde o início para que nosso povo tivesse acesso a uma vacina contra a Covid-19. Atuei, acima de tudo, pela defesa da vida e da saúde dos brasileiros. Jamais cedi ao negacionismo ou a falsidades que contrariam a ciência. Tenho muito orgulho do sucesso liderado por São Paulo que ajudou a salvar 124 milhões de vidas no Brasil, que tomaram a vacina do Butantã.

Comandei gestões transformadoras e ousadas que deixaram conquistas, que agora, pertencem ao povo de São Paulo. Entregamos o Novo Museu do Ipiranga, despoluímos o Rio Pinheiros, multiplicamos por dez as vagas em escolas de tempo integral, promovemos o crescimento econômico de São Paulo cinco vezes mais do que o Brasil, geramos mais de 2 milhões de novos empregos, modernizamos mais de 11 mil quilômetros de rodovias e ampliamos, substancialmente, o acesso a programas como Poupatempo e Bom Prato. Unimos, de forma inédita, o poder público e iniciativa privada em um Comitê Solidário que arrecadou mais de R$ 2 bilhões para combater a fome e a carestia. E criamos o Bolsa do Povo, o maior programa de assistência social e transferência de renda da história de São Paulo. Meu agradecimento ao Rodrigo Garcia e à brilhante equipe que tivemos no governo de S. Paulo.

Reconhecido até por nossos adversários, o ótimo trabalho do PSDB na Prefeitura de São Paulo e no Governo do Estado permitiu a reeleição, em 2020, de meu querido e saudoso amigo Bruno Covas, para um novo mandato à frente da mais importante metrópole da América do Sul. Infelizmente, Bruno nos deixou cedo demais.

Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964. Vencí todas as eleições das quais participei. Por três vezes fui eleito em prévias partidárias pelo voto soberano da maioria dos filiados do PSDB. Fui eleito no primeiro turno para Prefeito da capital paulista, em 2016. E em 2018 vencí a eleição para o governo de São Paulo. Sou e sempre serei um homem que se pauta pelo equilíbrio, diálogo, consenso e gratidão.

Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida. Orgulhoso pela contribuição que pude dar a São Paulo e ao Brasil, graças à generosidade e à confiança de todos aqueles que optaram pelo meu nome em três prévias e duas eleições. Com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro. E sempre em defesa da democracia, da liberdade do progresso social.”

Imagem: reprodução internet.

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