Jair Bolsonaro está isolado politicamente. Isto é fato. Não tem apoio da ampla maioria dos governadores. Alguns destes assumiram o protagonismo do combate à Covid-19, diminuindo consideravelmente a musculatura política do presidente na questão. Bolsonaro continua – mesmo indo de encontro ao resto do mundo – a diminuir a importância da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Mantém a sua posição, apesar de perder apoio, de que o país precisa voltar as suas atividades normais, ou seja, a economia de volta à normalidade. Se referiu em pronunciamento em rede nacional a “gripizinha”, quando o país já registrava mais de uma centena de mortos por conta do vírus.
Os países que romperam o isolamento ou o fizeram rígido tardiamente, pagam hoje com milhares de vidas a postura. Conforme os especialistas falam, o Brasil ainda não teve o aumento no nível da chamada “subida da curva”, ou seja, ainda caminhamos para esse crescimento que, inevitavelmente ocorrerá. A questão – como já tratado aqui – é como achatar essa subida? Não há outra alternativa do que manter e até, se for o caso, aumentar o isolamento social. Algo que está perdendo força no Brasil.
Voltando ao presidente… Bolsonaro perdeu apoio até de apoiadores próximos. Por sua narrativa, criou dentro do próprio governo uma divisão de posicionamento. De um lado os que defendem as medidas do Ministério da Saúde, sob a liderança do ministro Henrique Mandetta. Do outro os que defendem o posicionamento contrário do presidente. E quem são os que o defende? Basicamente estão situados na chamada “ala ideológica”, tema que já foi tratado aqui diversas vezes.
Bolsonaro hoje está recluso neste recinto que tem como mentor o autointitulado filosofo: Olavo de Carvalho. A ala militar muito presente no Palácio do Planalto deixa claro que não apoia a postura e narrativa do presidente. O isolamento político está posto. A popularidade cai, panelaços ocorrem diariamente. Bolsonaro parece falar para si dentro do próprio governo. E isso não ocorre desde agora, mas atualmente em altas proporções.
Em março de 2019, com três meses de governo, escrevi: “Bolsonaro virou Chefe de Estado. Porque de Governo está difícil”. Artigo em que já tratava do que estava posto: a incapacidade gerencial do presidente. O contexto era outro, mas as evidências de problemas de gestão e articulação já estavam postos. Conforme escrevi recente, uma crise de proporções como a que estamos vivendo, a nível de pandemia, requer habilidade e, sobretudo, união para lidar. Atributos mínimos que faltam a Bolsonaro. A Covid-19 separa homens de meninos.
Os principais fatos políticos de 2019, foram conduzidos por outros agentes políticos e não pelo presidente. Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e Senado, respectivamente, assumiram protagonismos que há tempos não se via. E por que? Simples: em política não há vácuo de poder. E Bolsonaro por sua incompetência gerencial promove exatamente essa ausência, que logo é preenchida. No caso atual, isso ocorre com os governadores em relação ao combate à pandemia do novo coronavírus.
No campo da racionalidade, quem diverge de Bolsonaro se destaca, mesmo defendendo e atuando em favor do óbvio. Esse é o caso de Henrique Mandetta, que tornou-se – por sua atuação na crise – um agente político indemissível. Bolsonaro quer demiti-lo, mas não pode. Ou melhor, não tem força política para isso. O citado ministro no momento, tem mais popularidade do que o chefe. Além de ter apoio no Congresso Nacional.
O isolamento político que o presidente vive, foi imposto pelo próprio. E ele ocorreu por sua incompetência gerencial. Só quem ainda o escuta são os que compõe a ala ideológica, àquela que gera crises, alimenta teorias conspiratórias e garante o combustível para a militância virtual. Manter o tal “gabinete do ódio” no terceiro andar do Palácio do Planalto, na entre-sala presidencial tem um preço. O isolamento político é só o começo.