Márcio Miranda carrega o pesado fardo das gestões tucanas

Faltando três semanas para a eleição ao governo do Pará, o cenário está posto. O candidato do MDB, Helder Barbalho, lidera com folga todas as pesquisas. Os levantamentos o colocam de 15 a 20% (dependendo do instituto de pesquisa e a metodologia utilizada) à frente do candidato do governo, o Democrata, Márcio Miranda. A última pesquisa Ibope indicou que o ex-ministro da Integração Nacional poderá vencer a eleição em primeiro turno; outros institutos apontam para a definição do pleito só em segundo turno.

Na semana passada escrevi sobre a repetição da tática eleitoral de Simão Jatene, que mantém a mesma estratégia de 2014 (para entender leia aqui), ou seja, segurar e concentrar as principais ações para o “segundo tempo”. A questão é que na atual disputa, o atual governador não está concorrendo, e sim, o seu escolhido, um deputado estadual, presidente do Poder Legislativo, desconhecido por um considerável quantitativo do eleitorado. Além desta questão, que pode ser diminuída aos poucos através de forte marketing, há algo mais “pesado” para o candidato do Democratas: ser o representante da dinastia tucana no Pará no auge de sua rejeição.

São 20 anos de governos tucanos, e após esse longo período os índices sociais não melhoraram. Jatene passará a faixa ao próximo governador, que terá muito trabalho, independente de ser seu adversário político ou aliado. Áreas como saúde, educação e segurança pública não há o que comemorar. Os dados são preocupantes. O discurso palaciano é o de controle, austeridade e que o Estado do Pará é um dos poucos da federação em que o pagamento do funcionalismo está em dia, sem atraso. Contudo, o discurso oficial não diz que esse feito só é obtido através de um dos índices mais baixos de investimentos da história republicana paraense. Ou seja, o custeio da máquina é mantido através da uma considerável renúncia de investimentos.

Márcio Miranda sabe que a sua situação na condição de candidato do grupo que governa o Pará há duas décadas é complicada. Como convencer o eleitorado que a sua vitória representará mudança na forma de governar o Pará? Como convencer o eleitor que a sua chegada ao posto político mais importante da política paraense resultará no rompimento com esse modelo de gestão do território, comprovadamente concentrador e que aumentou as assimetrias regionais? Como prometer mudança se o grupo político atual se manterá no governo, caso Miranda ganhe? Talvez essas incertezas estejam segurando a sua margem de crescimento nas pesquisas.

Além disso, o candidato Márcio Miranda não emplacou. Não possui carisma, não tem perfil para disputar cargos majoritários. Sua apresentação em peças publicitárias, entrevistas ou encontros se assemelha a de um robô, ou no mínimo, algo robotizado. Não passa naturalidade e espontaneidade. Tudo é ensaiado. Como se sairá nos debates televisivos? O seu perfil é legislativo, tanto que a sua pretensão era concorrer ao Senado Federal. Mas Jatene o convenceu de disputar o governo.

Os tucanos no início não aceitaram a indicação de um nome que não fosse do partido. Simão contornou a situação com acordos (geralmente com cargos e garantias de espaços no novo governo) foi acalmando cada questionamento. O mais rebelde foi o prefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro, que publicamente mostrou toda a sua insatisfação com a indicação de Miranda.

Parece que agora com o distanciamento de Helder Barbalho nas pesquisas, a unidade em prol do candidato democrata parece ter sido definida como prioridade. Os problemas e acordos, em caso de vitória, serão debatidos em outro momento. A ordem é “arregaçar as mangas”. É a velha postura em disputa eleitoral: melhor apoiar e fazer campanha mesmo descontente, do que ficar sem nada futuramente. A questão é o pesado fardo que Márcio Miranda carrega. O presidente da Alepa têm dois grandes adversários: os Barbalho e a defesa de um projeto de governo que se esgotou. Se Miranda vencer, será uma dupla vitória. A questão é saber se o Pará aguenta mais quatro anos de dinastia tucana, agora em nova roupagem.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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