A mais recente pesquisa Ibope ao governo do Pará gerou polêmica em diversos sentidos. Primeiro, no contratante para o levantamento dos dados, a Faepa. Segundo, os números apresentados: alargou a intenção e voto do ministro Helder Barbalho e reduziu a margem de crescimento de Márcio Miranda, o candidato oficial do governo do Estado.
O resultado divulgado pelo Ibope destoou ao que vinha sendo divulgado por consultas anteriores. Se a referida pesquisa estiver certa e as anteriores estiverem mensurando erroneamente o pré-cenário eleitoral, ela indiretamente estará revelando outra estratégia, de cunho pessoal do governador Simão Jatene.
O ex-governador Almir Gabriel, já falecido, foi um dos principais alicerces (juntamente com Jader Barbalho) para que Jatene deixasse de ser um funcionário público na função de economista, atuação burocrática, para se tornar aos poucos uma liderança política. Durante os dois mandatos de Gabriel (1994-2002), Simão foi seu secretário e tornou-se seu sucessor, com apoio de Gabriel, que colocou a máquina estadual totalmente voltada ao seu então pupilo para fazê-lo o próximo governador, mantendo assim o seu grupo político no poder.
O acordo era simples: Jatene comandaria a política paraense por quatro anos, para a volta de Almir em 2007, podendo, se a idade permitisse, se reeleger pela segunda vez. Jatene que havia concordado no início com o acordo, na hora de “abrir passagem” e trabalhar em prol de Gabriel, fazendo o inverso do feito em 2002, resolveu deixar o cenário eleitoral de lado. Resultado é conhecido por todos: Ana Júlia venceu a eleição e tornou-se a primeira mulher a governar o Pará, dando início ao primeiro e parece que será o único governo petista a ter tido estadia no Palácio dos Despachos.
Claro que a derrota de Almir na eleição de 2006 não foi só pela falta de apoio de Jatene, mas por diversos fatores que levaram à derrocada tucana, forçando a única interrupção até hoje em duas décadas de gestões do PSDB no governo do Pará. Almir nunca perdoou Simão por tal atitude. Até a sua morte (2013) nunca voltariam a se falar. Gabriel sempre dizia em entrevistas que Jatene não é de confiança, não é um homem de palavra, de partido, e que só pensa em si, que deixa os seus interesses pessoais sempre à frente do coletivo, da legenda no qual faz parte.
No ano seguinte, em 2014, o ex-senador Mário Couto reafirmou as afirmações de Almir Gabriel. Não aceitou o não cumprimento dos acordos acertados e o não apoio do governo do Pará a sua reeleição ao Senado. Tanto ele, quanto o também candidato, Helenilson Pontes morreram abraçados, assistindo a vitória do petista Paulo Rocha.
Há quatro anos existia a mesma situação de impasse de hoje. Jatene não confirmava se concorreria à reeleição (modalidade condenada publicamente pelo próprio governador, que sempre se colocou contra o segundo mandato em sequência) e que haviam fortes rumores que iria apoiar o seu vice, Pontes, para a disputa. Nada disso se concretizou…
O cenário de 2018 não parece ser diferente dos períodos anteriores citados. Jatene será candidato, e quer o Senado. Serão oito anos de mandato para encerrar a sua carreira política. Para isso, e levando em consideração o seu perfil de atuação, sempre mais pessoal e menos coletivo, Simão precisava remover de seu caminho os adversários (mesmo aqueles de dentro de sua base de governo).
Márcio Miranda (DEM) está em seu terceiro mandato na Alepa. É o presidente da Casa, admirado e respeitado. Faz uma gestão que consegue unir adversários e vem mantendo há anos um ótimo nível de relacionamento grupos políticos contrários e também reconhecido volume de trabalho e ritmo de funcionamento do parlamento. Desde o ano passado seu nome é cogitado ao Senado, com apoio maciço de seus colegas parlamentares e lideranças. O seu próprio perfil o define como um político de caráter e atuação legislativa.
Jatene sempre soube disso. Sabe também que a sua candidatura juntamente com a de Miranda poderia rachar a base e criar um autofagismo eleitoral a ambos, tornando o caminho mais fácil para o lado oposicionista, como ocorreu, em 2014. Por isso, Simão não hesitou em definir logo, antes da hora, e fora do ninho tucano, o nome de Miranda para lhe suceder ao Palácio dos Despachos. Assim, a priori resolve o seu problema e sacrifica o próprio partido, tirando um poderoso concorrente do caminho e o colocando em embate com Helder na disputa ao governo.
Números da pesquisa Ibope afirmam na entrelinha isso. Miranda possui quase o dobro de votos ao Senado do que os que reúne ao governo. Jatene sabe que as suas duas últimas gestões, em especial a última foi aquém do esperado e isso será decisivo contra Miranda na campanha. Simão justifica a escolha de seu sucessor pelo desgaste que os principais nomes do PSDB possuem no Pará e que, por isso, teve que buscar uma opção fora do partido. O presidente da Alepa parece já ter percebido a manobra de Jatene. Resta saber se ainda voltará da decisão, ou tentará o caminho mais difícil politicamente. O ex-governador Almir Gabriel sempre esteve certo sobre Jatene.