Wilson José Witzel ao ter sido eleito governador do Rio de Janeiro, prometeu endurecer ao máximo as ações do Estado contra o poder paralelo que domina as comunidades da capital fluminense. Para isso, e por isso, foi eleito. Seguindo a lógica de ação da “onda bolsonarista” que tornou-se um fenômeno nas urnas, em 2018, Witzel quase criou um personagem para si. E já nos primeiros dias no cargo de governador, ordenou diversas operações policiais nos morros cariocas. Ações misturaram-se com cenas de cinema, uma pirotecnia de fazer inveja a Hollywood.
Concomitantemente a isso, sua narrativa também seguiu o mesmo caminho. Estava claro que não haveria complacência e que as ações do Estado seriam duras. A questão da segurança pública no Rio de Janeiro é algo complexo. O caos está instaurado há décadas, desde quando os morros, as chamadas comunidades começaram a se formar, isso em meados dos anos 60 do século passado, e esse crescimento urbano desordenado, sem planejamento, teve total ausência do Estado. O poder não permite vácuo. O espaço é e sempre será ocupado por alguém ou por algo. E assim se constituiu o poder paralelo, que antes era representado pelos grupos de traficantes; hoje o espaço é tomado pelas milícias.
O Poder Paralelo montou a sua base de operação nas favelas, que possuem uma topografia muito complexa, no caso do Rio de Janeiro. Há algumas, como a Rocinha que hoje reúnem 500 mil pessoas. No ano passado, o governo Michel Temer decretou intervenção federal no Rio de Janeiro, justamente pelos altos índices de violência que tomavam conta da cidade. A ação federal mostrou pouca eficácia na prática. A questão da segurança pública tornou-se o fator mais importante da eleição, e assim Witzel foi eleito, sem nunca ter disputado uma eleição.E não só ele, assim como o presidente da República.
Os dados sobre a segurança pública no Rio de Janeiro na atual gestão são oscilantes, caem e sobe mês a mês. Números analisados pela Agência Lupa, a primeira agência de Fact-Checking do Brasil, sob domínio do Uol, questionou os números sobre segurança pública apresentados pelo governador fluminense. Os dados desmentidos podem ser acessados aqui
O combate está ocorrendo da pior forma possível, através de ações truculentas, como a de helicópteros que sobrevoam comunidades, distribuindo tiros a esmo, sem critérios. Não há dúvida que o atual governo é o mais enérgico na questão da segurança pública. Witzel quer tornar o Rio de Janeiro mais seguro, e isso será a sua marca, seu trampolim, para quem sabe, disputar a Presidência, já em 2022.
A questão é a forma de como esse combate está sendo feito. A morte da menina Ágatha, de oito anos, atingida por uma bala perdida quando estava dentro de uma Kombi, no Complexo do Alemão, no último dia 20, tomou repercussão nacional. E abriu um grande questionamento sobre o modus operandi das ações planejadas pelo Estado para o combate ao crime. No caso, a Polícia Militar informou que o triste ocorrido foi por conta do revide que se foi necessário fazer ao ataque sofrido. Desde janeiro, quando Witzel assumiu o cargo de governador, cinco crianças já perderam a vida por serem atingidas por balas, e todas moravam em comunidades carentes. Por 48 horas, as maiores autoridades do país na área da segurança, se calaram sobre o caso da morte de Ágatha. Por conta da repercussão, os governos emitiram as já conhecidas notas à imprensa.
Está claro que essa metodologia de combate à violência, pelo confronto direto não será exitosa. Nem o modelo de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) – tema já abordado por este blog em alguns artigos, que tinha como base a presença do Estado, esta não só pela presença da polícia em si, mas através de ações sociais (o que foi foram se desidratando pela crise econômica e diminuição de seus orçamentos). O combate aos grupos de traficantes está intensificado, e contra as milícias?
Na atual conjuntura, está instaurado no Rio de Janeiro o “Estado Witzel”. E ele é energético, sobretudo, nos espaços ocupados pelo poder paralelo. O caso Ágatha é uma triste constatação. Infelizmente outros virão. O Estado está formatado ao perfil de seu comandante, que incorporou um soldado em guerra. O problema é que muitos inocentes perderão as suas vidas.