Pelos dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 542 mil (números redondos) habitantes, espalhados por dezesseis municípios limitados territorialmente por 40,1 mil km². Essa área forma a maior ilha costeira do Brasil, e a maior ilha fluviomarítima do mundo (banhada concomitantemente tanto por águas fluviais quanto por oceânicas).
As belezas naturais são o contraste com o que se encontra na questão socioeconômica. O IDH, que mede três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde; no caso dos municípios marajoaras a média é abaixo do aceitável (índice vai de 0 a 1 e os locais com IDH abaixo de 0,499 têm sérios problemas em seu desenvolvimento humano; os que estão entre 0,500 e 0,799 têm desempenho mediano e apenas os que estão acima de 0,800 têm alto desenvolvimento). Melgaço, por exemplo, em 2013, apresentou o IDH de 0,418 o mais baixo de todo o país.
O que se percebe – na prática intermitente de renovação da esperança – é que a cada pleito eleitoral (municipal e estadual) novas ou requentadas narrativas são colocadas na pauta política do arquipélago. A esperança mais contundente em relação às políticas públicas no território marajoara ocorreu em 2007, por ocasião do lançamento do “Plano Marajó”. Tratou-se de um “plano estratégico de desenvolvimento regional, referenciado no Plano Amazônia Sustentável (PAS), que estabelece novos paradigmas para o desenvolvimento da Amazônia Brasileira e suas sub-regiões” – pelo menos é o dizia o documento oficial, em sua parte de apresentação para a opinião pública, no referido ano. Mais um daqueles arranjos teóricos empolgantes, construído dos escritórios refrigerados de Brasília, como um manual pronto e acabado.
O plano entrou no Plano Plurianual (PPA) de 2008 a 2012, com investimentos previstos de quase R$ 2 bilhões, distribuidos em 190 ações de infraestrutura, sobretudo em rodovias; atenção básica de saúde (centrado no combate ao intermitente surto de malária); e em todo ordenamento territorial da região, buscando a otimização de ações econômicas e fomentassem emprego e renda locais.
Portanto, os governos do PT (Lula e Dilma) e agora o de Temer, deram um “drible” no Marajó. Nem a dinastia tucana que governa o Pará desde 1994, com a interrupção de quatro anos (gestão de Ana Júlia Carepa, até então no PT), não conseguiu minimamente criar arranjos institucionais de desenvolvimento aos mais de meio milhão de marajoaras.
Da mesma forma que o jornalista Lúcio Flávio Pinto diz que o problema da Amazônia é ser assentada no Brasil; digo que o problema do Marajó é pertencer ao Pará. Além do descaso histórico dos governos federal e estadual; há nos municípios marajoaras a instauração do que sempre chamei de “apologia à incompetência” (o descaso e o despreparo da ampla maioria dos agentes políticos do arquipélago; além da resistência aos que vem de “fora” – neste sentido aos que não moram no Marajó, mesmo sendo paraenses).
De ação prática foi só o recebimento de energia proveniente do Sistema Integrado Nacional, através de cabos subaquáticos que conectaram a ilha ao continente; eliminando as “quedas” e corriqueiras instabilidades na transmissão. Como disse LFP: “parece que as autoridades consideraram realizada a sua missão com esse investimento. Talvez acreditem que basta fornecer energia firme para acontecer o progresso”.
Os dois principais nomes que disputam o governo do Pará, Helder Barbalho (MDB) e Márcio Miranda (DEM), deverão colocar em seus respectivos planos de governo (ainda a serem anunciados), ações em favor do Marajó. Serão os já esperados arranjos desenvolvimentistas já conhecidos. Mas que na prática – independente de quem vença a disputa – a tendência é que a perversa realidade marajoara continue.
Mais uma eleição pelo governo do Pará acontecerá, e o marajoara se resumirá a assistir do outro lado da baia o processo; esperando que um dia a classe política paraense resolva – de fato – integrar o arquipélago de dezesseis municípios e mais de meio milhão de habitantes ao território paraense.