No último domingo, 31, as ruas de algumas cidades, em especial, as da capital paulista, foram tomadas por outro tipo de manifestação: contra o presidente Jair Bolsonaro e o fascismo. Majoritariamente composta por torcedores dos quatro maiores times paulistas (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos), com quantitativo maior de corintianos.
Antes esses espaços públicos eram majoritariamente tomados por bolsonaristas, que se acostumaram a defender e propagar os maiores absurdos, dentre eles, o retorno da ditadura e fechamento do Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. Estes manifestantes sempre estiveram sozinhos, sem contraponto às suas ideias e projetos, agora, não mais. Dividirão as ruas com quem pensa e age contrariamente. É evidente (e as ultimas manifestações deixaram o apoio nas ruas ao presidente vem diminuindo), a cada chamada, menos pessoas aparecem. Isto está ligado ao descontentamento de muitos com a postura do presidente, sobretudo, na questão da pandemia.
Atualmente as pesquisas apontam que Bolsonaro possui 30% de apoio. Esse índice já foi bem maior. Vem regredindo e pode ter chego ao que se pode apontar de piso, justamente a porcentagem citada. Cairá o apoio ao presidente? Dificilmente. Esse índice é formado pelos bolsonaristas ortodoxos, ou seja, ala radical, altamente ideológica e, que, independente do que o presidente fizer ou falar – por mais tosco e desumano que seja -, estará lhe apoiando.
A questão é que, agora, há um contraponto instituído. O último domingo, 31, firmou isso. O próximo, 07, deverá ter um número muito maior de manifestantes contra o presidente e a qualquer medida ou pretensão de atacar a democracia. Grupos e movimentos antifascistas se proliferam no país. Grande parte da opinião pública apoia. Parece que a corda que o presidente Jair Bolsonaro esticava livremente, agora não será mais possível, não, pelo menos, da forma que estava se fazendo. Mas caso faça, a resistência agora será maior.
A tomada das ruas por parte de grupos oposicionistas ao presidente é algo bom? Sim, pois não deixa de ser um movimento de resistência e mostra ao mandatário da nação e a seus apoiadores, que que não pode fazer tudo que queira. Há limites. Por outro lado, tem o seu lado ruim. Neste caso, e como já dito neste blog dezenas de vezes, o Bolsonarismo é nutrido, vive, se mantém funcionando e opera sob um combustível: o conflito.
Domingo ocorreram confrontos entre apoiadores e não apoiadores do presidente na avenida paulista. O caso só não tomou contornos piores porque a Polícia Militar interveio (algo que foi altamente questionável e polêmico, pois a PM reprimiu fortemente os que se posicionaram contra o o governo) e nada fez contra os excessos dos apoiadores.
Com as ruas divididas, subimos mais um degrau na escada Bolsonarista, e agora estamos no nível que Bolsonaro queria: a desordem. Estando nela, o cenário poderá permitir – dentro de um marco legal – a convocação as Forças Armadas, sob a justificativa de manter a ordem. Com as FFAA nas ruas, tudo muda. Fica mais fácil – sob a ótica presidencial – ter o apoio e promover a ruptura democrática.
Não se faz necessário criar teorias conspiratórias para saber, basta entender um pouco de política, e analisar ações e sinais, que se percebe que Jair Bolsonaro tem como objetivo criar uma ruptura institucional; ataque à ordem democrática. Apoia manifestações que pedem o fim de outros Poderes da República. Defendem o que chamo de “terraplanismo republicano”, ou seja, só um poder.
A questão é: para dar o golpe que pretende, Bolsonaro precisa de um nível maior de apoio social, bem acima dos 30% que possui, segundo pesquisas; e, também, apoio das Forças Armadas. Ele tem? Sim, mas de um grupo pequeno. Não o suficiente para ter ao seu lado um movimento militar que permita tal ruptura. Como já dito neste Blog, inúmeras vezes, o Bolsonarismo não cabe dentro do Estado de Direito, dentro da separação dos Poderes, pois não se submete a tal controle; não permite, por exemplo, a ação de freios e contrapesos que o Legislativo e a Justiça possuem para conter qualquer ação fora do quadrante democrático e republicano.
Como dito, as ruas serão palco de confrontos entre apoiadores e adversários do presidente. Se a tensão aumentar, o Bolsonarismo estará no cenário perfeito a ele: confronto e embate. Neste estágio, suas pretensões e desejos tornam-se mais realizáveis. O próximo domingo será um termômetro. A ver.