O ex-candidato a prefeito de Parauapebas, Júlio César (PRTB), que havia denunciado ter sofrido um atentado político no dia 15 de setembro de 2020, oportunidade que o então candidato estava em uma camionete em companhia de mais três pessoas, cumprindo agenda de campanha na Vila Carimã, na zona rural, distante 40 km da sede do município.
No retorno, a camionete em que os quatro estavam, foi interceptada por outro veículo com – segundo a versão dada pelo ex-candidato e as pessoas que o acompanhavam – três elementos atiraram em direção a eles. Júlio César foi atingido com um tiro no peito que atravessou o seu corpo, saindo pelas costas. O candidato foi atendido em um hospital particular e dois dias depois já estava tendo alta. Em nenhum momento, segundo os profissionais que o atenderam, ele esteve sob risco de morte.
O caso envolveu muita polêmica. De partida, haviam diversas contradições no conteúdo relatado pelos envolvidos; fatos que não se encaixavam com a realidade. No dia seguinte ao ocorrido, devido a algumas contradições narradas, crescia a percepção de que o caso poderia ter sido armado. A cúpula da PC, à época, havia sido destacada da capital para elucidar o ocorrido o mais rápido possível.
O dito “atentado político” foi matéria no programa Fantástico da Rede Globo, que tornou o caso mais obscuro ainda. Tudo porque, na versão mostrada na matéria foi narrado algo diferente do que o próprio candidato havia relatado sem seu depoimento, o mesmo que seus apoiadores propagavam pelos quatro cantos da cidade. Aliado a isso, foram divulgados áudios e um vídeo do então vice-presidente do PRTB, Gilson Fernandes, declarando que tudo não passa de farsa montada com o objetivo de impulsionar a candidatura de César. O objetivo era ter como parâmetro o atentado sofrido pelo então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, na campanha de 2018.
Estava mais do que claro que a narrativa de atentado político fazia parte de uma estratégia eleitoral. Caberia a Polícia Civil, o Centro de Perícia Científica Renato Chaves desmontá-la e o Poder Judiciário tomar na sequência as providências.
O desmonte da farsa
Após o fato, as três semanas seguintes de investigações produziram reconstituição do fato, produção de laudos e provas. Todo o material levantado foi verificado pelos Instituto de Perícia Criminal em conjunto e Universidade Federal do Pará (UFPA), que produziram um laudo conclusivo que se comprovava cientificamente que versões e depoimentos narrados pelas testemunhas, não condiziam com a realidade.
Portanto, o laudo foi totalmente divergente do que foi havia sido dito, em depoimento, por Júlio César e pelos outros três integrantes do veículo. Em seguida, foi aberto inquérito policial. Se confirmado a farsa, os acusados responderiam por denunciação caluniosa (falso testemunho) e o Estado ainda poderia requerer ressarcimento e indenização já que houve gasto de dinheiro público com a perícia, por exemplo, no deslocamento de servidores.
Hoje, 18, os envolvidos foram indiciados formalmente pela Polícia Civil do Estado Pará pelo fato das versões apresentadas pelos envolvidos no episódio do suposto atentado divergirem dos resultados obtidos nos laudos periciais realizados pelo Centro de Perícia Científica Renato Chaves. São eles: ex-candidato Júlio César, o empresário Cássio Marques, o motorista de Júlio César à época, Glayfson Araújo de Sousa, e a Secretária do candidato, Denise Sousa Costa.
Todos os indiciados podem virar réus em ação penal por comunicação falsa de crime, nos termos do art. 240 do Código Penal, que é provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado.
A coligação vitoriosa das eleições 2020 em Parauapebas, Coligação Parauapebas da Prosperidade, protocolou uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) perante a Justiça Eleitoral contra o então candidato Júlio César, suposta vítima do suposto atentado, por entender que ele havia manipulado o processo eleitoral municipal justamente por ter veiculado que o suposto atentado teria conotação política.
Pelo visto, como era de se esperar, se utilizando do jargão popular: “O tiro saiu pela culatra”. Definitivamente, não vale tudo pelo poder. Agora sabemos que “tiro” foi aquele.
Imagem: reprodução.