Desde o ano passado, quando o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) despontou acima dos dois dígitos nas pesquisas eleitorais, venho afirmando que o referido parlamentar é problema para a Direita. Por um longo tempo, os simpatizantes de Bolsonaro atacaram e foram atacados pela Esquerda, configurando-se um maniqueísmo que dominou essa relação temporal, mas que – de fato – se mostraria um conflito mais ideológico do que eleitoral, pelo menos em relação ao primeiro turno da disputa presidencial.
O crescimento de Bolsonaro é um problema para a Direita, em especial, ao PSDB. Os tucanos teriam que procurar uma saída para a questão, cedo ou tarde, evitando que a problemática fugisse do controle. Pelo visto, não agiram previamente e o cenário atual (segundos as pesquisas eleitorais) é desfavorável ao PSDB, que não avança.
Primeiro, porque o partido foi diretamente atingido pelas denúncias de corrupção. Segundo, o posicionamento político-ideológico de Bolsonaro tira votos de candidatos tucanos (neste caso, Geraldo Alckmin). Terceiro, o próprio Alckmin não reúne condições pessoais para esse reconhecimento do eleitorado. Geraldo já foi candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, em 2006. Foi ao segundo turno sem maiores sustos, sendo derrotado por Lula, que disputava a reeleição. Naquela época havia a cristalização da bipolaridade entre PT e PSDB, sem qualquer outro nome que pudesse alterar a lógica da disputa. Em 2018, com as referidas legendas em baixa, outros nomes surgiram ou se fortaleceram.
Enquanto o deputado federal aparece bem posicionado nas pesquisas (na liderança sem a presença de Lula; em segundo com a presença do ex-presidente), Alckmin não consegue ultrapassar os 8% das intenções de voto. O ex-governador perde para Lula e Bolsonaro em São Paulo, estado que governou por quase duas décadas, seu reduto eleitoral, o que demostra a total falta de sintonia entre o eleitorado paulista de centro-direita com Alckmin.
A situação é incomoda dentro do ninho tucano. Nem as pesquisas qualitativas, de consumo interno, apontam qualquer possibilidade de crescimento de Alckmin que possa levá-lo ao segundo turno. Hoje, esse espaço é ocupado por Bolsonaro. A ex-ministra Marina Silva é outra barreira que os tucanos precisam vencer; mas as atenções estão todas voltadas para Jair, haja vista, que ele é quem mais tira intenções de votos em Geraldo.
Alckmin pessoalmente, depois o PSDB, partiram para o ataque. O alvo é Jair. Os tucanos sabem que do outro lado do espectro ideológico à esquerda, haverá um representante no segundo turno: Ciro Gomes ou outro nome apontado por Lula. Portanto, do lado de centro-direita restará uma vaga, neste momento ocupada por Jair Bolsonaro, seguido por Marina Silva.
A estratégia do staff de Alckmin é desconstruir a candidatura de Bolsonaro (o que já vem sendo feito em peças publicitárias). Ataques diretos em rede social já vêm ocorrendo, com réplicas do deputado. O segundo passo foi se apropriar de algumas propostas “bolsonaristas”, sobretudo no âmbito da segurança pública. O PSDB corre sério risco de, pela primeira vez, desde 1994, quando começou a disputar o Palácio do Planalto, ficar de fora do segundo turno. O cenário aos tucanos é altamente desfavorável.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a principal voz do PSDB e presidente de honra da legenda, mantém o nome de Geraldo Alckmin; mesmo sabendo que o risco é de fracasso eleitoral é a cada dia maior. FHC sabe também que, conforme o tempo passa, novas pesquisas só confirmam a permanência da imobilidade de Alckmin nas consultas públicas; evocando o nome de João Dória, que já faz sombra ao de Alckmin.
Os tucanos demoraram a perceber que a bipolaridade de outrora com o PT, já não predomina no cenário político-eleitoral, pelo menos neste primeiro turno. No caminho da sobrevivência política tucana está – goste ou não – um fenômeno eleitoral chamado Jair Bolsonaro, e que se apresenta como um grande obstáculo difícil de transpor.