Pará e a maldição dos recursos naturais. O caso da mineração em Carajás

Com operações iniciadas em 1984, o complexo de mineração de Serra Norte, atualmente um conjunto composto por três minas (N4W, N4E e N5), vai esgotar todo o minério de ferro economicamente viável em 2034. A informação vem sendo divulgada pela mineradora a Vale em seus relatórios anuais desde 2015, e que são entregues ao mercado financeiro. Os balanços analíticos futuros são algo natural e muito aguardados pelos investidores que, através deles podem ter uma visão atualizada de todas as operações da mineradora no Brasil e no exterior.

A notícia, que nem mesmo a própria Vale se atreve a divulgar por aqui, por questões estratégicas, e para não causar alvoroço nas comunidades onde atua, soa como uma bomba para Parauapebas, município no qual fica a porção de Carajás correspondente à Serra Norte. Em Curionópolis, onde fica a porção de Carajás correspondente à Serra Leste, a Vale diz que haverá minério até 2066, isso se for mantido o ritmo atual de produção de dois milhões de toneladas por ano.

Já em Canaã dos Carajás, dono da maior fatia de minério de ferro medida, correspondente à Serra Sul, a exaustão é prevista para 2065, tendo como base o atual nível de produção anual do projeto S11D, que atingiu 90 milhões de toneladas. Isso, claro, considerando apenas a exploração dos blocos C e D, do corpo mineral S11. Esse corpo, aliás, reúne ainda blocos A e B, em relação aos quais a Vale não tem planos imediatos.

A multinacional estimou, inicialmente, haver 18 bilhões de toneladas de minério em Carajás, a qual se estende por diversos municípios da região, sendo 6 bilhões na Serra Norte e outros 10 bilhões na Serra Sul, além de 2 bilhões de minério de ferro espalhados na Serra Leste e na Serra São Félix, estas duas fora dos domínios da Floresta Nacional de Carajás. As jazidas mineralizadas tiveram sua fase de pesquisa geológica encerradas em 1972, de acordo com a multinacional brasileira.

Evidentemente, nem todo esse minério é economicamente viável à exploração. Funciona mais ou menos assim: o último que sair apague a luz. Quando a empresa lavrar a última “carrada” de minério daqui a 18 anos e for embora, deixará um rastro de desemprego sem precedentes. A projeção populacional para a metade da década de 30 deste século visualiza 360 mil habitantes no município de Parauapebas, sendo 350 mil deles na área urbana – um incremento de praticamente 85% à atual população.

No âmbito estadual, segundo o jornalista Lúcio Flávio Pinto (LFP), depois de três séculos de hegemonia de Minas Gerais, o Pará se tornou, na segunda década do século XXI, o maior Estado minerador do Brasil. Muitos paraenses ainda não se deram conta desse fato e o que ele significa; na verdade, nem os brasileiros. Alcançar essa posição não constitui automaticamente uma glória. Analisando-se o caminho já percorrido pelo segundo maior Estado da federação, com uma área duas vezes maior do que a de Minas, há motivos para preocupação.

Segundo Pinto, se considerarmos a atual escala de produção, com uma aceleração fortíssima nos últimos anos e que tem como destinação da maior parte dessa produção para o exterior, nos próximos quatro anos, teremos o mesmo volume de exploração dos últimos 35 anos em Carajás. Talvez, segundo ele, venha a se registrar a mais rápida exaustão da mais rica das concentrações de minério de ferro em todos os tempos.

Se for assim, LFP profetiza: “O Pará estará condenado a um futuro ruim se não tomar consciência do significado histórico da mineração, da situação concreta da atividade nos nossos dias e dos deságios que precisará enfrentar para que o Estado não seja vítima de um tipo de maldição que a mineração acarreta para quem, olhando até onde vai o seu nariz, não perceber em tempo que minério não dá duas safras”.

Richard Auty teorizou sobre as economias que são dependentes quase que, exclusivamente, de um único recurso finito, com data para acabar, quase sempre bem antes do planejado. Por isso, lançou a teoria: “Maldição dos recursos naturais”. Seria sustentada no paradoxo da abundância de recursos não renováveis e o mal que eles causam a uma determinada região.

Auty, afirma que a supremacia e dependência de um único recurso causa: declínio de outras atividades econômicas, tornando a receita de arrecadação volátil. Ou seja, o município sempre teria indefinição orçamentária, podendo acarretar risco no cumprimento de compromissos. Se a compra do produto entrar em declínio, acarretando a diminuição de sua aquisição no mercado internacional, as arrecadações despencariam. Isso já aconteceu diversas vezes, por exemplo, em Parauapebas.

A triste sina de um estado como o Pará, em especial, um município como Parauapebas, que está assentado na maior reserva mineral do planeta, mas mostra-se incapaz de promover o próprio desenvolvimento através do que a natureza lhe ofereceu. O futuro é construído pelo presente e, no caso da mineração, não permite segunda chance.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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