Quem é Jorge Messias, o indicado por Lula para ministro do STF

O advogado-geral da União, Jorge Rodrigo Araújo Messias, 45 anos, foi escolhido pelo presidente Lula para ocupar a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso. A indicação confirma a ascensão de um dos quadros jurídicos mais próximos de Lula, e que ganhou projeção nacional há quase uma década, ao ser citado por Dilma Rousseff como “Bessias” em um telefonema que se tornaria um dos momentos mais simbólicos da crise política de 2016.

Carreira técnica e atuação em diferentes órgãos da República

Nascido em Recife, Messias é graduado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre e doutor em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília (UnB).

Ele ingressou na Advocacia-Geral da União em 2007 como procurador da Fazenda Nacional, depois de ser aprovado em um dos concursos mais concorridos da carreira jurídica.

Desde então, ocupou uma série de postos estratégicos:

  • procurador do Banco Central e do BNDES;
  • consultor jurídico nos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia;
  • secretário de Regulação da Educação Superior no MEC;
  • assessor parlamentar do senador Jaques Wagner;
  • subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil no segundo governo Dilma Rousseff.

A amplitude dos cargos reforça sua reputação de servidor técnico com forte trânsito político.

O episódio “Bessias”

O nome de Jorge Messias chegou ao grande público em 16 de março de 2016, quando o juiz Sergio Moro divulgou gravações telefônicas da Operação Lava Jato. Em um dos áudios, Dilma Rousseff informava a Lula que enviaria, “pelo Bessias”, o termo de posse para que o petista pudesse assumir o Ministério da Casa Civil “em caso de necessidade”. A presidente estava resfriada e com voz anasalada.

A transcrição informal transformou “Messias” em “Bessias” e rapidamente viralizou. Mais tarde, Messias afirmaria que cumpria apenas uma função administrativa e que a divulgação do áudio “cortado e fora de contexto” buscou desestabilizar o governo Dilma. A gravação foi considerada posteriormente ilegal. Na época, ele era subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil no segundo governo Dilma.

Da transição à chefia da AGU: o retorno ao núcleo duro de Lula

Com a vitória de Lula em 2022, Messias foi chamado para integrar o grupo jurídico da transição, período em que ganhou ainda mais proximidade com o presidente. Em dezembro daquele ano, foi o mais votado entre seus pares em lista sêxtupla para chefiar a AGU, e escolhido pelo presidente para o posto.

Na Advocacia-Geral da União, Messias assumiu papel central na defesa judicial dos interesses do governo, atuando diretamente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em questões de alto impacto fiscal. Sob seu comando, a AGU:

  • obteve decisões que geraram economia de R$ 8 bilhões em precatórios;
  • evitou risco fiscal de até R$ 480 bilhões na “revisão da vida toda”;
  • construiu acordos no STF sobre benefícios do INSS;
  • atuou na disputa de competência sobre o IOF;
  • deu aval jurídico às emendas Pix, em aceno ao Congresso.

Messias ficou marcado também por declarações firmes, como ao classificar a pejotização como “cupinização dos direitos trabalhistas”, frase repetida em debates jurídicos após sua participação em uma audiência no STF.

Perfil evangélico e acenos políticos

Messias é evangélico, membro da Igreja Batista, casado e pai de dois filhos. O governo avalia que sua indicação pode ser um gesto ao eleitorado evangélico, segmento onde Lula enfrenta maior resistência.

Em 2023, participou da Marcha para Jesus, sendo vaiado ao mencionar o presidente. Nas redes, afirmou que é preciso “devolver Jesus ao púlpito, não ao palanque”.

A disputa nos bastidores: Messias x Pacheco

Embora Messias fosse o preferido de Lula desde a abertura da vaga, senadores chegaram a defender o nome de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), visto como articulador político confiável para a Corte.

Pacheco também contava com forte apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, responsável por conduzir a sabatina na CCJ. Lula, porém, manteve preferência por Messias, e indicou ao mineiro que gostaria de vê-lo candidato ao governo de Minas em 2026.

Sabatina e votação secreta

Agora indicado, Messias terá de enfrentar a fase mais delicada: a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), seguida de votação secreta no Plenário do Senado.

Ele precisará de pelo menos 41 votos para ser aprovado. A base do governo no Senado é considerada frágil, especialmente após a tensa votação que reconduziu Paulo Gonet à PGR.

Se aprovado:

  • seu nome será publicado no Diário Oficial,
  • ele tomará posse em sessão solene no STF,
  • e passará a integrar a Corte por até 30 anos, até a aposentadoria compulsória, aos 75 anos.

O futuro ministro herdará cerca de 900 processos de Barroso, incluindo ações estruturais como a ADPF 347 (sistema prisional), ADI 7222 (piso da enfermagem) e processos envolvendo a Lava Jato.

Com informações e imagem Congresso Em Foco

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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