Racismo, uma luta diária

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No dia da Consciência Negra, o Blog coloca em sua pauta a questão do racismo em nosso país. Ontem, 19, mais um ato para manchar e entristecer a todos; pelo menos aos que tem humanidade. João Alberto Silva Freitas, 40 anos, foi espancado e morto por dois seguranças brancos da rede varejista Carrefour, em Porto Alegre. O caso tomou, merecidamente, grande repercussão e serve, infelizmente, para escancarar essa chaga social que nos persegue.

Por conta disso, o Blog republica uma importante reflexão produzida por Pablo Villaça, um crítico cinematográfico brasileiro, editor do site Cinema em Cena, um dos mais antigos sites de cinema no Brasil, por ele criado em 1997. Boa reflexão.

“Não existe racismo no Brasil”, diz o vice-presidente Hamilton Mourão no Dia da Consciência Negra e quando um homem negro, João Alberto, acabou de ser assassinado a socos no estacionamento de um supermercado no qual fizera uma compra. Há declarações que são fruto de ignorância; outra, de pura desumanidade. Pois no país no qual “não há racismo” (segundo o vice-presidente da república e o diretor de jornalismo da Globo), os profissionais negros ganham 17% a menos do que os brancos com mesma origem social e 69,2% das habitações consideradas inadequadas por algum motivo são ocupadas por negros.
Além disso, os assassinatos de negros cresceram 11,5% nos últimos dez anos. Já os de não negros… caíram 12,9%. Em 2018, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil foram negras. “Ah, mas nem todos esses assassinatos tiveram motivações racistas”, dirão alguns enquanto colocam o vídeo do Morgan Freeman em suas timelines – ignorando (ou fingindo) que o racismo não é simplesmente um ato, mas um sistema.
A partir do momento em que 75% dos assassinados pela polícia são negros e 61% das mulheres vítimas de feminicídio são negras, o retrato do que ocorre no país fica óbvio; a subjetividade do observador pode até questionar o que é racismo, mas as estatísticas não têm dúvida alguma: nós vivemos em um país que empurra os negros para as periferias e comunidades sem infraestrutura e os impede de deixá-las; que vê, ainda hoje, as consequências da escravidão e de termos sido um dos últimos países do mundo a aboli-la.
E não é só uma questão econômica, mas de percepção social. Ou mesmo humana. Quando digo que jamais veríamos uma barbaridade destas acontecendo com um homem branco, há uma razão para isso: a desumanização do negro diante dos olhos de muitos. É quase como se os agressores vissem, em João Alberto, um ser “diferente”, menor. Algo a ser contido e recolocado em seu lugar. Não há qualquer sugestão de que tenham enxergado, em sua vítima, um semelhante. É como se estivessem atacando… um animal.
O nome disso é racismo.
Então não, eles podem até não ter gritado palavras racistas enquanto espancavam o outro, mas a verbalização não era necessária: o racismo estava sendo expressado em cada soco que desferiam. Negar o racismo no Brasil é fechar os olhos diante de um espelho que reflete nossas deformações e achar que, com isso, estas desaparecem. Pois não só não desaparecem como pioram, já que a negação impede que sejam tratadas.
E, acreditem, precisamos de muitas cirurgias para corrigi-las.

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