A semana que se inicia em seu expediente normal, tornou-se decisiva para o futuro político de milhares de agentes públicos. Primeiro pelo encerramento do que se chama de “janela partidária”, denominação popular para um dos artigos da Lei dos Partidos Políticos (artigo 22-A da Lei nº 9.096/1995).
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2024, a troca de legenda partidária poderá ocorrer de 7 de março a 5 de abril, prazo final para filiação, exigido em lei para quem pretende concorrer às Eleições Municipais deste ano. A janela partidária é aberta em qualquer ano eleitoral, seis meses antes da votação.
Pois bem, dito isto, no caso do Pará, se instaurou o esperado: supremacia do MDB, legenda controlada pelos Barbalho, que atualmente tem como comandante o governador Helder Barbalho. O mandatário estadual quer, inclusive, alcançar uma proeza: eleger 100 prefeitos de seu partido e mais umas duas dezenas de sua base aliada que, aliás, ficou bem fragmentada após um amplo processo de filiação ao MDB.
Dos 144 municípios paraenses, restará à oposição não mais do que 20 paços municipais. A questão é que nos principais colégios eleitorais, Helder Barbalho terá, pelo menos, dificuldade de eleger um emedebista. Belém, Ananindeua, Santarém, Parauapebas e Marabá, respectivamente, os cinco maiores em eleitorado, a situação não é fácil.
Belém
O escolhido por Helder, neste caso, seu primo Igor Normando, recém filiado ao MDB, ainda não decolou, ficando longe de qualquer possibilidade de segundo turno nas pesquisas realizadas até o momento. É óbvio que a alta popularidade de Helder e a “estadualização” de Belém por parte da máquina estadual, fará o seu escolhido ao Antônio lemos subir nos próximos levantamentos. Resta saber se o crescimento será suficiente para lhe levar ao segundo turno. Do outro lado, se mantém altamente viável uma candidatura bolsonarista, até o momento, encarnada pelo deputado federal Éder Mauro. Não se pode desprezar o atual prefeito Edmilson Rodrigues, que vem recuperando espaço, e tende a ir ao segundo turno.
Ananindeua
O que se diz pelos quatro cantos do segundo maior colégio eleitoral paraense, que é quase impossível que o prefeito Daniel Santos perca a eleição e não seja reeleito. O que se diz é que o referido não só será reeleito, como terá votação recorde por lá. De saída do MDB, Daniel tende a imprimir uma dura derrota ao projeto dos “100” do governador.
Santarém
No terceiro maior colégio eleitoral do Pará, além de configurar entre os três que tem segundo turno, a oposição lidera sob a tutela do vereador bolsonarista “JK do Povão”, recém filiado ao PL. Helder lançou na “pérola do Tapajós”, o seu atual secretário regional de governo do Oeste do Pará, o ex-deputado estadual José Maria Tapajós, que se filou ao MDB. Todavia, o prefeito Nélio Aguiar, do União Brasil, não aceitou tal decisão, e promete lançar outro nome, caso o PT tenha a indicação de vice de Tapajós. E falando em PT, o partido não aceita abandonar a pré-candidatura da ex-prefeita e atual deputada estadual Maria do Carmo, que vem muito bem nas pesquisas. O acordo oferecido pelo mandatário estadual aos petistas santarenos é a indicação da vice na chapa do MDB.
Parauapebas
O vereador Aurélio Goiano (sem partido) continua à frente dos demais em todos os levantamentos feitos. Em segundo, aparece o presidente da Câmara Municipal, Rafael Ribeiro, que deixará o MDB nos próximos dias e migrará para outra legenda ainda a ser definida. O escolhido por Helder na capital do minério é o deputado estadual Ivanaldo Braz, que deixará o PDT e se filiará ao MDB até o fechamento da janela partidária.
Marabá
O quinto maior colégio eleitoral paraense, a situação continua indefinida. O prefeito Tião Miranda, do PSD, havia antecipado a escolha de seu sucessor, mas voltou da decisão por conta do baixo desempenho de Luciano Dias, seu vice e o escolhido. Tião ainda não anuncio nem a desistência de Luciano, nem a mudança por outro nome, que cogita-se ser o sobrinho Tiãozinho Miranda, um empresário popular na terra da castanha. Outra linha analítica diz que o atual mandatário marabaense possa nem escolher o sucesso, como já fez em sua segunda passagem pelo Executivo de Marabá. Há ainda, outra tese: de que Tião Miranda – via Helder Barbalho – apoie o deputado estadual Chamonzinho, do MDB, que lidera os levantamentos por lá. Enquanto a base governista não se entende, o deputado estadual Toni Cunha, do PL, vem crescendo nas pesquisas, puxado pela organicidade bolsonarista por lá. Cunha já foi vice de Miranda, e não se pode descartar uma aliança entre ambos, levando em consideração uma ruptura com Helder.
Personagem central
Neste complexo tabuleiro político em sua semana decisiva, há, porém, uma peça central. O “jogador” promove um nível de compasso de espera aos demais. Há apenas uma certeza irrefutável: Daniel Santos deixará nos próximos dias, juntamente com a sua esposa, a deputada federal Alessandra Haber, o MDB. A questão é saber para qual legenda ambos migrarão. A decisão de Daniel poderá servir de abrigo aos que não aceitam a imposição de Helder, que vem desrespeitando conjunturas locais por onde passa. O leque de opções seguras de Daniel é escasso. Verdadeiramente, o mesmo só tem um abrigo totalmente seguro: filiar ao Solidariedade, partido controlado no Pará pelo próprio. Ainda há ao mesmo uma opção que se abriu: o PSB. Há o PL, mas essa possibilidade foi refutada pelo prefeito.
Sua ida, possivelmente, ao Solidariedade, poderá promover uma revoada de pré-candidatos ao partido, que se tornaria a fortaleza política-eleitoral dos descontentes com as decisões do mandatário estadual e, de quebra, fortalecer o nome de Daniel Santos rumo ao governo do Pará, em 2026. Tudo que Helder não quer.
Os próximos dias serão decisivos ao futuro político-eleitoral do Pará. Ao fim da janela partidária se poderá ter a confirmação da total supremacia emedebista ou o nascimento de uma frente ampla de resistência. A conferir.
Imagem: reprodução Internet.