Simão Jatene no centro do autofagismo institucional paraense

Desde 1994, quando iniciou a dinastia tucana no Pará com Almir Gabriel, que a relação entre os três poderes paraenses é bem tranquila, harmoniosa, e até então, sem qualquer situação de instabilidade. Foi assim com o referido ex-governador por seus dois mandatos (que incluiu em 1996 o massacre de Eldorado dos Carajás), e continuou pelos oito anos de Simão Jatene. Vinha sendo, mantido em seu terceiro mandato a coexistência pacifica institucional no Pará. Mas, pelo visto, algo desandou na relação.

Simão Robson Jatene vive inferno astral. O mandatário da política paraense está em situação bem desconfortável perante a Justiça. Em outubro de 2016, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou a Ação Penal 827, que tem o governador do Pará como réu em um processo que se arrasta na Justiça há 15 anos e que foi novamente postergada. Jatene é investigado por suspeita de prática de crime de corrupção ativa e passiva. Ele é acusado de ter sido o principal beneficiário do pagamento de R$ 12,5 milhões (à época) de propina, acertada com os donos da Cervejaria Paraense S/A (Cerpasa), após a concessão de uma anistia fiscal referente a débitos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) que geraram prejuízos ao Pará de cerca de R$ 90 milhões, em valores atualizados. O risco de prescrição do processo é grande.

Ainda tem o processo de cassação de sua candidatura pelos abusos de poder político e econômico na campanha eleitoral de 2014, pelo uso indiscriminado do programa social “cheque moradia”. O TSE deverá julgar ainda sem data o recurso impetrado pela defesa do governador. Para completar, Jatene tornou-se réu por crime de improbidade administrativa. O governador, do PSDB, é acusado pelo Ministério Público do Estado como responsável por “irregularidades no fornecimento de combustíveis a veículos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros” em favor de seu filho, Alberto Jatene. A transação era que os dois postos de combustíveis do filho do governador abasteciam as frotas das instituições citadas. Segundo as investigações, o processo rendeu a Beto, cinco milhões de reais.

Segundo o que se comentava nos bastidores (hoje já tornado público) é que o governador do Pará deu um “tiro no pé” ao descumprir um acordo com o Marcos Antônio das Neves, chefe do Ministério Público e que queria ao deixar o cargo, empossar em seu lugar o promotor César Mattar. Na eleição direta, Mattar venceu por ampla maioria dos votos. Bastaria Simão Jatene seguir o processo, respeitando a decisão da maioria e escolher o citado como o novo procurador geral do Estado. Mas, Jatene, resolveu mexer no tabuleiro, mudar os rumos…. Escolheu o segundo colocado Gilberto Valente Martins para o cargo, criando uma insatisfação geral no judiciário paraense.

A transmissão do cargo aconteceu nesta segunda-feira (10). Mas antes de sair, Neves resolveu devolver na “mesma moeda” a quebra de acordo do governador. Autorizou a denúncia contra Simão Jatene por improbidade administrativa (processo que estava parado até então).

A situação do governador, no mínimo, é constrangedora. Jatene sempre se apresentou como um agente público ético. Se orgulha em suas falas públicas de não ter o estereótipo negativo da maioria da classe política, se diferenciando do seu principal opositor político: Barbalho. Claro que o governador do PSDB é acusado, em nenhum caso se concluiu o processo e não há condenação. 

Mas, sem dúvida, a imagem imaculada do tucano está arranhada e praticamente jogada à vala comum que figuram a maioria dos políticos brasileiros, alguns sem constrangimentos. Para piorar, Simão vem fazendo, talvez, a pior gestão como governador em comparação aos seus dois mandatos anteriores. A culpa da inércia gerencial de seu governo, segundo ele é a crise econômica. Mas, no Estado vizinho, Maranhão, com orçamento menor, Flávio Dino, vem fazendo uma gestão muito mais propositiva.

A coexistência pacifica entre os poderes paraenses está em xeque. A queda de braço entre Executivo e Judiciário está deflagrada. Quem ganhará? Com certeza não será o Pará.

 

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

#veja mais

Vereador Rafael Ribeiro solicita a retomada do projeto “Cursinho Popular”

Na manhã desta terça-feira (02), foi realizada a 3ª Ordinária da 1ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura da Câmara de Parauapebas. Dentre os destaques está

#TBT do Blog: Almir Gabriel declara apoio a Ana Júlia

Em mais uma matéria da série #TBTdoBlog, um outro capítulo da recente história política, agora do Pará, Parauapebas é apresentado. O ano era 201o, precisamente

Entre Facas e Abraços: A Arte Sutil de Ferir Aliados

O governo Aurélio tem sido marcado por hipocrisia e enganação, com uma deterioração nas relações com a Câmara...

Márcio Miranda: o alvo

Conforme adiantado pelo blog, o jornal Diário do Pará voltou ao ataque direto ao pré-candidato ao governo do Pará, Márcio Miranda (DEM), principal adversário do

Parauapebas para além do minério

Há tempos que se trata do futuro da extração mineral em Parauapebas. As narrativas divergem no tempo das atuais minas que estão em operação, mas

Saiba como funciona a Transição de Governo

Com o fim do processo eleitoral em regimes democráticos, com a derrota de um governo, cabe a este por força de Lei, garantir um processo