A eleição à Presidência da Câmara dos Deputados, na última semana, escancarou o poder que o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) exerce sobre os seus pares. O citado recebeu 464 votos, de um total de 513, em que precisava de 257 votos. O desempenho, de quebra, superou a marca do ex-deputado João Paulo Cunha (PT), que venceu o pleito com 434 votos na eleição de 2003.
Lira conseguiu um feito histórico: reuniu o apoio de um bloco formado por 21 partidos que somam 496 deputados. Isso é quase 100% de toda a Câmara. É um apoio histórico, o maior que se tem notícia para uma eleição do tipo. Só ficaram de fora o partido Novo, do candidato Van Hattem, e a Federação PSOL-Rede, que apoiou Chico Alencar (PSOL).
Todo esse apoio foi resultado da gestão anterior de Lira, em que focou no protagonismo do parlamento, da tomada de parte do orçamento, que tornou-se secreto em seu uso; enquadrou o Executivo, muito por conta da fragilidade política do ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, que reunia em torno de si 130 pedidos de impeachment, que tomavam as gavetas de Lira, e que tornaram-se moeda de troca.
Governo Bolsonaro terminou e o de Lula – apesar de todos os contratempos golpistas – começou. Antes do petista subir a rampa do Palácio do Planalto, um acordo já havia sido firmado: apoio do novo presidente e de sua base à reeleição de Arthur Lira. A lição “Cunha” que teve um alto custo ao PT, e que culminou com o impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff, fez com que o novo mandatário nacional não esbouçasse qualquer movimento para disputar o comando do parlamento federal. O que tornou o caminho de reeleição de Lira tranquilo.
Lira não terá a mesma força que tinha no biênio passado, todavia, ainda reunirá grande poder. Não se “desacostuma” o Centrão da noite para o dia, e nem se tira orçamento dos parlamentares com uma “canetada”, por exemplo. Lula sabe por sua experiência que não precisa ser amigo de Lira, mas precisa manter uma relação amistosa para manter a sua agenda de reformas.
De todo modo, nunca se viu desde o processo de redemocratização um presidente da Câmara Federal com tanto poder e influência que Lira reúne hoje. Deixou de ser o primeiro ministro, cargo que tinha informalmente no governo Bolsonaro, mas continuará a mandar muito na política nacional.
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