O ano era 2016, precisamente o mês de novembro, momento em que a “guerra” entre as famílias Maiorana e Barbalho atingia patamares preocupantes, ambas que comandam os dois maiores conglomerados de comunicação do Pará, à época, travavam um duro embate político. As Organizações Romulo Maiorana (ORM) era presidida por Rômulo, o “Rominho”, que tinha a família Barbalho como “inimigo de primeira ordem”. Nos últimos anos, as citadas famílias vivem momento de coexistência pacífica, com a saída de Rômulo do comando das empresas e a chegada de Helder Barbalho ao governo do Pará.
Vamos relembrar…
Recentemente, por motivos particulares, estive em Belém. Como de costume (da época em que morava na cidade) comprei um exemplar do jornal Diário do Pará, veículo que faz parte de um conglomerado de comunicação, chefiado pela família Barbalho. O maior concorrente, o jornal O Liberal, não comprei, apenas folheei as principais notícias. Sem muita atenção, percebe-se de que lado o periódico diário dos Maiorana, estão, ou melhor, sempre estiveram.
O formato entre ambos continua o mesmo. Desde de 2014, ano que deixei a referida capital paraense e desembarquei em Parauapebas, a “capital do minério” (ainda), que a guerra entre os dois mais poderosos veículos de comunicação em solo paraense, continua de forma intermitente, com períodos de maior ou menor ataque, dependendo do contexto político. O Diário, mantém a sua saga ou missão (ordenada por seus diretores e por interesses políticos) de atacar os tucanos, a gestão estadual do PSDB. Virou rotina dentro das páginas do referido periódico, fotos e reportagens sobre o governador Simão Jatene. Em sua edição dominical, sempre há denúncias ou dados que apontam para a triste realidade em que o Pará se encontra.
Não, estou aqui defendendo o atual governo estadual. Muito menos a atual gestão de Jatene, a pior do período da dinastia tucana no Pará, que iniciou em 1994 e foi interrompida uma única vez (2007- 2010) quando o PT assumiu o Palácio dos Despachos, com apoio irrestrito do PMDB, partido que tem proximidade, para não dizer o controle da linha editorial do jornal mais lido do Pará. De fato, e deixando de lado os interesses políticos, o Diário do Pará, apenas apresenta a triste realidade.
Mesmo de longe, quando possível, acompanho os principais jornais da capital. O único que chega na “capital do minério” é O Liberal, jornal dos Maiorana, com um dia de atraso. O Diário do Pará só é acessado via versão eletrônica, com restrições, não desembarcando em sua versão impressa em Parauapebas.
No periódico diário dos Barbalho, os ataques aos tucanos aumentaram muito, tornando-se maçantes desde o fim da eleição de 2014 ao governo do Pará. Na ocasião, Helder Barbalho, herdeiro político de Jader, o maior político paraense ainda em atividade, perdeu a eleição para Jatene, com margem apertada. A partir daquele momento estava decretado a guerra entre o grupo RBA e o governo do Pará, agora em nova fase. Jatene conta com o apoio irrestrito do maior rival dos Barbalho: os Maiorana, que fazem veladamente o contraponto às críticas e denúncias do folhetim barbalhista.
A política paraense há mais de duas décadas se resume ao tiroteio verbal entre duas famílias que controlam a comunicação paraense. Disputam cada palmo o espaço político. Utilizam pessoas – quando necessário – para assumir oficialmente seus projetos de poder, quando os mesmos não o fazem, de forma direta. No caso dos Barbalho, eles estão na linha de frente. Os Maiorana, ficam em posição mais reservada, nos bastidores. Apoiam candidatos ou grupos políticos que estão ligados aos seus interesses.
Neste “cabo de guerra” entre ambos, o leitor, cidadão, fica desnorteado, sem saber em qual fonte buscar se informar. Qual dos dois veículos estão – de fato – retratando a realidade? O Diário do Pará faz jornalismo sério ou está apenas seguindo ordens ou defendendo interesses políticos claros? E O Liberal, suas notícias favoráveis ao governo tucano, não estão ao mesmo tempo, mostrando um Pará que não existe? Ou escondendo a realidade como ela é?
E, assim, dessa forma vivemos entre a guerra declarada de duas famílias que, de fato, mandam na política paraense. O resto são coadjuvantes, instrumentos ou ferramentas de poder desses grupos. Enquanto isso, o Pará continua com o seu desenvolvimento “rabo de cavalo”, crescendo para baixo. Até quando?
Imagem: fotomontagem.