Antes de escreve este artigo, pesquisei sobre a proposta que me propus a fazer, que era a de analisar – respeitando tempo de gestão e circunstâncias eleitorais e históricas – qual presidente governou mais para o seu grupo ou para “os seus”? Retirando do contexto comparativo o regime militar, e mantendo a análise dentro do espectro democrático, fica claro que, em dez meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro governa para um grupo e não – como deveria – para todos os brasileiros.
Diversas medidas foram direcionadas ao público que o elegeu, especialmente a agenda de costumes. As promessas de campanha nesta área, avançam, por exemplo, a liberação de armas, eliminação de fiscalização eletrônica nas estradas, mais estimulo ao processo de ocupação da Amazônia, com a diminuição da fiscalização, e por ai vai.
Jair Bolsonaro, por exemplo, desde as primeiras semanas de sua gestão, deixa claro o seu desprezo pelos nordestinos. Claramente há ausência de seu governo na região, e o caso do desastre ambiental no litoral nordestino só evidenciou, infelizmente, na prática, tal afirmação. Outros exemplos podem ser citados. No caso familiar, tal proposta deste artigo se justifica. Qual outro governo teve a presença mais intensa dos filhos do que neste? O leitor poderia dizer: “Os filhos do presidente são políticos, portanto, é natural tal presença no governo do pai”. A questão é polêmica. No caso dos filhos, há artigos no Blog sobre a questão, e a fiz sobre o título: “Governo Bolsonaro: a fábula do Jabuti na árvore explica a sua prole, que poderá ser a sua torre de Babel”.
É evidente que os filhos do presidente mandam, e mandam muito. Carlos, vereador no Rio de Janeiro, é uma voz ativa no governo do pai. Eduardo, o mais novo com cargo político, foi direcionado pelo pai para ser embaixador nos Estados Unidos, o que agora não aconteceu. Flávio e Eduardo já tinham eram presidentes do PSL em seus estados (Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente). Todos que ousaram bater de frente com a prole Bolsonaro, perderam e outros até foram expurgados do governo. Diversas pessoas que eram próximas ao presidente tentaram alertá-lo sobre a interferência dos filhos, que mais atrapalham que do que ajudam.
Está mais do que claro que, o presidente governa para quem o apoiou na campanha, para os seus redutos eleitorais, para os segmentos sociais que exaltaram o seu nome. De resto, o governo parece não fazer questão, justamente por ser governado pela parte ideológica desde o seu início. E assim será. Jair Bolsonaro inaugura – dentro do Estado democrático de Direito – um governo para os seus, a começar pela própria família.
O presidente ainda não entendeu a liturgia do cargo que ocupa e, caso tenha entendido ou saiba, não faz questão de respeitá-la. Esse é o modus operandi do bolsonarismo.