Na semana passada tomou posse como diretor-presidente da Vale, a segunda maior mineradora do mundo, Fábio Schvarstsman. Em menos de uma semana no cargo já divulgou as primeiras mudanças que poderão ocorrer em breve na multinacional. Segundo matéria divulgada pela agência de notícias Reuters, a mineradora Vale deverá em breve voltar a uma fase de expansão de seus negócios mirando oportunidades de fusões ou aquisições e estratégias para diversificar seu portfólio, atualmente com forte dependência do minério de ferro.
“Apesar da alta qualidade dos ativos de minério de ferro da companhia e da alta lucratividade dessa unidade de negócios, o fato de todos os ovos estarem na mesma cesta é um importante risco de longo prazo para a companhia”, disseram analistas do Credit Suisse em relatório para clientes que resume os principais pontos de uma reunião com Schvartsman nesta última sexta-feira (26).
Ou seja, claramente, a Vale sabe que depender do minério de ferro e sua inconstante variação de preço, aliado ao câmbio volátil e a economia internacional, sobretudo, a chinesa é um risco que ela não quer mais correr. Essa postura se sustenta pelo cenário dos últimos anos em que o minério de ferro (carro-chefe) sofreu diversas quedas em seu preço, derrubando a margem de lucro da mineradora e aumentando o seu prejuízo corrente.
O Bradesco BBI (principal acionário) também produziu um relatório após conversa com o executivo, que tomou posse na segunda-feira, no qual afirma que uma questão chave para a Vale será avaliar qual a melhor estratégia de diversificação do portfólio. Os negócios de níquel, por exemplo, não geram lucros suficientes.
De acordo com os executivos do Bradesco: “A estratégia será baseada em crescimento e diversificação para além do minério de ferro, com fusões e aquisições sendo a principal ferramenta. Desalavancagem e pagamento de dividendos não são o suficiente. A Vale precisa ter uma clara estratégia de crescimento”.
Segundo o Credit Suisse, o novo presidente da Vale criou grupos para avaliar a estratégia e a performance da empresa em diversas unidades de negócios, e um diagnóstico estará pronto em 60 dias. A Vale também contratou a consultoria Falconi para avaliar sua matriz de custos e identificar potenciais cortes.
O novo presidente, Fábio Schvartsman, não é de Minas Gerais (berço da companhia) e não tem qualquer ligação com a mineração, não traz na sua biografia a cultura Vale, que influiu poderosamente sobre os seus principais executivos, é um autêntico CEO. Sua principal função na presidência será o de concluir definitivamente a privatização da ex-estatal, acabar com blocos de controle acionário na empresa (que fortalece os fundos), estabelecer limite de participação societária a 20% dos papeis por acionista e substituir as ações preferenciais, com preferência na remuneração do capital e muito pulverizadas, principalmente nos Estados Unidos, para que haja mais interesse no mercado por um volume maior delas com o efeito desse interesse: investimento maior na companhia.
Ou seja: porta aberta para quem possui muito dinheiro e tem o máximo de interesse pela Vale: os chineses, os maiores compradores do principal produto da região. Depois da privatização da privatização, a maior mineradora brasileira poderá virar multinacional, com a sede do seu controle na China, de forma pulverizada. Pelo visto, sem cerimonias, a Vale seguirá o caminho cada vez mais internacional, menos mineradora e mais logística. Carajás continuará a ser a maior reserva de minério de ferro do mundo e só.
*Publicado em minha coluna semanal no Portal Canaã.