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Meio milhão de mortos. Esse foi o quantitativo macabro que o Brasil alcançou ontem, 18. Somos o segundo país em mortalidade do novo coronavírus no mundo, atrás dos Estados Unidos, que, infelizmente, romperam a barreira das 600 mil vidas perdidas. Enquanto por lá a média móvel (dados dos últimos quatorze dias) está em 300 mortes a cada 24 horas; por aqui, se mantém em duas mil. Portanto, se continuar nesse ritmo, em breve seremos o país no mundo que mais perdeu vidas para o vírus.

Não se atinge uma marca dessa em que, em números absolutos, de cada 424 brasileiros, um perdeu a vida por Covid-19. Uma tragédia como essa não ocorre por acaso; não pode ser enquadrada como simples fatalidade, algo que aconteceu pelas circunstâncias de uma pandemia. Não. O que vivemos foi consequência de renúncias, atos e decisões.

Quando se atingiu a triste marca de 100 mil mortos por Covid-19, o Blog do Branco tratou da questão listando erros que levaram àquela marca: não nos preparamos para essa pandemia; não houve um plano nacional contra o coronavírus; o presidente Jair Bolsonaro minimizou a pandemia; não foram feitos testes em massa; isolamento social insuficiente; propaganda da cloroquina fez muita gente se expor ao vírus e o negacionismo que desqualificou as medidas científicas.

Dentre todas as renúncias de medidas necessárias por parte do governo federal, a que é considerada a mais impactante para esse número estrondoso de mortes, foi a demora – injustificável – na compra de vacinas. Diversos laboratórios pelo mundo ofereceram os seus imunizantes ao governo brasileiro, que não fez questão de comprá-los. O caso mais emblemático e que ficou escancarado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, foi o desinteresse velado das autoridades federais brasileiras em relação as 81 mensagens da Pfizer, sem que nenhuma devolutiva ocorresse em tempo hábil. Entre todas as ofertas de imunizantes, quantas vidas poderiam ter sido salvas se o Brasil tivesse adquirido vacinas quando estas estavam disponíveis?

Estudo realizado pelo professor Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), demonstrou que caso o Brasil tivesse vacinado 2 milhões de pessoas por dia desde 21 de janeiro, até 127 mil vidas teriam sido salvas em 2021. Ainda segundo o estudo, caso esse número de doses aplicadas tivesse começado em 21 de fevereiro, 86,4 mil brasileiros seriam poupados de perderem a vida neste ano.

Vale registrar que diversos especialistas em Saúde, afirmaram no início da pandemia que, se as medidas sanitárias não fossem implementadas e seguidas corretamente, poderia se perder no Brasil até um milhão de pessoas. Poucos poderiam acreditar nesses números, todavia, atingimos metade dele, e sem perspectiva de controlar a pandemia. Mais de 300 mil mortes ocorreram depois que o governo brasileiro já havia recebido ofertas por vacinas.

É como se a maior tragédia da aviação brasileira (o acidente de avião da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que matou 199 pessoas) tivesse se repetido até aqui 2.525 vezes desde 26 de fevereiro de 2020, quando o primeiro caso foi oficialmente confirmado. Seriam 15 desastres de avião daquele porte por dia, todos os dias, ao longo de mais de 14 meses. Nunca em sua história, o país perdeu tanta gente em um período tão curto de tempo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 5570 municípios, apenas 49 deles possui acima de 500 mil habitantes. Esse é o tamanho de nossa tragédia.

Chegamos a um ponto que todo brasileiro conhece alguém que perdeu a vida por conta da Covid. Quinhentas mil famílias choram a perda de parentes; em diversas delas, foi um ou até mais entes queridos. Estamos na eminência de uma “terceira onda” sem nunca ter, na verdade, saído da primeira. Os dados epidemiológicos recentes mostram aumento no número de infectados, mortes e ocupação de leitos em Unidade de Terapia Intensivo (UTI) na ampla maioria dos estados brasileiros e, para completar a tragédia, continua lento o ritmo de vacinação.

Vida que segue apesar do caos. Os mais conscientes ela segue mantendo distanciamento, evitando aglomerações, usando máscaras, não frequentando festas, não comemorando. Não há o que festejar quando se tem quinhentos mil brasileiros que tiveram suas vidas interrompidas. Que não puderam se despedir. Empatia ao próximo é algo que precisa ser conservado e estimulado. São meio milhão de vidas que se foram de forma rápida, brusca. Não há o que celebrar. Todos nós perdemos. Somos derrotados. O maior culpado tem nome e sobrenome e ainda mantém o discurso negacionista impunemente.

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