Ontem, 03, novamente, outra manifestação em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional, ocorreu em Brasília. O número de manifestantes desta vez foi abaixo do registrado em outros eventos. O conhecido jogo de imagens, de quem apoia, tentou disfarçar o baixo quantitativo de adeptos. Mas bastou ampliar a imagem ou fazer o registro de cima, que se teve a real noção do volume de apoiadores bolsonaristas.
Assim como em outras ações do tipo, o presidente Jair Bolsonaro cercado de convidados, apareceu e apoiou o ato, ocorrido em frente ao Palácio do Planalto. Do alto da rampa, o mandatário da nação saudou os seus apoiadores e, como de praxe, produziu narrativas polêmicas.
Mais uma vez, como analisado insistentemente por este Blog, o presidente esticou a corda novamente. Promoveu aglomerações em meio a prática de distanciamento social e apoiou manifestação que atenta contra a democracia. Em meio a suas falas que geralmente atacam ou, no mínimo, desmerecem outros poderes, Bolsonaro desta vez trouxe um componente novo ao seu tabuleiro verbal: as Forças Armadas. Afirmou que estas estão com o povo, ou seja, verbalizou que, indiretamente, estão com ele, o apoiam.
No sábado, 02, um dia antes da manifestação, os comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), além do ministro da Defesa, estiveram com o presidente no Palácio da Alvorada. O encontro estava fora da agenda. Segundo nota divulgada pelo Ministério da Defesa, o encontro existiu para avaliar o emprego das Forças Armadas na operação de combate ao coronavírus, “além de avaliação de aspectos da conjuntura”. Se o encontro foi motivado pelo que diz a nota, então por que fazê-lo fora da agenda? O assunto é de interesse nacional e público.
Não é de hoje que trato que Bolsonaro quer romper as relações democráticas. Mas para isso precisa ter fundamentalmente o apoio das Forças Armadas para garantir êxito de tal pretensão. Passou a vida inteira (até mesmo quando era militar) defendendo o rompimento com a Democracia e o retorno ao regime ditatorial. Durante os seus 28 anos como parlamentar no Congresso Nacional, pregou isso. Como presidente seria diferente? Como manter o modus operandi do Bolsonarismo, este alimentado pelo conflito e que realimenta a sua base de apoio nas ruas e nas redes, sem tal narrativa de ataque aos outros Poderes? O Bolsonarismo no poder não consegue conviver com o Legislativo e o Judiciário. Seus apoiadores pensam que são dispensáveis. Basta o Executivo. Defendem o que chamo de “terraplanismo republicano”.
O rito é o de sempre. Manifestações no domingo com a presença e apoio explicito do presidente, que aproveita a ocasião para produzir narrativas ofensivas a Democracia. Fica lado a lado com a ruptura democrática. Com isso, inflama a militância e avança uma “casa” ou um passo. E como sempre afirmo: “Após o passo dado, a casa avançada, não há volta. No máximo, se para no novo estágio e depois avança-se mais uma casa”. E assim o Bolsonarismo segue. Na segunda-feira, o dia seguinte, é o da ressaca. O presidente Bolsonaro em seu “cercadinho” na portaria do Palácio da Alvorada, relativiza o dia anterior. Diz que respeita a Constituição, que os outros Poderes são legítimos e que defende a Democracia. Mas como disse, a “casa” foi avançada e não há retorno.
Está claro que Bolsonaro caminha para uma ruptura. Quer promover um autogolpe. Mas para isso precisa de garantias. E essas serão dadas pelas Forças Armadas. A questão é: as FFAA irão apoiar o presidente? Ou irão garantir o cumprimento da Constituição? Até o momento os militares mantém a ordem. Não querem apoiar a pretensão do presidente.
De qualquer forma, a crise política instaurada irá se aprofundar. Ou via impedimento do presidente (crime comum – via STF, ou crime de responsabilidade – via Congresso) ou Bolsonaro irá radicalizar. Ao Bolsonarismo não há “bandeira branca” ou coexistência pacífica entre os Poderes. Em meio a esse autofagismo institucional, o coronavírus e as milhares de mortes pelo país, é só um detalhe, infelizmente.