Inegavelmente é dito pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, desde a campanha, que uma de suas inspirações políticas é Donald Trump, presidente americano. O bolsonarismo, por questões ideológicas, colocou a relação entre o Brasil e Estados Unidos como uma prioridade máxima. Ou seja, no Governo Bolsonaro, a relação entre os governos seria fortalecida, tendo os EUA como principal parceiro comercial, não mais a China.
Com essa proposta, no último dia 16, a comitiva presidencial brasileira embarcou em direção a Washington, capital americana. A viagem seria rápida, de apenas três dias, sendo que um deles, estaria relacionado ao tempo de deslocamento, ou seja, estada em avião. Na comitiva presidencial, estavam alguns ministros de Estado e Eduardo, filho do presidente, deputado federal, e, como dizem, o verdadeiro chanceler brasileiro.
O anúncio da viagem tinha como objetivo mostrar aos americanos um “novo” Brasil, segundo o discurso bolsonarista, fora das amarras ideológicas, com um Estado caminhando para um novo tempo – via reformas, como a da Previdência. O ministro da Economia, Paulo Guedes estava na comitiva e proferiu palestra sobre a economia brasileira aos investidores americanos, buscando atrair investimentos daquele país no Brasil.
No campo político, alguns tropeços, sobretudo no campo narrativo estiveram presentes. E eles vieram de Jair e Eduardo, quando ambos trataram da questão imigratória. O desdem de ambos ao imigrante, neste caso, mesmo sendo o ilegal, pegou mal, mesmo na gestão Trump. O presidente brasileiro teve que se desculpar pelo que disse.
No balanço da viagem, vamos aos fatos: ocorreu o fim ou pelo menos a promessa de encerrar alguma barreira comercial imposta por americanos a produtos brasileiros? Não! Segue tudo como era antes. Além de não ter tido retorno à economia de nosso país, a narrativa do presidente brasileiro aos americanos poderia aumentar o desastre econômico brasileiro, haja vista, que o discurso desmerece a relação comercial com a China, claramente para agradar os estadunidenses. A salvação foi o discurso de Guedes, que deixou claro que o país pretende manter intactas as relações com os chineses, nosso maior parceiro comercial. Menos mal.
Algum Bolsonarista poderá usar como linha de argumentação a permissão da entrada do Brasil na OCDE – pela promessa de retira do veto pelos americanos, mas como não existe “almoço de graça”, isso ocorrerá se o Brasil abrir mão de benefícios que mantém na OMC (Organização Mundial do Comércio) de “nação em desenvolvimento”, que pode celebrar acordos bilaterais em condições especiais. Para comparar: a Coreia do Sul e Turquia integram o tal grupo de 36 países, mas deles não se exigiu tal renúncia. A grosso modo seria a comparação feita pelo jornalista Reinaldo Azevedo: “Se acontecer mesmo, estaremos trocando uma nota de R$ 100 por quatro de R$ 20. Você tem mais notas, mas valem menos”.
Concedemos muito, como no caso da renúncia dos vistos, não só de americanos, mais de australianos, canadenses e japoneses. No caso americano – e como esperado – não houve reciprocidade. No plano militar, a Base de Alcântara retornou ao debate e interesse americano. O presidente brasileiro firmou compromisso de ceder o espaço estratégico (sob o ponto de vista espacial) aos americanos, em troca de pagamento, como se fosse um aluguel anual. A referida base é um sonho antigo de consumo dos Estados Unidos, justamente por sua localização geográfica, que permite – por aproximação da Linha do Equador – grande economia no lançamento de foguetes ao Espaço.
A Prole, novamente
Um fato curioso é que reforçou análise feita por este blogueiro no mês passado: Eduardo, filho do presidente é – de fato – o chanceler brasileiro. Ernesto Araújo seria oficialmente o ministro das Relações Exteriores por indicação de Olavo de Carvalho, com a anuência de Eduardo, que, aliás, já vem desde a época da transição de governo, assumindo os assuntos internacionais. Tradicionalmente no encontro na Casa Branca, em seu salão oval, entre Chefes de Estado brasileiros, o chanceler acompanha. Neste caso não. Araújo não entrou na sala – e dizem que ficou possesso por isso – sendo substituído por Eduardo, conforme fotos oficiais do encontro. Eduardo mandando lá fora, e Carlos aqui dentro, despachando em Brasília.
O único ponto positivo da viagem de Jair Bolsonaro aos EUA foi o discurso de Paulo Guedes feito na Câmara de Comércio Americana, o que encheu de esperança – de certa forma – o setor empresarial do país. Nem o agronegócio (um dos setores que mais apoiou Bolsonaro na eleição), gostou do que foi acertado em solo americano. Tirando Guedes, o resto foi sujeição primária e constrangimento, com o problema adicional de se ter agravado muito a questão venezuelana, mas uma vez sem necessidade.