A estratégia de Lula vai dando certo. Resta saber se o eleitor a confirmará?

Na última quinta-feira (26), mais uma pesquisa eleitoral para a corrida presidencial foi divulgada. Encomendada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), e realizada pelo Instituto Vox Populi. Foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral no dia 17/07/2018 e protocolada sob o número BR-02205/2018. A pesquisa entrevistou 2.000 pessoas, sendo aplicada em 121 municípios, portanto, bem abrangente.

O referido instituto realizou a mesma pesquisa (formato e público-alvo) em junho, portanto, recente. Em relação aos dados anteriores, Lula cresceu dois pontos, chegando a 41%. Se for considerada a margem de erro da pesquisa (2,2%), pode-se afirmar que o petista se manteve estável; o que demonstra a consolidação de seu eleitorado, independente de sua situação atual (preso e ainda sem a garantia que possa concorrer). O que impressiona é a supremacia do ex-presidente nas pesquisas. Enquanto Lula atinge 41%, todos os seus adversários juntos chegam a 29%. O petista ganharia com folga no 1º turno, segundo o apontamento de todas as pesquisas realizadas até o momento.

O Plano Lulista

O PT deverá no próximo dia 15 de agosto registrar a candidatura do ex-presidente ao Palácio do Planalto. Portanto, Lula, mesmo preso, manterá candidato. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá até o dia 17 de setembro para manter ou não a candidatura do petista. O referido tribunal deverá torná-lo inelegível. Ainda sim caberá recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula e os dirigentes petistas sabem que ele não conseguirá disputar as eleições. A sua prisão é política, pois tem como objetivo claro (reconhecido até por seus adversários) de tirá-lo da disputa presidencial, o que deverá acontecer. Sabendo disso, Lula mantém o seu nome; não abrindo espaços para apoios (pelo menos, não neste momento). Sabe que a sua prisão poderá fazê-lo virar um mártir, e isso se refletirá em sua alta popularidade, o que está sendo confirmado por todas as pesquisas.

Deverá – sem mais alternativas no campo jurídico – anunciar o seu substituto no prazo limite. Dois nomes dentro do PT estão em evidência: Fernando Haddad e Jaques Wagner. O primeiro é mais próximo do ex-presidente, foi seu ministro da educação e teve apoio de Lula para ganhar a eleição na capital paulista, em 2016. A questão é o seu total desconhecimento no cenário nacional, sobretudo no principal reduto de votos petista: Nordeste (apesar das pesquisas apontarem grande densidade eleitoral em todas as regiões brasileiras). A outra opção é Jaques Wagner, que já foi ministro de Lula e Dilma. Governou a Bahia por oito anos. Tem grande entrada no Nordeste, porém é também desconhecido no cenário nacional (contudo, tem mais abrangência de citação do que Haddad).

Lula deverá escolher Haddad (que atualmente tornou-se um de seus advogados, tendo acesso ao ex-presidente quase diariamente em sua cela na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba). Talvez, a manobra de ter Haddad incluído no grupo de sua defesa, seja – nos bastidores – a preparação de Lula para a própria substituição; e de quebra vincular o nome do ex-prefeito de São Paulo ao seu, junto ao eleitorado. O ex-presidente é um estrategista político nato. Todo o processo, que incluiu os efeitos da sua própria decisão estão sendo calculadas. Lula sabe que não pode errar, ou que a sua posição extremamente personalista, não tenha o direito de tirar do PT a possibilidade de ter espaços de poder. Tem a sapiência de saber tirar proveito político de sua prisão junto ao eleitorado, para que isso possa ser revertido em apoio nas urnas.

O que não se consegue ainda aferir é a capacidade do ex-presidente em transferir votos. Por ter escolhido continuar artificialmente na disputa, esticando ao máximo a apresentação de seu substituto (o que deverá acontecer semanas antes do dia da eleição); Lula conseguirá sem a sua grande capacidade de oratória e persuasão política – pois estará encarcerado – “vender” o seu ungido? O eleitor entenderá que, votando no escolhido, estará votando no ex-presidente?

Ainda é prematuro qualquer afirmação neste sentido. O PT com a estratégia lulista deverá ficar isolado no primeiro turno. Lula ainda tenta fechar acordo com o PSB; que ainda resiste em aceitar, haja vista, que a decisão de manter a candidatura de Lula, cria total imprevisibilidade no que diz respeito ao que poderá acontecer eleitoralmente. Lula, com a sua tática, deixou Ciro Gomes de lado, deslocando e tirando a competitividade no pleito (conforme escrito neste blog na semana passada) o ex-governador cearense.

Essa análise me remonta ao ano de 2011, quando estive – a convite – no escritório de um ex-senador da República pelo Pará (hoje afastado da vida pública), para uma longa avaliação do cenário político, e que no meio do processo dialético, disse a ele: “O PT não deveria ter o monopólio da Esquerda. Se o tem, é porque há uma exagerada complacência de outros partidos de mesmo campo ideológico” – que neste caso, incluía o partido que ele comandava à época, no Pará. Relato isso, justamente para que se entenda a postura e perfil do Partido dos Trabalhadores; legenda que não abrirá – pelo menos enquanto for dominada pelo lulismo – espaço para outras forças políticas à esquerda. Por isso, o encaminhamento para o isolamento na disputa. Resta saber se Lula conseguirá colocar o seu escolhido isoladamente no segundo turno? Penso que sim. Mas em que condições políticas? Dentro da disputa eleitoral, em 2018, o processo é híbrido, o que o torna imprevisível.   

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