Não é de hoje que se discute a construção de pontes sobre o Rio Tocantins, em Marabá. A mineradora Vale que antes tratava o assunto com certa reserva, agora tornou pública a sua intenção, de ter, pelo menos, mais uma estrutura sob o citado fluxo d’água. A empresa havia prometido em setembro de 2020 – depois de muita pressão – à Associação Comercial e Industrial de Marabá (Acim), a data para que a construção da segunda ponte sobre o Rio Tocantins fosse iniciada.
Agora, dois anos depois, a mineradora confirmou que o projeto irá sair do papel. Publicou em seu Relatório 20-F, documento padronizado pela SEC (Securities and Exchange Commission), apresentado anualmente por todas as empresas estrangeiras com ações negociadas nas bolsas de valores nos Estados Unidos. Seu conteúdo traz um panorama de cada um dos negócios, apresentando os resultados financeiros e operacionais, fatores de risco e o andamento dos investimentos e projetos da empresa. Nesse documento, fica claro que a construção da ponte só iniciará em 2027, ou seja, daqui a cinco anos. Data, convenhamos, muito distante.
Todavia, nos bastidores, se fala que a mineradora não irá esperar tanto, tendo como base que o projeto está pronto e as licenças para o seu início estão liberadas. Espera-se que as obras iniciem em 2023, com término em 2027. Se antes o projeto seria novamente uma estrutura igual a primeira, ou seja, rodoferroviária, agora a nova ponte será apenas ferroviária, o que mostra que a empresa quer algo exclusivo, que atenda apenas os seus interesses, ou seja, exportação de minérios vindos de Parauapebas e Canaã dos Carajás. Reconhece a necessidade de uma segunda opção de transporte de cargas, melhorando o fluxo de tráfego ferroviário e mitigando riscos de negócios.
Para isso, investirá 830 milhões de dólares (mais de 4 bilhões de reais). No projeto há ainda a construção de outra ponte, esta sendo exclusivamente rodoviária. Tal pretensão que segue a linha de expansão da exploração mineral se agrupa com a duplicação da Estrada de Ferro Carajás e o aumento da produção nas atuais minas em Parauapebas e Canaã dos Carajás.
O Relatório 20-F, além da publicidade sobre os projetos futuros que a mineradora Vale pretende executar, a exemplo da segunda ponte sobre o Rio Tocantins, ligou o alerta vermelho sobre outro assunto: a vida útil da lavra, que segundo o citado documento se encerrará em 2038, isso tendo como base os atuais níveis de produção das minas. Se a mineradora aumentar o processo de exploração, essa data limite ficará ainda mais próxima. Essa data limite de exploração é volátil. Vária conforme avanços tecnológicos (que buscam sempre esticar a exploração mineral nas minas atuais e a liberação de novos processos). Todavia, uma certeza: o fim de Carajás como a maior província mineral do mundo está cada vez mais próximo.
Imagem: CMM.