A verdade inconveniente e a incompetência gerencial

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O termo que ajuda a construir o título deste artigo, foi gerado em um famoso documentário que alertava em 2006, sobre as mudanças climáticas que ocorriam no mundo, e que teve como protagonista o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, o democrata Al Gore. Depois do grande sucesso do documentário, o citado político americano se tornou um dos maiores expoentes da defesa do meio ambiente e práticas sustentáveis em todo o planeta.

Pois bem, neste artigo feito em destaque para o Blog do Branco, busca-se de forma superficial, relacionar a tragédia vivida pelos gaúchos sob dois aspectos: a mudança do clima, neste caso, aumento significativo do volume pluviométrico; assim como a incompetência gerencial da classe política.

Se formos analisar os boletins meteorológicos, se percebe que o grande volume de chuvas que atingiu grande parte do estado do Rio Grande do Sul, tiveram como ações geradoras, ondas de frio que nascem ali impactam todo o Brasil. A sequência foi um grande bloqueio de massa de ar quente e seco, que atua normalmente por semanas sobre o Centro-Oeste e Sudeste, desviando todo canal de umidade da Amazônia para o Rio Grande do Sul. É, em parte um fenômeno natural, com “pitadas” de ações antrópicas.

Até o momento, 441 cidades de um total de 497 foram atingidas pelas consequências do evento climático extremo que afetou 1,9 milhão de pessoas, segundo boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul. O volume de chuva no território gaúcho e, especificamente, em Porto Alegre, é o maior da história. De todo modo, mesmo que todas as ações preventivas por parte de governos, assim como projetos de intervenções, não evitariam alagamentos, até porque a topografia, tendo como base uma rede hidrográfica que se forma em áreas de serra, percorre por planaltos e desagua em uma grande planície, em que estão dezenas de cidades, dentre elas Porto Alegre, a subida das águas em direção ao espaço urbano seria inevitável, todavia, como volume de estragos muito menor do que se viu.

Incompetência gerencial 

A cidade de Porto Alegre possui 14 comportas, que ficam localizadas ao longo do Muro da Mauá — um paredão com 2,6 quilômetros de extensão que fica às margens do Guaíba e vai desde o porto até a avenida Mauá, na região central. O muro tem 3 metros de altura a partir do nível do solo.

Em uma matéria postada produzida pela Agência Brasil sobre o sistema contra inundações da capital gaúcha. Manifesto foi tornado público por um grupo de 42 engenheiros, arquitetos e geólogos, em que explicam o que ocorreu para a cidade ser tomada pela água do Guaíba.

Concebido na década de 1970 por engenheiros da Alemanha, com inspiração em modelos holandeses, o sistema porto-alegrense é composto por cerca de 60 quilômetros (km) de diques e barragens, de norte a sul da capital gaúcha. Avenidas importantes, como Castelo Branco, Beira-Rio e Diário de Notícias, além da rodovia Freeway, são barragens construídas para evitar o extravasamento da água do Guaíba para áreas urbanas.

Há, também, um muro de proteção, o Muro da Mauá, que funciona como dique para área central da cidade, desde a altura da rodoviária até a usina do Gasômetro. Por toda essa extensão, há 14 comportas, que permitem a entrada e saída da água, e 23 casas de bombas hidráulicas, que também tem as próprias comportas, e funcionam como pontos de drenagem da água, para devolver , em uma eventual inundação, ao lago.

Todo esse sistema estava sem manutenção adequada, portanto, não funcionou como deveria, potencializando a tragédia. O prefeito de Porto Alegre, chama-se Sebastião Melo (MDB), que tenta a reeleição. Está sendo acusado de ser o principal responsável pelo ocorrido. Contra ele foi aberto no último dia 23, um pedido de impeachment na Câmara Municipal.

O mandatário municipal vem se contorcendo para tentar explicar e, claro, tirar a responsabilidade sobre si. Sobrou até para os “anéis de Saturno”, que passaram a serem responsáveis pela tragédia gaúcha. Melo sabe que os holofotes do país estão sobre ele, e que o seu projeto de continuar no comando do Executivo porto-alegrense, parece ter sido levado pelas correntezas do Guaíba em direção à Lagoa dos Patos.

Outra responsabilização em relação à tragédia, recai sob o governador Eduardo Leite, do PSDB, especialmente em relação ao corte ou alteração de 500 pontos Código Ambiental do Rio Grande do Sul, em 2019. Ambientalistas consideram que a medida desmontou as leis estaduais de proteção ambiental, afrouxando regras, o que possibilitou um aumento significativo de ações predatórias e que podem ser relacionadas ao aumento do desequilíbrio ambiental.

De todo modo, a lição gerencial que a tragédia gaúcha nos ensina é que a classe política – quase sem exceções – não está preparada para agir em situações de calamidade e emergência, que tem como propulsores problemas ambientais.

Portanto, a “verdade inconveniente” proposta por Al Gore, se tornou uma realidade perversa, em que os menos afortunados serão os mais impactados, em que a classe política assiste inerte todos os problemas, sem propor ações que, de fato, melhorem a realidade dessas populações.

A incompetência gerencial de Melo, somada à insensibilidade ambiental de Leite, foram fundamentais para potencializar a tragédia. O desequilíbrio ambiental e, consequentemente, a resposta da Natureza, acabam por serem uma escolha. A conta se tornará cada vez mais impagável.

Imagem: Poder 360. 

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