Não é de um dia para o outro que a alta do dólar afeta a vida das empresas. Mas agora, com a cotação estabilizada acima dos R$ 5,40 há quase três meses, os efeitos começam a aparecer: as exportações de commodities agrícolas já mostram um forte crescimento, e grandes indústrias percebem os efeitos positivos sobre seus resultados financeiros.
Entre junho e julho, o dólar mudou de patamar: saiu de R$ 5,24 para R$ 5,66, uma valorização de 8%. Em agosto, a cotação se estabilizou um pouco acima de R$ 5,40. Na prática, isso significa que nossos produtos ficaram mais barato para os gringos. Esse movimento favorece o exportador, que vende para o exterior e, portanto, recebe em dólares, mas tem boa parte de seus custos pagos em reais.
Quem pode, está aproveitando essa janela. É o caso dos produtores de soja, carro-chefe das exportações brasileiras. Os produtores correram para antecipar a venda da safra 2024/25, que será plantada somente em setembro, para aproveitar o dólar mais alto. A venda antecipada da safra é um procedimento normal e acontece todos os anos. Mas, com o dólar mais atrativo, as negociações aceleram.
Esse efeito positivo para o exportador, entretanto, acabou perdendo força nas últimas semanas, quase como um efeito colateral: como a alta do dólar estimulou um aumento da oferta de grãos na Bolsa de Chicago, referência quando o assunto é o grão, os preços da commodity acabaram cedendo – também pressionados por uma safra americana robusta. “O mercado de soja já vive um fim de ciclo de alta desde 2023, com alguns respiros, e por isso os agricultores ficam mais seletivos para negociar.”
Quem também aproveitou a deixa do dólar alto foram os frigoríficos. Em julho, as exportações de carne bovina atingiram volume recorde (267,7 mil toneladas). O faturamento somou US$ 1,15 bilhão – um dos 10 maiores da história, segundo dados compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que reúne JBS, Marfrig e Minerva, os três maiores frigoríficos do país. A Abiec apontou o câmbio como um dos fatores para o aumento das vendas.
Ao todo, as exportações do agronegócio somaram US$ 15,4 bilhões em julho, crescimento de 8,8% em relação a igual período de 2023 – recorde para o mês e maior valor deste ano. Resultado puxado por soja e carnes. Está aí o “efeito dólar”.
Nas exportações de minério de ferro, onde a Vale nada de braçada, o volume cresceu 24% em julho na comparação com o mesmo mês do ano anterior, para 39,31 milhões de toneladas embarcadas – número que ficou muito próximo do recorde histórico, de 39,5 milhões de toneladas de dezembro de 2015. A receita cresceu 21% no comparativo anual, para US$ 2,9 bilhões.