Argentina: a realidade se impõe

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Com menos de dez dias eleito presidente da Argentina, Javier Milei já deixa claro que o seu discurso revolucionário, para não dizer, caótico de campanha, parece que começou a ser abandonado ou, ao menos, adaptado à realidade. Bastou alguns dias na condição de eleito e montando o seu governo, para que entendesse que a narrativa produzida que o fez ganhar em primeiro turno, atacando tudo e todos, não deverá ser aplicada à risca como prometido.

Medida de extinguir o Banco Central como foi dito a todo momento na campanha, não foi abandonada, todavia, Milei anunciou que levará, pelo menos, dois anos para cumprir a promessa (isso se, de fato, conseguir fazer tal ação – reconhecida por muitos como algo fora de prepósito). A reboque disso vem à questão da dolarização da economia, procedimento realizado em outro momento, mas que não deu certo em tempos passados. Nessa área, o que se vem percebendo nos últimos dias é que os arroubos da campanha estão, digamos, contidos. Tudo será feito com todo o cuidado.

Na área da política externa, na campanha, Javier deixou claro que se aproximará muito mais dos Estados Unidos e de Israel; manterá certo distanciamento do Brasil e da China (o primeiro e o segundo maiores parceiros comerciais da Argentina, respectivamente). Outro discurso que vem caindo por terra é de distanciamento diplomático e comercial do Brasil. Nos últimos dias, a equipe de transição de Milei vem dando sinais de aproximação com o governo brasileiro, convidando, inclusive, o presidente Lula para a posse no próximo dia 10.

A decisão de, digamos, cortejar o atual presidente brasileiro, vem despertando a ira de bolsonaristas, que tanto comemoram a vitória do autointitulado anarcocapitalista. Inegavelmente, Milei na condição de presidente irá promover algumas mudanças, todavia, as mais polêmicas deverão ficar em compasso de espera justamente por conta do presidente eleito não tem maioria no Congresso. Dependerá de articulações com uma base direitista liderada pelo ex-presidente Macre, além da bancada peronista que manteve forte presença no parlamento argentino.

Especialistas em política argentina afirmam que, na verdade, Javier Milei será apenas um instrumento usado por Macre, pois os nomes anunciados até o momento, em sua ampla maioria estava no primeiro escalão do governo de Maurício. Exemplo mais emblemático desta tese é que a terceira colocada na disputa presidencial vencida por Javier Milei, Patricia Bullrich, braço-direito de Macre, será ministra no novo governo. Sem base parlamentar, Macre deverá tutelar o novo presidente.

O certo é que o mundo real sempre se impôs rapidamente às narrativas – no caso argentino – e aos delírios narrativos de campanha, que servem para eleger, mas dificilmente servem para governar.

Imagem: reprodução internet. 

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