Belém: a fobópole amazônica

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Este artigo foi escrito em Belém, por ocasião do feriado prolongado. Havia prometido que a estada na capital não teria: agenda profissional, análise política e rodas de debate sobre os meandros do cotidiano. Cheguei na capital do Pará na noite do último sábado (28). O clima de terror, medo e sobressalto coletivo foi evidente, explicito, algo flagrante. Ruas com pouco movimento, carros com vidros levantados, cruzando esquinas sem esperar o sinal “abrir”. Essa é a rotina diária em Belém, a capital do medo.

Durante o dia, nas ruas de diversos bairros periféricos, o pavor na cara dos moradores era percebido. Foram 27 homicídios no último fim de semana prolongado (sábado e domingo). A morte de uma policial militar na tarde do último domingo foi mais um estopim para uma sequência de mortes pelos bairros da cidade. O modus operandi se mantém: carros ou motos descaracterizados com homens encapuzados que atiram a esmo em vias públicas. Ainda em abril, 21 policiais militares já perderam a vida. A título de comparação, em 2017, 28 PMs foram assassinados.

O geógrafo Marcelo Lopes de Souza, juntou as palavras gregas phobos que significa medo e polis que significa cidade para criar o neologismo fobópole. O termo cunhado pelo acadêmico gerou o título de um de seus mais famosos livros: “Fobópole, o medo generalizado e a militarização da questão urbana”, lançado em 2008, pela Editora Bertrand Brasil. Nele, o autor aborda a questão do medo nas cidades e encara, de forma inteligente e destemida, muitos dos vários temas que se relacionam diretamente com isso.

No ano de 2017, segundo dados da Secretária de Segurança Pública (Segup), foram 4400 assassinatos em todo o Pará. Números que fazem inveja a qualquer guerra civil ao redor do mundo. Uma média mensal de 366 óbitos por arma de fogo. Segundo o Portal G1, só nos dois primeiros meses de 2018, 668 assassinatos ocorreram no Pará. Em termos comparativos, o estado de São Paulo (o mais populoso do país, e cinco vezes maior do que a população do Pará – segundo dados do IBGE), registrou no mesmo período 583 assassinatos. Portanto, sem rodeios, a situação do Pará é calamitosa no que diz respeito aos índices de violência, em especial ao número de mortes violentas.

O governador Simão Jatene reuniu no último domingo, 29, à noite, na sede da Delegacia Geral, em Belém, toda a equipe de gestão do Sistema de Segurança Pública do Estado. No encontro, foram traçadas medidas para o enfrentamento da criminalidade no Pará, especialmente na região Metropolitana de Belém.

No encontro, foram anunciadas novas medidas de combate à criminalidade: a troca da empresa responsável pelo bloqueio dos sinais de celulares nos presídios; posse recente de 141 delegados, 289 investigadores, 166 escrivães e 19 papiloscopistas, aprovados no concurso público iniciado em 2016, o segundo feito em menos de quatro anos para a Polícia Civil. Em 2014 ingressaram na corporação 386 novos policiais – 146 delegados, 90 escrivães, 131 investigadores e 19 papiloscopistas. Há outros dois mil militares em fase final de formação, assim como 400 reservistas que, em breve, passarão a atuar nas atividades operacionais, segundo informações da Secretária de Segurança.

A nota ainda afirma que o reforço na segurança pública no Estado também contempla outros investimentos, como a renovação e ampliação da frota de veículos das polícias Civil e Militar, totalizando 800 carros e 700 motocicletas. Destacam-se ainda os investimentos na construção de novas unidades de segurança, desde 2011, contemplando todas as regiões do estado e a ampliação de espaços prisionais. O estado também construiu aproximadamente 70 Unidades Integradas Pro Paz e já criou mais de três mil vagas no sistema carcerário.

Apesar do volumoso processo de justificativa enviado pelo governo, sabe-se que isso é algo irrisório, que não consegue diminuir o alto índice de violência. Os novos policiais civis e militares entram e outros entrarão nas próximas semanas em péssimas condições de trabalho. Os investimentos em equipamentos são mínimos, frente a real necessidade. O próprio orçamento em segurança vem diminuindo ano a ano. Hoje é menor do que a da área da comunicação e propaganda do governo.

Jatene sabe que a questão da segurança pública será o principal assunto da campanha eleitoral. Agora da sua costumeira forma morosa em resolver e tomar decisões, começou a reagir. Se a crise na segurança pública continuar ou até aumentar, isso pesará contra a candidatura de Márcio Miranda, que terá que defender o atual gerenciamento desastroso na área e ainda propor ações que visem a diminuição do caos.

Não há dúvida que dentro do tempo da dinastia tucana que completará no fim de 2018, 20 anos, interrompida uma única vez (2007 – 2010), a segurança pública foi área de maior deficiência, beirando o nível de incompetência gerencial ao varejo. Por outro lado, seguindo o jogo de disputa político-eleitoral, o grupo RBA de comunicação, liderado pelos Barbalho, segue a sua linha de ataque a exaustão. A ordem é “bater” diariamente no governo, fomentando no imaginário popular a incompetência tucana, o que, na prática, infelizmente para o cidadão comum é verdade.

Viver em Belém virou um risco de morte. A fobólope é algo real. O Estado perdeu a guerra para o poder paralelo alicerçado no crime organizado e nas milícias que crescem de forma assustadora. Esse cenário “sírio” só ocorre também pelo caos social que vive o Pará, que mantém o seu perfil desenvolvimentista no formato “rabo de cavalo”. Os números não mentem.

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