Desde que tornou-se Presidente da República, Jair Bolsonaro não passava tanto tempo (pouco mais de uma semana até aqui) tão reservado, sem produzir polêmicas e, portanto sem gerar conflitos. Esse estado de paz não foi uma decisão do presidente, e sim foi tomada pelas circunstâncias do momento. Tal postura ocorreu após a descoberta do paradeiro de Fabrício Queiroz, que acabou por culminar com a sua prisão. Ele foi descoberto em uma propriedade de Frederick Wassef, à época advogado do clã presidencial. E não era há pouco tempo. Ele estava escondido havia cerca de um ano na chácara em Atibaia, interior de São Paulo. Foi preso numa operação requisitada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Tal fato é considerado até aqui, a “bala de prata” contra Jair Bolsonaro, sob o ponto de vista político. E isso confirma-se pelo momento delicado que o presidente já vinha passando, com queda em sua popularidade e pouco apoio no Congresso Nacional. Não, por acaso, que, o Centrão foi chamado para a base do governo, claro movimento para evitar que qualquer pedido de impeachment possa avançar. Como dito em outra oportunidade, há, até o momento, 36 pedidos de afastamento do presidente. Com a prisão de Queiroz, o preço do apoio do Centrão subiu e custará mais uns bilhões ao governo, que se quiser se manter, vai precisar aceitar condições em outros patamares.
Em um das poucas aparições públicas desde quando o ex-assessor e de seu filho e seu amigo há décadas foi encontro, no último dia 25, por exemplo, ficou escancara a narrativa harmoniosa produzida pelo presidente Bolsonaro. Deixou em evidência a buscar pela boa relação entre os Poderes, ressaltando a independência. Postura bem diferente de semanas passadas, em que o presidente comparecia e apoiava manifestações antidemocráticas. Depois das ações lideradas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que decretou prisões e operações de busca e apreensão aos que defendem o fechamento de instituições, o bolsonarismo e sua fábrica de Fake News parece ter sido enquadrado. A militância virtual, diminuiu consideravelmente. O tom enérgico do presidente, que incluía termos de baixo calão em alto e bom som, não faz mais parte do cotidiano, pelo menos, por enquanto.
Bolsonaro quer a ruptura institucional. Esse tema já foi debatido diversas vezes aqui, neste Blog. O bolsonarismo não consegue se enquadrar aos limites democráticos, não aceita a divisão de Poderes e que sejam independentes. Defende o que chamo de “terraplanismo republicano”, em que basta apenas um poder, neste caso, o Executivo. A questão é que Bolsonaro não conseguiu o apoio que queria das Forças Armadas. Ao seu lado para dar prosseguimento à ruptura, há poucos militares, a ampla maioria – inclusive muitos da ativa – ocupa cargos no governo.
O sistema de freios e contrapesos demorou a funcionar, mas por hora opera. Esse sistema – indispensável ao republicanismo e a democracia – está sendo responsável em manter o bolsonarismo, sobretudo a sua ala mais radical, dentro dos limites aceitáveis. Neste Blog há dezenas de artigos que tratam do modus operandi do presidente e apoiadores, o jogo intermitente de avançar e recuar, mas ao fazer o recuo, avançava-se sempre mais uma casa. Desta vez, após a descoberta de Queiroz, o recuou foi maior e obrigou o presidente a fixar-se. Está claro que, desde o início do mandato, Bolsonaro nunca esteve tão fragilizado politicamente.
A real possibilidade de Queiroz falar tudo que sabe, tira o sono do presidente. Há muitas evidências que estão a um fio de provar que o senador Flávio Bolsonaro, na época deputado estadual pelo Rio de Janeiro, cometeu diversas ilegalidades no curso de seu mandato. O futuro do clã bolsonaro está nas mãos, ou melhor, nas cordas vocais de Fabrício Queiroz. Este sim o maior freio e contrapeso hoje dentro da República brasileira em relação ao Bolsonarismo. O único que conseguiu até aqui enquadrar o presidente e sua prole.