Brumadinho, o caminho da reparação

Para quem olha de fora, a história do município de Brumadinho (MG) se divide entre antes e depois de 25 de janeiro de 2019, quando o rompimento da barragem causou perdas humanas irreparáveis e marcou a vida da comunidade — inclusive do ponto de vista geográfico e ambiental.

Para quem vive o dia a dia de Brumadinho em 2023, entretanto, as coisas não são exatamente assim. “Para nós, 25 de janeiro é todo dia. A gente ainda não saiu dele, e isso não envolve drama ou vitimismo, mas o fato de que a nossa realidade mudou e continua mudando”, observa a brumadinhense Camila Amorim, relações públicas e analista do programa de visitas oferecido à imprensa e outros setores da sociedade civil que se interessam em acompanhar a situação do município hoje, quase cinco anos depois do rompimento.

Camila conduz a reportagem por uma rota que mostra as principais áreas afetadas no município e as transformações que já aconteceram de lá para cá, numa iniciativa de transparência da Vale acerca da reparação de danos. E elas são muitas: vão do atendimento humanitário e socioeconômico às obras de infraestrutura urbana e reparação socioambiental, passando pela segurança em barragens e pelo compromisso com a busca pelas três vítimas que ainda não foram encontradas.

Nada disso ocorre sem escuta da sociedade civil ou ignorando as evidentes marcas que a perda de 270 vidas provoca: desde a estrada que conduz à Casa Alberto Flores, um centro de apoio de operações da Vale, é abundante a presença de placas de sinalização de segurança de todos os tipos e se mantêm as manifestações públicas de luto, como o grafite com os dizeres “a vida vale + que o minério”.

Acordo

Em fevereiro de 2021, a Vale assinou com o Governo de Minas Gerais, os Ministérios Públicos Estadual e Federal e a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) o Acordo de Reparação Integral, formalizando judicialmente as obrigações de fazer e pagar da empresa tendo em vista a reparação socioeconômica e socioambiental, no valor total estimado de R$ 37,69 bilhões. Até agora, 64% dessas obrigações já foram cumpridas.

Cuidado com o futuro

Dentre as muitas preocupações e responsabilidades que o rompimento da barragem suscita desde 2019, a pergunta que ronda a mente de quem está dentro ou fora do município é: como garantir a não repetição de uma catástrofe?

Desde 2019, foram investidos cerca de R$ 7 bilhões no Programa de Descaracterização de barragens a montante da Vale. A eliminação das estruturas deste tipo do Brasil é uma das principais ações da empresa para evitar que rompimentos como o de Brumadinho voltem a ocorrer. As obras são complexas, trazem riscos e, por isso, as soluções são customizadas para cada estrutura.

Em 2022, cinco estruturas foram descaracterizadas. No total, das 30 que usam o método de construção com alteamentos a montante, mais de 40%, já foram eliminadas, o que equivale a 13 estruturas (dez em Minas Gerais e três no Pará).

Todas as barragens a montante da Vale no Brasil e as ações implementadas nessas estruturas são objeto de avaliação e acompanhamento pelas assessorias técnicas independentes, que fazem parte dos Termos de Compromisso firmados com os Ministérios Públicos Estadual e Federal, Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e Estado de Minas Gerais. A eliminação de estruturas construídas a montante é uma exigência legal pós-rompimento.

Para ampliar a segurança das estruturas, há o Centro de Controle Geotécnico integrado, onde é feito o monitoramento das principais barragens 24 horas, 7 dias por semana. Preventivamente, a Vale evacuou comunidades das Zonas de Autossalvamento das barragens em nível 2 e 3 de emergência.

O mais importante: as pessoas

Por trás de todo o movimento de obras e do maquinário que reconstrói Brumadinho estão as pessoas — cada qual carregando suas esperanças no futuro e suas ausências. As mais perceptíveis nesse momento são a das três vítimas ainda não encontradas.

Na base do Corpo de Bombeiros instalada na chamada “zona quente” do município, a magnitude da operação de buscas impressiona e comove. Das máquinas que auxiliam na 8ª estratégia já implementada para que todas as “joias” sejam encontradas — como o major Rafael Neves dos Santos, bombeiro militar, se refere aos desaparecidos — os esforços parecem incessantes e é impossível ignorar que esse processo é extenuante para todos os envolvidos.

Quando alguém é encontrado, resta ainda um longo processo de análise que envolve, também, esforços científicos e laudos da Polícia Civil, que trabalha conjuntamente com a corporação. A paciência e a esperança parecem ser parte imprescindível na reparação dos traumas.

Com informações da Vale e Uol (adaptado pelo Blog do Branco). 

Imagem: reprodução Internet. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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