Segundo diversas pesquisas, a maioria dos brasileiros quer o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Pelo levantamento feito pelo Blog junto ao departamento de protocolo da Câmara dos Deputados, há até o momento, foram recebidos 48 pedidos de afastamento do mandatário da nação. Na prática, crimes de responsabilidade se somam em dezenas.
Mas como já dito aqui em diversos outros textos, impeachment não se faz ou se provoca sem as mínimas condições políticas. E o que isso significa na prática? Votos. Para que o parlamento, neste caso, a Câmara aceite o pedido, precisa-se ter no mínimo 342 votos (2/3). Está mais do que claro que não se tem esse quantitativo mínimo para iniciar o processo.
No auge de sua impopularidade, que aliás vem diminuindo, segundo recentes pesquisas, Bolsonaro se aproximou do chamado “Centrão”, grupo de parlamentares e partidos que se unem para ter uma agenda própria e ganhar espaços no governo, independente de quem governe. É o que chamamos de fisiologismo puro, algo enraizado em nossa política, e que foi potencializado pelo modelo presidencialista de coalização.
Em nome da sobrevivência política, Bolsonaro se aliou ao que sempre criticou e que prometeu não fazer na campanha. O Centrão possuía (segundo levantamento, mas sem a devida precisão, pois é algo móvel, depende de acordos) algo em torno de 221 cadeiras, e que contava com as seguintes legendas: PL, PP, PSD, MDB, DEM, SOLIDARIEDADE, PTB, PROS, AVANTE.
Os verbos estão conjugados no passado. Por que? O MDB e DEM resolveram deixar esse bloco. Ambos possuem respectivamente 35 e 28 cadeiras. São 63 votos a menos na base governista. Com a decisão, a maior coalizão da Casa passa a contar com 158 deputados. Os lideres destes partidos que saíram, justificam tal ação como algo natural. Segundo eles, MDB e DEM se uniram ao “Centrão” para aprovar o orçamento. Natural que se separe depois. A questão que se esconde nessas justificativas é a disputa pela presidência da Câmara.
IMPEACHMENT
Com a nova recomposição na base de apoio do Palácio do Planalto, o que muda? Na prática os que ficaram na base governista deverão “vender” mais caro o apoio, pois em termos numéricos, o presidente ficou mais exposto a movimentos internos em prol da aceitação do processo de impeachment (neste caso cabe exclusivamente ao presidente da Casa), que já somam cinco dezenas, um recorde em curto espaço de tempo em nossa recente história republicana. Será que a saída do DEM e do MDB, podem forçar a saída de outros partidos? A ver.
Por outro lado, as ruas são um grande termômetro aos congressistas. E elas parecem ser para o momento, o salvo conduto do governo. Portanto, mesmo em quantitativo menor, dificilmente o presidente enfrentará um pedido de impedimento. Bolsonaro já demonstrou que não sabe governar, todavia após quase três décadas no parlamento, ele sabe bem como funciona a Casa. Em nome da sobrevivência esqueceu o que prometeu aos que deixaram se enganar (sem levar em consideração como funciona o tabuleiro político). De todo modo, o mundo real de Brasília sempre se impõe, e descaracteriza o “fantástico mundo dos bolsonaristas”.