Na última terça-feira (19), em Brasília, o agora ex-PMDB, realizou a sua convenção nacional. A referida legenda definiu no encontro a mudança de nome, passando a ser chamada de MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Não é mais obrigatório a presença do nome “partido” na denominação das legendas, as novas já não a trazem, e as atuais – como no caso do PMDB – resolveu retirar.
Não há dúvida que a decisão tem a ver com a imagem desgastada da legenda. O PMDB está em meio a uma enxurrada de denúncias de corrupção contra os seus principais dirigentes, além das diversas medidas impopulares tomadas pelo governo de Michel Temer, desgastaram demais a imagem do partido. A sociedade associa diretamente a legenda aos malfeitos que ocorrem na política. Faz todo o sentido buscar uma nova “roupagem”, mesmo que isso dificilmente mude a concepção geral do eleitorado, pelo simples fato de que os seus dirigentes continuarão em seus cargos. Portanto, na prática, não haverá mudança.
Em breve passagem temporal, a (re) utilização da nova sigla é o retorno ao processo inicial de criação do movimento político. Para o cientista político Bolívar Lamounier, que já na década de 1980 fazia pesquisas sobre o MDB, a estratégia é “um truque eleitoral”. “Não vai alterar em nada a essência do partido, de um partido clientelista, fisiológico e totalmente corrupto. Ele não tem a menor condição de se tornar um partido progressista, social. É uma tentativa de ganhar terreno eleitoral, fazendo de conta que é a continuidade do velho MDB. Mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. O MDB era uma frente de oposição ao regime militar. Hoje o PMDB é um partido clientelista, não tem mais substância alguma”, destaca.
Ou a mudança na nomenclatura seria um novo tempo? O início da mudança interna, buscando criar uma nova imagem e atuação ao maior partido em musculatura eleitoral do Brasil? O agora MDB está envelhecido não só na avançada idade de seus principais dirigentes, mas na forma de fazer política. Cabe aos mais novos, as novas lideranças que sugiram e ainda surgem alavancar a legenda para novos tempos. Isso será possível?
O blog ao seu leitor breve passagem histórica sobre a legenda (extraído com adaptações do caderno “El Pais”):
Movimento Democrático Brasileiro foi criado em março de 1966 para ser uma espécie de oposição branda à ditadura e, assim, dar alguma legitimidade ao Governo militar, explica a cientista política Maria Victória Benevides, em um artigo publicado em 1986 intitulado “Ai que saudade do MDB”. O objetivo era criar a imagem de que havia espaço na sociedade para posições contraditórias ao regime. O movimento era uma reunião de partidos que foram extintos pelo Ato Institucional número 2 (AI-2), especialmente o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), que tinha entre seus nomes o presidente deposto João Goulart e Leonel Brizola. Também reunia movimentos socialistas e progressistas. “Era uma oposição tolerada contra a ditadura, mas que fazia frente à repressão militar”, explica Benevides no artigo. Com o tempo, a legenda acabou se tornando um símbolo da resistência.
“Durante o Governo militar o bipartidarismo era obrigatório. E só era permitido um partido de oposição. Por isso, a sigla reuniu todas as tendências de oposição”, explica Lamounier. “O MDB, então, cresceu rapidamente e veio a ser percebido pelos eleitores, principalmente os mais pobres, como o partido que estava ao lado dos pobres e contra o Governo. Não é que tivesse uma política que favorecesse os pobres, porque ele não podia fazer nada de concreto, mas a sigla ganhou essa conotação e, com isso, se tornou eleitoralmente muito forte”, destaca ele.
Entre as bandeiras da legenda na época estavam, justamente, o combate à corrupção. Além da denúncia às violações de direitos humanos e o pedido de eleições diretas. “O MDB era mais do que um partido político. Era, mesmo, um movimento, uma bandeira de luta. E de oposição consentida se torna o partido da sociedade civil”, destacou Benevides em seu artigo de 1986.
No final dos anos 1970, o MDB participou ativamente das mobilizações dos movimentos sociais e populares. Especialmente das grandes greves dos metalúrgicos do ABC, que lançaram Luiz Inácio Lula da Silva à liderança política que décadas depois o levou à Presidência. Para marcar um ponto específico de diferença entre o MDB de antes e o de agora, vale ressaltar que o PMDB acaba de encabeçar uma polêmica reforma trabalhista, denunciada pelos sindicatos como um retrocesso aos direitos dos trabalhadores.
A lei 6767 de 1979, que reformou os partidos políticos ainda na ditadura, acabou por extinguir o MDB, assim como seu opositor (e apoiador dos militares) Arena. Nenhum partido mais poderia ter um formado de organização e, com isso, foi necessário adotar o “P” inicial, de “partido”. O PMDB foi, então, criado sob a presidência de Ulysses Guimarães, que defendia a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, com um programa feito por cientistas políticos como Fernando Henrique Cardoso (FHC). Aos poucos, foi perdendo seus apoios mais proeminentes, especialmente com a criação do PT (em 1980), que levou o apoio de grande parte dos movimentos sociais de esquerda. E, posteriormente, a do PSDB (em 1988), após um racha em que o PMDB acabou acusado de “clientelista e fisiologista” por FHC, então líder peemedebista no Senado.