Desidratação de Lira

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A última eleição à Presidência da Câmara dos Deputados, escancarou o poder que o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) exerce sobre os seus pares. O citado recebeu 464 votos, de um total de 513, em que precisava de 257 votos para se manter no comando da Casa.

Lira conseguiu um feito histórico: reuniu o apoio de um bloco formado por 21 partidos que somam 496 deputados. Isso é quase 100% de toda a Câmara. É um apoio histórico, o maior que se tem notícia para uma eleição do tipo. Só ficaram de fora o partido Novo, do candidato Van Hattem, e a Federação PSOL-Rede, que apoiou Chico Alencar (PSOL).

Todo esse apoio foi resultado de sua gestão anterior, focada no protagonismo do parlamento, da tomada de parte do orçamento, que tornou-se secreto em seu uso; enquadrou o Executivo, muito por conta da fragilidade política do ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, que reunia em torno de si 130 pedidos de impeachment, que tomavam as gavetas de Lira, e que tornaram-se moeda de troca do mesmo, ampliando o seu poder.

Em fevereiro deste ano, logo após a estrondosa votação do citado parlamentar de Alagoas, tratei da questão em tom presciente de que Lira teria a mesma força que tinha no biênio passado, todavia, ainda reuniria grande poder. Não se “desacostuma” o Centrão da noite para o dia, e nem se tira orçamento dos parlamentares com uma “canetada”, por exemplo. Lula sempre soube disso. Não por acaso, se aproximou do mesmo e nem quis se meter na eleição da Casa. O exemplo de Eduardo Cunha ainda vive no imaginário petista.

Porém, como previsto aqui, Arthur Lira em seu afã descontrolado de se tornar um primeiro-ministro, mesmo sem sermos um regime parlamentarista, começou a ser o seu maior erro. Sem Bolsonaro, o atual presidente da Câmara deixa de ter uma figura central e tão temida como antes.

Em tese, no regime presidencialista brasileiro, pautado pelo formato de coalizão, torna o Congresso Nacional muito forte, em especial quem comanda a Câmara dos Deputados. A questão é que, por circunstâncias mencionadas aqui e em outros artigos , acumulando poderes, ou melhor, superpoderes. Todavia, agora, como dito, vem perdendo espaço político. Em um curto espaço de tempo, sofreu três revezes sucessivos e importantes: não conseguiu emplacar a federação do PP, União Brasil e PL. Ainda viu surgir um bloco partidário que soma 142 parlamentares do MDB, PSD, Republicanos e Podemos. E por último, não menos importante, Lira perdeu a queda de braço que vinha travando com o Senado Federal em relação às Medidas Provisórias, que ainda queria sob o seu controle, infringindo, claramente, a Constituição Federal.

A questão agora é esperar o que fará Lira, que já percebeu que o seu império vem ruindo em doses homeopáticas e de forma exógena. Os ocupantes do terceiro andar do Palácio do Planalto comemoram.

Imagem: reprodução Internet. 

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