A campanha ao governo do Pará nesta eleição é, sem dúvida, a de mais baixo nível deste século. Não há infelizmente o que comemorar. Ambos os candidatos estiveram mais propensos ao ataque mútuo do que promoverem uma disputa de ideias, propostas e ações para tirar um dos entes federativos que mais gera riqueza ao país, do atual estado de penúria, que o faz ostentar um dos piores quadros sociais brasileiros.
Neste segundo turno o eleitor tem dois caminhos: o intitulado de “mudança” (jargão sempre utilizado por quem está na oposição), no caso especifico da disputa pelo Executivo paraense, o termo “Presente” é o mais usado pelo candidato Helder Barbalho, do MDB. O ex-ministro se apropriou do termo justamente por saber que o aparato estatal da máquina estadual no Pará é uma das mais concentradas do país. A narrativa “casou” com a realidade e ânsia da população, sobretudo, as mais afastadas da capital paraense, regiões que o governo parece fingir não existir, como, por exemplo, Parauapebas.
O viés de disputa pelo outro lado, representado pelo candidato do DEM, Márcio Miranda, foi o da vinculação do sobrenome Barbalho as mais variadas ilicitudes, em especial a Operação Lava jato, o que acabou por funcionar bem junto ao eleitorado (o que pode ser constatado nas medições dos índices de rejeição do ex-ministro). Sem ter muito o que mostrar ou defender (para isso teria que se desvincular totalmente de quem o indicou, neste caso o governador Simão Jatene), Miranda seguiu pelo caminho do ataque, o que foi também copiado por seu adversário.
O que se viu a partir dai foi o esvaziamento de propostas e ações, com a predominância da baixaria. Personagens como “Gordo do Aurá”, disputa de quem tem mais ou menos processos; quem tem mais condenações; avalanche de direitos de resposta; sucessivos pedidos de impugnação na Justiça Eleitoral, centrais de produção de Fake News, prisões de correligionários, etc. Assim transcorreu a campanha neste segundo turno.
Todas as promessas de Helder Barbalho serão realizadas? São muitas para um Estado com pouca sobra orçamentária. De fato, o governo conseguirá se fazer presente em um território continental igual ao Pará, o segundo maior do Brasil? Do outro lado, o que Miranda fará diferente se for eleito governador? O mesmo grupo que governa o Pará será mantido? Como fazer diferente como os mesmos operadores, ou, pelo menos, grande parte deles? E o trato com o território, em que os tucanos conseguiram promover o aumento das desigualdades regionais durante a sua dinastia, o que mudará? Manterá o grupo de Jatene distante, buscando formar uma gestão ao seu perfil? Ou ficará refém dos acordos que foram firmados pelo atual governador?
Quem vencer a eleição amanhã, 28, terá no ano que vem, um primeiro ano de gestão difícil. Senão houver uma forte política de austeridade das contas públicas, o ano seguinte, 2020, a falta de orçamento para investimentos pesará contra no cumprimento das promessas de campanha, especialmente do lado do candidato do MDB. Segundo informações no site da Secretaria de Planejamento (Seplan), a Lei Orçamentária Anual (LOA) 2019, em valores brutos, alcançará pouco mais de R$ 28 bilhões (bruto, sem desconto), na levantamento líquido, o montante chega a R$ 25,5 bilhões. Parece muito, mas é pouco, frente as demandas do Pará, até porque quase metade do valor total líquido já está comprometido para o pagamento folha do funcionalismo público, sem contar com outras despesas com comprometem mais os recursos do tesouro estadual.
Hoje (28), o futuro do Pará será decido pelos próximos quatro anos. Independente de quem vença, na prática, pouca coisa mudará a curto prazo, a realidade é dura e complexa. O resto é narrativa de campanha.