No início da tarde de uma quinta-feira (12) ensolarada, descia no Aeroporto João Correa da Rocha, em Marabá, dando início ao seu translado pelo referido município, com escala em Parauapebas, o presidenciável pelo PSL, Jair Bolsonaro. O pré-candidato discursou em trio-elétrico, visitou pontos estratégicos ao seu perfil militar (neste caso, em Marabá foi no 23º Brigada de Infantaria do Exército Brasileiro) e por fim jantar com pecuaristas e empresários locais.
Parauapebas recebeu o presidenciável no dia seguinte, nesta última sexta-feira (13). A estada na “capital do minério” foi mais curta do que a do dia anterior, em Marabá. Iniciou na portaria de acesso à Floresta Nacional de Carajás (incluído discurso em cima de trio-elétrico) e depois encontro com simpatizantes e um espaço de entretenimento particular. A chegada de Jair em Parauapebas era esperada com grande expectativa por seus seguidores. Os grupos que estiveram à frente da organização divulgaram o evento com a esperança de ter um considerável número de apoiadores, o que na prática não aconteceu. Para o baixo número de apoiadores, as justificavas foram bem variadas: por ser um dia de trabalho; por ser julho, mês de férias, o que esvazia naturalmente a cidade, além das mais criativas réplicas ao questionamento.
Na verdade, o que há é o conhecimento prático de uma relação evidente (agora comprovado in situ): a diferença entre o mundo virtual e o real, ou seja, o que se declara apoiador em rede social não se reflete como um número real (e talvez o virtual nem exista, possa ser, por exemplo, um robô).
Em ambos os municípios, o presidenciável estava à vontade. Fez o seu discurso de perfil mais radical, jogou literalmente “para a galera” frases de efeito, com claro objetivo de empolgar quem o assistia. Atacou os Trabalhadores Rurais Sem Terra; prometeu, caso seja eleito presidente, que qualquer cidadão que queira, terá uma arma para a sua defesa pessoal. Afirmou que os “sem-terra é que deveriam estar presos, e não os policiais militares”. Tal declaração já virou uma polêmica nacional, haja vista, que o fato ocorrido na Curva do “S” é de conhecimento mundial e continua – mesmo 22 anos depois – sendo um “divisor de águas” no que diz respeito ao trato da questão agrária e a segurança pública.
Jair foi Bolsonaro no seu nível máximo em sua passagem por Carajás. Fez o discurso apropriado para o perfil de público que o assistia e o apoia. O deputado carioca aprendeu a separar a sua apresentação como a de um político profissional: produzir conteúdo direcionado ao local e aos presentes. Bolsonaro já vem apresentando – em nível nacional – um perfil, uma forma de apresentação mais amena, justamente como tática eleitoral, buscando votos do eleitor mais ao centro, menos radical ou de um nicho específico (haja vista que lidera as pesquisas sem a presença de Lula, mas não consegue mais subir nas projeções eleitorais, dando a entender que o seu teto está próximo ou foi atingido, por isso, precisa ser ampliado para lhe garantir no segundo turno).
Está claro que o presidenciável do PSL deverá ter dois perfis daqui em diante: um menos radical, mais policiado, direcionado quando estiver em programas de TV, eventos nacionais e participações com outros concorrentes ao Palácio do Planalto; e outro, mais radical, em eventos mais fechados, mais direcionados à sua candidatura, com o monopólio da fala, sem questionamentos.
Em Carajás, em menos de 48 horas, Jair foi o que é em sua essência: Bolsonaro, uma caricatura que tomou forma, e que hoje representa um considerável eleitorado espalhado pelo Brasil. A representação real do desencanto com a política, e a esperança de resolver os problemas do país com frases de efeito e com conhecimento raso, são os principais fatores que o alimentam e o mantém com chances reais de estada no segundo turno.
Imagem: Correio de Carajás.