Enem: balbúrdia institucional

O então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, em suas aparições públicas sempre deixou claro que discordava do conteúdo abordado nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, se fosse eleito, iria interferir na prova. Bolsonaro venceu e em suas primeiras lives afirmou que teria acesso as questões, o que gerou à época grande reboliço.

Sob a gestão de Bolsonaro, o Enem vem perdendo inscritos, 3,1 milhões confirmaram a inscrição no Enem 2021, o menor número desde 2005. A forma como o governo vem tratando essa importante ferramenta de acesso ao ensino acadêmico, cria insegurança e aumenta o desinteresse. No ano passado, a prova foi realizada em meio a pandemia, em data em que a maioria dos candidatos – via enquete proposta pelo próprio Ministério da Educação (MEC) – não havia escolhido. Nunca houve a preocupação com os estudantes impactados pela pandemia, pela ausência de aulas, por exemplo.

Atualmente estamos no quarto ministro da pasta. Como esquecer o “furacão” Abraham Weintraub, que promoveu verdadeira “caça às bruxas” enquanto esteve no comando do MEC. Foi dele o termo “balbúrdia”, em que fazia referência ao papel atualmente das universidades federais. Elas, segundo ele: “fabricam drogas e cultivam maconha”.

E o que dizer de Ricardo Vélez Rodríguez que o antecedeu, mas que não ficou no cargo nem quatro meses? O atual Milton Ribeiro se mostra totalmente alinhado à base ideológica do bolsonarismo, o fazendo produzir narrativas como: “crianças com deficiência de impossível convivência” ou “as universidades deveriam ser para poucos”, só para citar dois exemplos.

Parece que a promessa de campanha de Jair Bolsonaro vai se tornando realidade. Na semana passada, trinta e sete servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia responsável pelo exame pediram demissão a poucos dias da prova, mas, Danilo Dupas, presidente do órgão, garantiu a sua realização. A debandada foi sob justificativa de total ingerência sobre a prova, com a solicitação de retirada de duas dezenas de questões já prontas, e orientações sobre abordagens no exame.

Na prática, o governo quer decidir o que pode ou não ser cobrado nas provas, em especial, nas questões de Humanas, que compreende as disciplinas de Geografia, História, Sociologia e Filosofia. Esse é o cerco principal que vem da ala ideológica do Palácio do Planalto. Sobre o grave fato, o presidente Jair Bolsonaro afirmou: “questões do Enem começam agora a ter a cara do governo”. As perguntas que ficam são: qual cara? Por que precisa ter a “cara” do governo?

O MEC virou um ministério cuja gestão está perdida em pautas menores, em vez de utilizar seu corpo técnico de qualidade em prol de apoio aos estados e municípios na pandemia. Ribeiro está reacendendo pautas ideológicas para ganhar apoio da militância bolsonarista e garantir que ficará no cargo até o ano que vem.

Na prática, essa interferência do governo no Enem só gera instabilidades, dúvidas e mexe com o psicológico dos candidatos que já vivem sob pressão. Quem promove balbúrdia é o próprio governo com a sua distopia aliada à incompetência gerencial.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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