O ministro da Economia Paulo Guedes está morto politicamente. Tal tese já vem sendo debatida por este Blog há meses em diversos artigos. Primeiro, o referido auxiliar já havia sido jogado “aos leões” por ocasião da reforma da Previdência, quando o governo sem articulação política, deixou o ministro em questão desprotegido em relação ao grupo de oposição ao Palácio do Planalto.
Antes de ir à audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) para debater a reforma previdenciária, Paulo Guedes já demonstrava insatisfação contra o próprio governo, da falta de apoio do Palácio do Planalto. Ele sinalizou que pode até mesmo deixar o cargo caso suas propostas fossem derrotadas. O ministro disse que, caso não haja entusiasmo com seus projetos, não irá “obstaculizar” o trabalho do presidente e do Congresso.
Tal exemplo ilustra bem como estava àquela altura a relação de Guedes com o próprio governo e como os projetos (liberais) já criavam incompatibilidade com as pretensões políticas do presidente Jair Bolsonaro. E o pior cenário que o ministro poderia imaginar e que iria minar de vez as suas pretensões, viriam nas semanas seguintes. A pandemia do novo coronavírus chegava ao Brasil. Por mais que o presidente não quisesse, o comércio parou e a economia começou a travar. Sem o setor privado funcionando como deveria, com o comércio fechado, coube ao governo assumir a responsabilidade (a contragosto do ministro) de financiar empresas e pessoas neste momento de crise.
As finanças públicas e a política de austeridade fiscal sucumbiram naquele momento de calamidade pública, o que faz cair por terra discursos neoliberais. Nessas circunstâncias, não cabe ao Estado economizar, e sim gastar. Guedes se isolou (antes de ser isolado) politicamente nesta crise. E tal atitude se justifica por não concordar com as medidas tomadas pelo governo e também as decisões do Congresso Nacional. Não esqueçamos que o ministro da Economia, propôs auxilio aos trabalhadores informais na ordem de R$ 200. Os parlamentares triplicaram (após o Palácio do Planalto ter subido o valor para 500 reais), fazendo chegar a R$ 600.
Guedes está mudo e impossibilitado de agir. O orçamento de Guerra foi aprovado há meses, e autorizou o governo gastar (recurso direcionado ao combate ao coronavírus) além do que estava planejado, acima da meta. Está evidente, por recomendações, que o presidente Jair Bolsonaro abandonou as políticas neoliberais. Isso não só porque elas são impraticáveis para o momento, mas por uma questão de sobrevivência política. Bolsonaro vinha perdendo apoio. Precisa reverter tal cenário, e só conseguirá isso com ações que fizessem o seu governo atender as demandas; ter – por exemplo – uma agenda social, fazer o Estado ser o instrumento de investimento, e não mais o mercado, como queria Guedes.
Não obstante, ocorreu uma debandada dos principais auxiliares do Ministério da Economia. Os que ocupavam cargos estratégicos como os de privatização e de desburocratização. Ambos pediram demissão. Por que? Justamente por não conseguir ditar um ritmo de trabalho minimamente aceitável em uma pasta que perdeu força dentro do governo.
Conforme escrito em julho por este Blog, o governo “troca de pele”. A narrativa do ministro da Economia neste momento segue sem ressonância. Não encontra apoio. Por isso, o seu isolamento. Até quando ele aguentará? Com o Estado agora de perfil keynesiano, um neoliberal fica sem discurso.